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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quinta-feira, outubro 09, 2003
Rapidinhas

Uma atualizada ligeira no que vi no festival:

Aos Treze (Thirteen)

Uma sessão da tarde que tenta se passar como um Christiane F. dos anos 2000, mas não tem a força para isso. É baseado nas experiências reais da atriz coadjuvante do filme, ela só não fez a protagonista por não ter experiência e também por já não ter uma cara angelical necessária. Nesse quesito a escolha de Evan Rachel Wood (conhecida pelo seriado Once Again) é boa, ela passa a inocência exigida que vai sendo desmoronada aos poucos, além disso é bonita, talvez sua primeira interpretação de peso na carreira. O problema é que as dificuldades da protagonista não são muito pesadas, são até banais atualmente. Drogas leves aqui e ali, sexo promíscuo (ohhh), pequenos furtos, tráfico leve, um leve beijo lésbico, etcs. Nada para tamanho desespero da mãe (Holly Hunter). Com isso os dramas da família ficam parecendo mais leves que de novelas, perdendo muito qualquer força que teria inicialmente. Mesmo assim não é ruim, só é normal demais (a fotografia é bem colorida, cheio de filtros).

Auto Focus (Idem)

Bom filme de Paul Schrader falando da vida do ator Bob Crane (que fez a série de tv Guerra, Sombra E Água Fresca) do sucesso ao fracassso, muito devido ao sexo, ao qual ele era plenamente viciado. É um conto moral (como não devia deixar de ser num filme de Schrader) bem interpretado por Greg Kinnear. Willem Dafoe também está bem como o amigo tarado que o vai levar ao mundo da "perdição" do sexo desenfreado. Não sabia do final do filme, é um mistério intrigante o que ocorre com Crane. Pra se pensar.

Geração Roubada (Rabbit Proof Fence)

Filme independente e "autoral" de Philip Noyce, diretor de cinemão por excelência (Jogos Patrióticos, Sliver). Conta a história real dos mestiços aborígenes da Austrália que sofrem com as diretrizes do governo de assimilação dos mestiços na cultura branca. Para isso os filhos mestiços eram retirados de suas famílias para morarem em campos de treinamento (comandado por freiras) até ficarem "aceitáveis" para a sociedade branca australiana. Kenneth Branagh faz o encarregado desse projeto. A trama se centra em três garotas que fogem do campo de treinamento e têm que andar por quase toda Austrália para voltar para casa. É um filme de jornada e de fuga. As interpretações das garotas são boas, ainda mais que são amadoras. O filme é especialmente tocante ao mostrar as verdadeiras fugitivas ao final, falando o que aconteceu com cada uma e alguns dados históricos. Fica marcado o fato negro na história australiana.

Prova De Amor (All The Real Girls)

Filme independente de um jovem diretor (28 anos). Há quem possa apontar os defeitos típicos dos filmes independentes americanos, mas as qualidades superam isso. A grande qualidade é a interpretação de Zooey Deschanel, ainda pouco conhecida (em Quase Famosos fez a irmã do protagonista) e com sua melhor performance. Ficamos realmente apaixonados por ela e assim entramos bem mais na história, acreditamos no homem que se apaixona por ela. Ela é a força maior do filme, fazendo uma jovem que volta para a cidade natal (após ter estudado num internato de meninas) e se começa a se relacionar com o melhor amigo do irmão. Só que o irmão não gosta nada disso pois conhece o passado do amigo, que ficou com quase todas da cidade e magoou cada uma delas. Esse relacionamento que vai ser mostrado durante o filme que começa um pouco com Twin Peaks (aquele cenário de cidade de interior americana, os personagens típicos). Há um virada interessante na parte final com uma atitude da mulher e o fim mesmo é bem aberto, com boa conclusão, sem apontar muitas direções do que vai acontecer com cada personagem, mas sim vidas que continuarão. O defeito mais evidente é a escolha do ator principal, Paul Schneider, que é inexpressivo (não sei de escolha deliberada do diretor) e não passa a imagem de alguém que tenha ficado com quase toda cidade e tenha fama de filha da puta. Ele é o co-roteirista do filme, junto com o diretor.

O diretor está finalizando um filme com Drew Barrymore. Se ele fizer com ela o que fez com a Zooey podemos esperar uma grande interpretação.

Elefante (Elephant)

Mais um ótimo filme de Van Sant na fase pós Gerry (que continua superior). A forma é a coisa mais importante aqui, as caminhadas dos protagonistas, os pulos do tempo e retomadas, as entrecruzilhadas das narrativas... A história mesmo é quase nada, são alguns momentos anteriores no cotidiano de uma escola secundária até o momento de um massacre (baseado em Columbine). A recepção do público é ruim dos dois lados: os que não gostam acham o filme parado e sem nada pra falar; os que gostam acham a parte do massacre "legal". Uma parte que achei problemática é a caracterização dos assassinos. Achei que Van Sant iam jogar com isso com o público, reverter percepções, mas não, são eles mesmo o tempo todo, são os que têm jogos de um person shooter, que assistem algo nazista na tv, que são os rejeitados da escola, que compram armas pela internet, que tocam Beethoven ao piano, que se beijam no banheiro (pela primeira vez, isto é, são virgens)... Fora isso um ótimo filme, com uma fluência poderosa.

