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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, junho 07, 2002
O QUARTO DO PÂNICO

Tenso, eis um filme tenso. Fora esse fato temos um filme que se equilibra em coisas boas e ruins.

O roteiro é o ponto fraco, essa história de gato e rato num local fechado já vimos e não há uma idéia nova nesse sentido (Trespass de Walter Hill, Sob O Domínio Do Medo de Sam Peckinpah como exemplos). O que o filme oferece para compensar? Jodie Foster, como sempre ótima dando força ao personagem (imagino se fosse a Nicole Kidman, primeira escolha, como o filme seria completamente diferente, melhor? não sei).

Diziam que o filme era um malabarismo de câmera só. Bom, só no início, logo depois tudo se concentra na história e não vemos mais essas pirotecnias. Decepciona por esse lado, já tinha imaginado mil planos mirabolantes dentro daquela casa e só encontrei uns planos contidos de Fincher, que queria ter uma câmera invisível atravessando as paredes, ficou no meio do caminho então, podia pirar e alucinar naquele cenário, resolveu contar uma história apenas. E se a história não é grande coisa o filme perde.

SPOILERS

Há uns 3 bons momentos de tensão, onde a vontade maior é pedir que o filme acabe logo para nos livrarmos daquela angústia, bom sinal. O filme também tem bom humor, estranho vindo de Fincher.

A opção de eliminar um dos vilões no meio do filme pode ter sido uma surpresa, mas atrapalhou a narrativa. Antes tínhamos o vilão histérico, o malvado e o que tem alguma consciência (que você sabe que esse fator irá ajudar os protagonistas em algum momento da trama). O histério é o elemento surpresa, que pode fazer coisas sem pensar, como ele é morto só nos resta o dualismo do bom e do mal ladrão e as coisas perdem toda a graça, já sabemos como isso vai caminhar.

O bom é que todas as cenas do trailer fazem parte do início do filme, por isso pouco sabemos o que ocorre com todo o resto.

Na cena que o vizinho é acordado pela luz da laterna esse vizinho é Andrew Kevin Walker, roteirista de Se7en. Essa cena também repete um plano de Hitchcock em Frenesi.

Dwight Yoakam (como a Bridget Fonda pode estar namorando essa "coisa"?) consegue ser odiável, ainda mais usando a máscara em boa parte do filme.

Jodie e Kristen Stewart (talvez tenha futuro, parece uma Jodie jovem, com um jeito mais másculo do que uma simples garotinha) atuam boa parte do filme num cubículo e se sustentam bem ali, poderia ser um desastre se a atriz jovem não estivesse à altura de Jodie.

Conforme o filme vai passando esquecemos da câmera e talvez aí esteja um ponto forte do filme que é disfarçar planos bem complicados de serem realizados sem chamar atenção para isso (ao contrário do início com a câmera passando por uma asa de um bule, não se sabe exatamente pra quê). Lugares apertados são complicadíssimos para movimentos de câmera e iluminação. A presença de Forest Whitaker dificulta ainda mais por ter a pele negra e Fincher não iluminar muito as cenas. Planos na altura do chão também complicam muito as coisas. Creio que vale a pena, apenas para os interessados, rever o filme sem prestar atenção na história, mas na decupagem e na realização de planos e iluminação, é um bom aprendizado. Seria também a mudança de atitude da câmera diante do filme (no começo exibido e depois invisível) um reflexo da mudança de diretor de fotografia que ocorreu durante as filmagens?

Sobre os temas do filme pode-se pensar numa questão interessante, apontada numa revista alemã:

"a metaphor for the "settlement" of america, with Foster and her daughter beeing the settlers (evidence: their movers company is named "mayflower" as he claims you can read on their boxes), the panic room beeing a fort and the "old treasure" in the the floor or "ground" of the room beeing a metaphor for "treasures of the soil" or "mineral resources" of the country or something like that, with the invaders who try to kill the "white women" claiming "ancient rights" on those treasures/resources..."

A questão da companhia de mudança (Mayflower) é bem sinalizada no filme e fiquei pensando no que poderia significar. Fora a escolha dos vilões, de etnias diferentes e uma questão de herança no meio, não um mero roubo.

O final não é surpresa, é previsível. Só não entendi por quê não acabar no close de Jodie, mas estender para uma cena no exterior com mãe e filha conversando no parque. Não há informação nenhuma ali para justificar a cena (elas estão procurando outro lugar, coisa meio óbvia) fora o jogo de lentes que joga com a perspectiva e distância.

Enfim, creio que o filme vale ser visto e analisado, mas fica um gosto de decepção pela escolha de um roteiro fraco e um trabalho de direção mais arrojado.



posted by RENATO DOHO 8:53 PM
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