Bela surpresa esse filme, deve ser o melhor que vi da carreira do Tom Tykwer, se bem que isso não quer dizer muita coisa (Perfume não vi e os outros acho apenas bons). Ajuda que nessa época de thrillers com mal de Parkinson um estilo mais sóbrio, com a câmera fluente e charmosa, se destaque e dê aquela impressão de estar vendo algo mais clássico e que é possível passar tensão e várias outras emoções sem que se precise picotar demais as cenas e mexer demasiadamente a câmera. Outro aspecto muito sedutor é o cuidado que a arquitetura dos espaços adquire, como a trama se mistura com a paisagem e os lugares (muito bem escolhidos). Isso remete ao Intriga Internacional que claramente foi uma das inspirações (e o estilo de filmar do Hitchcock também permeia as escolhas de Tykwer). Ótima criação de um vilão, no caso o hitman da perna mecânica, ainda mais que ele não é exatamente um vilão, mas um ótimo profissional. O casal protagonista, Clive Owen e Naomi Watts, tem boa química sem precisar desenvolver uma ligação romântica. A trama, madura e consistente, tem um ótimo subtexto falando do envolvimento de grandes bancos nas mais diversas guerras pelo mundo, o que dá ao filme uma atualidade e uma força a mais, algo para reflexão que o filme estrutura muito bem em diversos pequenos detalhes, não usando tudo como mera estorinha. A sequência no Guggenheim é a mais comentada, que é espetacular, mas está em sintonia com todo o resto do filme, sem parecer uma ótima cena isolada do resto. O prazer dado pelo filme foi tanto que cheguei a copiá-lo para rever depois (e o dvd conta com comentários em áudio legendados), o que poucos filmes hoje em dia conseguem esse efeito em mim.
O grande show que nunca foi. Gostei da forma com que não se explora qualquer lado sentimental ou escandaloso da vida pessoal de Michael, com algum depoimento ou cenas de bastidores, tanto que o filme nem fala de sua morte, nem mesmo no final.
Uma Prova De Amor (My Sister’s Keeper)
Um filme bem emocional sem precisar apelar para isso e que conta com uma ótima estrutura narrativa, montando através dos sentimentos e não pela ordem cronológica, as cenas seguem a emoção e não o sentido. Com isso todos os personagens adquirem contornos palpáveis pois adentramos cada um por dentro. Mesmo quem não tem essa chance (a juíza, por exemplo) o diretor dá oportunidade para que se expresse muito com pouquíssimos diálogos, deixando o tempo e a imagem (e claro, a interpretação) preencherem o que falta. Abigail Breslin vai se mostrando uma bela atriz mirim e a desconhecida Sofia Vassilieva impressiona pela total falta de vaidade que o papel exige.
Montanha De Abandono (Treeless Mountain)
A câmera segue bem de perto as duas crianças, e principalmente se encanta pela maior que tem uma força imagética que conquista qualquer espectador, numa narrativa que lembra Ninguém Pode Saber, com crianças abandonadas se virando sozinhas. O estilo documental é tão bem utilizado que cabe perfeitamente em seu não-final.
A Caçada (Stranger On The Run)
Don Siegel em parceria com Henry Fonda num filme de caçada, onde por um motivo quase sem sentido (por que ele vai procurar a mulher é tênue demais, e sua morte idem) um xerife passa a perseguir um quase andarilho. Michael Parks fez de seu papel quase que o símbolo maior de sua carreira, sempre voltando ao mesmo estilo até hoje.
Te Amarei Para Sempre (The Time Traveler’s Wife)
Um romance que lembra Ghost (o roteirista é o mesmo), melhor, mas ainda com aquela noção egoísta de amor onde a mulher tem que esperar, esperar, esperar... Rachel McAdams absolutamente apaixonante, tanto que até dói. Como o roteirista também fez Minha Vida ele parece gostar de dar um fim ao seus protagonistas homens, que sempre partem. A trama, provavelmente, não faz o menor sentido se analisada seriamente, mas engana enquanto vemos.
O Desinformante (The Informant)
Matt Damon está ótimo na pele do personagem. Ele não coloca nele (e nem o filme) traços que indiquem uma justificativa pelas sua atitudes. Somos levados pelo seu jeito bonachão e poucas vezes sabemos quando ele fala verdade ou mentira. Soderbergh também evita isso, somente em poucas situações sabemos de antemão quando ele mente, deixando tudo como uma grande farsa, como o cinema é, e isso ele já brincava em outros filmes anteriores (pra mim a melhor delas é em Ocean's Twelve).
Atividade Paranormal (Paranormal Activity)
Menos assutador do que parece, mas eficiente à seu modo.