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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, janeiro 10, 2004
O Homem Do Ano

Vai entender! O filme de estréia de José Henrique Fonseca foi tão massacrado quando estreou nas telas que nem tive grande vontade de assistir e agora quando decidi assistir em dvd me deparei com um ótimo filme, mesmo que cheio de falhas. E ainda tinha a má impressão do curta do Zé Henrique, Cachorro, no longa Traição.

Se me pedissem explicação do por quê ter gostado não saberia apontar exatamente os elementos, mas acho que foram pequenas coisas logo no começo como os coadjuvantes. Wagner Moura já agrada de imediato fazendo uma ótima cena e isso vai levando de coadjuvantes em coadjuvantes ajudados por diálogos e situações engraçadas. Fica óbvio que a estética do filme é por demais artificial em cenários iluminados como se fossem para comerciais ou enquadramentos extremamente planejados, mas por um estranho fator (ou um bom humor presente no dia) achei que cabia no filme, era como o cabelo loiro de Máiquel, artificial e quase ridículo, mas inusitamente adequado. Nunca os cenários soavam artificiais como Orfeu do Diegues que jogavam contra o filme, tudo em O Homem Do Ano parece familiar e natural, mas exagerado para destacar (o que combina com o personagem principal com seu cabelo loiro).

Os atores principais Murilo Benício e Cláudia Abreu estão bem, Cláudia com um leve jeito de suburbana na fala e o jeito pensativo de Murilo; mas os coadjuvantes que conquistam pelas escolhas diferentes e boas. Ora, ver Paulinho Moska cheirando toda hora, André Gonçalves fazendo parte do bando e Agildo Ribeiro como um dos mandantes de Máiquel não deixa de ser curioso e surpreendente por convencerem (em poucos instantes esqueci que eram essas figuras conhecidas e embarquei em seus personagens). Quase todo o elenco está bem: Natália Lage (ótima), Jorge Dória, Lázaro Ramos (sempre criativo), José Wilker, Mariana Ximenes (podia ter mais cenas sexys dela pra complicar algo), Carlo Mossy, André Barros (que eu sempre lembro do clipe Resposta do Skank), Paulo César Pereio (que é um clássico) e até José Henrique Fonseca como um traficante de armas latino.

Como fã do Rubem Fonseca vi aqui e ali seu estilo para diálogos (não sei o quanto de seu roteiro aparece no filme pronto). Os absurdos que os personagens de Jorge Dória e Paulo César Pereio falam são muito engraçados. Li o livro de Patrícia Melo há tempos e sinceramente em nenhum momento lembrei da trama quando via o filme. Ou mudaram muito ou minha memória está ruim mesmo, pois o que mais lembro era o tom sério do livro com muita pesquisa desse submundo dos matadores, coisa que passa ao longe no filme que mais parece uma aventura com muito humor (com a parte final mais dramática e fraca).

O que escrevi em 1999 quando li o livro no site da Livraria Cultura:

Para quem achava que Patricia Melo seria um sub-Rubem Fonseca o livro descarta esta possibilidade. Melo tem características próprias e sabe narrar em primeira pessoa um personagem masculino sem ficar falso. É claro que a autora tem uma influência direta do mestre Rubem Fonseca, mas não se tornou uma cópia e nem tenta ser uma discípula. De posse de intensa pesquisa sobre o mundo criminal, presídios e matadores Melo coloca tudo a serviço do texto e não ao contrário, nunca ficando didático. Uma boa leitura, uma boa iniciação ao universo da autora e uma expectativa por outros livros.

A trilha de Dado Villa Lobos é um bom destaque.

Se a parte final é a mais problemática (por perder o humor e querer só nesse momento se levar a sério) fica a impressão de um ótimo filme, cheio de momentos bons (e engraçados que me fizeram gargalhar como o "oh, valeu" dito por um brutamontes no carro e Pereio falando do casamento) com problemas de direção para definir melhor o filme e seus personagens e usando a estética em seu favor (mesmo que eu ache que não é tão errada assim a forma usada poderia-se ter potencializado certas coisas e não só enfeitado). No final, o filme se revelou uma boa surpresa.


posted by RENATO DOHO 3:41 AM
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