American Splendor (Idem)

Filme bem legal que conta a história real (com intervenções do personagem real durante o filme) de um escritor de quadrinhos, contemporâneo de Crumb (que ilustrou várias de suas histórias). Aqui Paul Giamatti tem uma grande interpretação, auxiliada por uma feiosa (de propósito) Hope Davis. A direção (de uma dupla) tenta passar um clima de quadrinhos, mas não foge do convencional. Os fatos reais são muito engraçados ainda mais para quem não conhecia o retratado (como eu), a participação no Letterman por exemplo. Mais um filme que mostra como a arte da própria vida se confunde entre realidade e ficção, isto é, quando um artista é reconhecido por se mostrar por inteiro em sua arte cheag um momento que ele não sabe mais se o que ele faz é arte ou dizem que é arte o que ele faz, se ele vive sua vida para transformar em arte ou ele virou um personagem de si próprio? Não, o filme não chega a ir a fundo nesses temas, mas aborda um pouco.

Interstella 555

Anime que é a continuação do clipe de Daft Punk para One More Time. Toca o cd inteiro da dupla enquanto se conta a história toda iniciada no clipe, sem diálogos, só imagens. Curto (70 minutos), mas muito interessante. Um grande clipão do Daft Punk com imagens de anime e uma história de resgate.

The Brown Bunny

Então, é isso. Como ficamos? Sessão quase lotada e pra quê? Óbvio! Pra ver a tal cena polêmica! Ela aparece? Sim. É explícita? Sim. E fora isso? Bem, aí é que a coisa complica. O filme é bem bom sem ter quase nada de história ou qualquer outra coisa. Vincent Gallo consegue criar clima, belos momentos e posicionar bem a câmera, com ângulos diferentes e íntimos, mas são quase 90 minutos onde quase nada acontece a não ser ele dirigindo pelas estradas dos EUA. Temos até dois "clipes" no filme: a estrada sendo filmada e duas canções tocando inteiras em momentos distintos do filme. Ou ele no banheiro (algumas vezes) molhando o rosto e enxugando bem vagarosamente. A história mesmo (e a cena polêmica) se concentra nos 12 minutos finais mais ou menos. Com isso muita gente ficou puta com o filme (o que é ótimo, para acabar com esse hype besta em cima do filme). Para quem gostou do filme anterior de Gallo, o ótimo Buffalo 66 vai gostar também deste. Fica a pergunta se Gallo pôs a cena explícita apenas para chamar atenção (para o filme ou para o próprio pau) já que ela não é necessária para o filme. O ego do diretor (fora querer mostrar o pau) fica um pouco em evidência nos créditos: escrito, editado, fotografado, produzido e dirigido (fora operador de câmera). Putz! Mas também se não houvesse a cena explícita o filme (que já não é bem falado por aí, mas foi visto) seria visto por uns 100 espectadores no mundo inteiro, talvez, quem sabe? Com a tal cena muita gente viu e verá, mesmo que saía amaldiçoando o diretor no final. A decisão de fazer a cena por Chloë Sevigny é polêmica, a menos que seja ou foi namorada de Gallo fica difícil saber porque se sujeitaria a isso para uma cena que claramente não era essencial e parece ser feita muito para o prazer do diretor / ator... Ou uma grande (mas grande mesmo) amizade com Gallo. De resto, ela dá a cena um toque bem sexual, mais do que ela naturalmente é.

Em Cannes o filme passou com 112 minutos, aqui 90 minutos. O que será que foi cortado?

Já no cinemão...

Abaixo O Amor (Down With Love)

Divertida comédia romântica tentando reprozudir o clima das antigas comédias românticas da década de 50. Soluções engraçadas para diálogos, cenários e situações. Renée Zellweger e Ewan McGregor estão bem, mas é mais crível ela ter se apaixonado por ele do que ao contrário, não há muita química entre os dois protagonistas o que afeta um pouco o filme.

Uma Saída De Mestre (The Italian Job)

Ótimo filme de ação feita à moda antiga, com trama de roubo, perseguições e ação. Ed Norton parece estar reprisando o papel que fez em A Cartada Final, ele está no automático. Mark Walhberg tá aquela coisa de sempre. Mas isso não importa, F. Gary Gray tem ritmo para a coisa e mostra Charlize Theron em uma de suas belas participações na tela. Uma reviravolta (como isso está ficando comum nos filmes, não?) é interessante na parte final porque até aquele momento o público e o bando estavam na mesam situação, sabendo passo a passo o que iria acontecer, aí de repente o público fica atrás e somos conduzidos por onde o bando quiser que o público vá, ficamos perdidos como o personagem de Ed Norton. Fora tudo isso não vamos ver aqui nenhuma grande novidade na trama ou nas cenas de ação (sem truquezinhos novos), mas o filme nos envolve tanto que esquecemos disso.


posted by RENATO DOHO 2:19 AM
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