sexta-feira, fevereiro 27, 2004
Pânico Na Floresta (Wrong Turn)
Terror atual que tem Eliza Dushku liderando o elenco. Se por um lado não é mais um terror teen que ficou comum dos anos 90 pra cá também não chega a se destacar demais do que já foi feito antes. É um filme que explora mais as situações típicas dos terrores da década de 70. É um filme auto consciente, que sabe que está repisando em território já explorado (incluindo referências e brincadeiras com Amargo Pesadelo como uma fala ou o uso do arco e flecha). O ritmo imprimido é bom, que esconde quaisquer falhas que o roteiro possa ter. No final é uma boa diversão.
My Life Without Me
Produção executiva de Pedro Almodóvar de um filme da diretora Isabel Coixet. É um bonito drama sobre uma jovem mãe (Sarah Polley) que descobre um tumor e tem apenas algumas semanas de vida. Uma trama bem "doença da semana" mas que evita isso ao não apresentar muito as dores da chegada da morte e se concentrar mais no que ela tem que fazer no pouco tempo que lhe resta. Ela faz uma lista e tenta cumprir. O carisma de Polley é tamanho (numa sensível interpretação) que aceitamos muito bem até seu caso extra conjugal (mesmo ela tendo um ótimo marido) e entendemos suas atitudes para com os outros. Como ela não revela seu trágico destino para ninguém não há o dramalhão da recepção de uma notícia ruim. Os coadjuvantes estão bem como Scott Speedman (o marido), Deborah Harry (a mãe), Mark Ruffalo (o amante), Leonor Watling (a vizinha), Amanda Plummer (a amiga de trabalho) e as crianças que fazem suas filhas (há até uma participação especial legal que não revelo aqui que faz o pai dela). Maria de Medeiros aparece brevemente como a cabelereira, pena que seu personagem não é mais explorado. Até o ator que faz o médico tem uma participação importante e isso nos faz ver que o filme delineia bem os outros dramas e não gira apenas em volta do personagem principal, isto é, não é apenas o seu drama que importa, mas as vidas que fazem parte de seu cotidiano (pois grande parte de sua lista consiste de coisas altruístas). Pelo trailer havia a indicação de ter uma cena chave que usaria a canção Senza Fine, mas no filme a seqüência é bem feita, mas curta, poderia ser extendida e para ser melhor lembrada. É um filme para que nos apaixonemos por Sarah Polley que carrega o filme nas costas. Pode-se reclamar que há um excesso de pureza em certos personagens (como o marido, praticamente sem falhas) mas acho que isso não atrapalha, mas até ressalta certas escolhas e decisões.
O Homem Sem Passado (Mies Vailla Menneisyyttä)
O filme de Aki Kaurismaki trata de identidade, no caso um homem sem isso (uma amnésia ocasionada por um assalto). Como um indivíduo sobrevive sem sua identidade e como ele passa a viver nesse estado. Existe uma certa resignação do personagem em não saber quem é, o que lhe interessa é o presente e futuro, não vemos angústia em suas atitudes. Do que seria um drama o filme se mostra uma ótima comédia, seja nas complicações que ocorrem devido ao seu não-passado ou as situações que ele passa a viver (indo até a agenciar uma banda local). Muitas das cenas falam da necessidade do mundo moderno no que se refere à identidade, sem ela não dá para receber um salário ou ter uma conta num banco e consequentemente isso vai virando uma bola de neve que pode barrar a própria vivência da pessoa. Duas cenas são memoráveis: o assalto ao banco e o diálogo jurídico entre advogado e um chefe de polícia (nos mostrando o cada vez mais complexo jogo de interesses das leis, onde simples mortais podem ser manipulados pela não compreensão das minúncias legislativas). Há uma certa frieza nas relações pessoais, mesmo quando percebemos ternura, mas isso é compreensível devido a origem do filme. Aliás, uma relação do filme é muito interessante, do protagonista com o locatário do local onde ele passa a viver, uma relação estritamente de negócios. O final não deixa de ser previsível, ele recupera sua identidade, mas quer continuar com a vida que construiu sem ela (incluindo um novo amor).
