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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, maio 25, 2002
ENCONTROS E DESENCONTROS (WONDERLAND)

Que filme triste. Contando a história de 3 irmãs, Michael Winterbottom consegue mostrar uma tristeza bem urbana. Pelo fato de ter filmado em 16mm e com iluminação natural ou disponível no local as imagens tem um aspecto cru, bem de acordo com a realidade dos personagens, há uma tristeza até nas imagens. Seja uma mãe divorciada com um filho pequeno que mesmo assim sai para as noitadas ou uma garçonete que marca encontros por anúncios numa agência de "corações solitários" ou uma que está prestes a se casar e ter um bebê, todas passam pela solidão. Essa solidão e tristeza passa para outros personagens, vemos os pais das irmãs que apenas se suportam num casamento que aprisiona; vemos um jovem negro preso em seu mundo particular, um estranho na própria casa com a mãe e a irmã; o filho da mãe divorciada e o pai dele que o vê de vez em quando, sozinhos mesmo juntos; e o jovem que está num emprego que odeia e a namorada está para ter um filho. Todos os personagens passam pela tristeza e solidão. Winterbottom capta muito bem o constrangimento das pessoas, entre pais e filhos, entre companheiros, em encontros marcados... os diálogos truncados, os silêncios e risos nervosos. Uma das sequências mostrando a volta da garçonete para casa de ônibus após transar com um cara de um dos encontros é de uma tristeza enorme, desde o momento pós-sexo. Essa tristeza é permanente em todos os personagens em algum ponto da narrativa (exceto no único irmão das irmãs que desenvolve uma narrativa paralela, que saiu de casa e parece ser o único que tem um pouco de felicidade, mesmo que a tristeza de não estar perto da família o aperte também), contrastando com o título original, o país das maravilhas (se há um enfoque nos personagens o filme também parece querer falar de Londres ou até da Inglaterra como um todo, seria o bebê que nasce ao final, Alice, um sinal para esperanças ou para um destino já traçado de tristeza?). O final também tem um pouco de esperança e tem um naturalismo tocante num simples tropeçar num buraco de rua.

Boa trilha com canções do Pulp, James, Faithless, Dusty Springfield e outros.

Terceiro filme que vejo de Winterbottom (Riqueza Perdida, Desejo Você) e ele tem mostrado uma preocupação em como narrar visualmente uma história que tira seus filmes de ser mais um entre muitos. Como tenho Jude gravado fiquei com vontade de ver mais filmes dele.

Entrevista com Winterbottom sobre o filme,
aqui.



posted by RENATO DOHO 1:31 AM
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