A Marca Da Pantera (Cat People)
Foi o último, por assim dizer, filme de Paul Schrader para um grande estúdio já que depois passou a fazer filmes independentes. Foi a época que a Universal estava fazendo remakes de filmes de terror. Um dos arrependimentos de Schrader é não ter trocado o título do filme, pois ele acha que foi prejudicado por comparações ao original de Jacques Tourneur e esse "remake" pouco tem do original. Fica óbvio vendo o filme, mas depois confirmamos pelo Schrader que muito do filme vem de Ferdinando Scarfiotti, diretor de arte (e production designer que aqui não tem uma tradução exata) que não pode receber os créditos de co-direção devido à burocracias de sindicatos. Scarfiotti tinha grande poder no set o que gerou atritos na equipe que não estava acostumada a se reportar com um diretor de arte, mas sim apenas com o diretor. É um filme de grande visual, com uso magnífico de cores. O terror é um pouco deixado de lado e vemos mais o erotismo da história, com uma Nastassja Kinski extremamente bem fotografada (não é de admirar que ficamos sabendo que Schrader teve algo com ela durante as fimagens, já que fica claro que a câmera se apaixona pela atriz) e sensual. Legal ressaltar também a presença da bela Annette O'Toole que não teve uma carreira muito boa depois, mas é um contraponto ótimo no filme para a Nastassja. A história da maldição dos homens-panteras que não podem se relacionar com outros fora de sua espécie tem seu fascínio, mas também não é muito explorado, deixando várias coisas soltas para se concentrar na história de amor trágico entre Nastassja, John Heard e Malcolm McDowell (o incestuoso irmão de Nastassja, o mais próximo de vilão que o filme tem). A trilha bem anos oitenta do Giorgio Moroder até que se encaixa bem no filme, não se mostra datado. Muitos extras na edição em dvd que valem ser conferidos.
A Queda Do Império Romano (The Fall Of The Roman Empire)
Épico de Anthony Mann que reúne um bom elenco (Stephen Boyd, Christopher Plummer, Sofia Loren, Alec Guinness, James Mason, entre outros) para contar os últimos momentos do império romano. A história é parecida com a que foi reprisada em Gladiador recentemente, temos os mesmos Marcus Aurelius, Commodus e Lucilla, só mudando o personagem de Livius (que virou o Maximus de Russell Crowe) e sua trajetória. Mann consegue dar uma fluência muito melhor na história, nos envolvendo e nem fazendo nos lembrar de suas quase 3 horas de duração. A grandiosidade nas cenas de batalha e em qualquer trecho nos faz imaginar o que foi o filme visto nas telas de cinema. O filme é famoso por ser um grande fracasso (numa lista que vi era o décimo filme nos maiores fracassos do cinema) tendo custado 24 milhões e rendido 1,9... Não sei o motivo (como também não entendo o motivo de O Portal Do Paraíso ser o primeiro) já que é um grande filme, com momentos memoráveis.
Hércules No Centro Da Terra (Ercole Al Centro Della Terra)
Eu vendo filme de Hércules atualmente? Bom, só por causa do Mario Bava na direção mesmo hehehe E não é que o filme me fez lembrar daquelas sessões da tarde de minha infância e começo de adolescência? É um filme legal pra se ver mesmo que ele tenha me deixado com sono 2 vezes (vi o filme então em 3 tentativas, mesmo sendo curto). De mais interessante é o uso de cenário e iluminação exemplares por Bava, fora a inclusão de vampiros e mortos-vivos na história. Reg Park como Hércules está bem (forte, burro e puro) e Christopher Lee como o vilão dá um toque especial. Até esquecemos as coisas ridículas, as mudanças súbitas de personalidade (grande amigo que de repente quer matar o melhor amigo) e até uma visão estranha das mulheres (elas são o verdadeiro motivo de todos os problemas da trama do filme). Um texto explicativo, apaixonado e bem legal sobre o filme escrito por Carlos Thomaz Albornoz pode ser lido aqui.
Barba Negra, O Pirata (Blackbeard, The Pirate)
Filme de Raoul Walsh sobre o famoso barba negra. Tem a competência de sempre de Walsh, o rei dos filmes de ação, que até faz com que eu me interesse por filmes de pirata (ou dessa época, que nunca me agradaram muito). O filme tem a ambiguidade ou a falha de não apresentar carisma nos mocinhos da história. Pouco importa o que vai acontecer com o casal principal, ficamos mais interessados (e torcendo) para o barba negra (ótima interpretação de Robert Newton) que é um anti-herói e quase vilão (para o casal). A trama também não é nada simples já que os relacionamentos do filme são cheios de interesses que mudam de uma hora para outra (com traições e jogos), para se ter uma idéia o filme já começa com um letreiro dando o contexto de parte da história (um ex-pirata foi encarregado de caçar o barba negra) e logo depois uma narração em off do mocinho da trama (que é um espião para saber se o ex-pirata realmente mudou de lado mesmo ou continua saqueando). Aí entra a mocinha (também uma ladra) que vai do ex-pirata pro mocinho. Misture tudo e jogue no forno! hehe Pena que o final é feliz para o casal e nada feliz para o barba negra...
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