Conto De Outono (Conte D’Automne) Conto De Inverno (Conte D'Hiver) Quarto e quinto filme que vejo do cineasta. Passaram na ordem das estações, mas o do Inverno foi feito antes. São bons filmes que têm a característica de resolver tudo através da fala (seja isso um traço típico de Rohmer ou dos franceses) e não através de atitudes. Aliás, vamos entender atitudes por meio das falas. No conto de inverno isso é mais marcante já que a protagonista é volúvel, instável. Suas atitudes são imprevisíveis, mas explicadas por ela mesma quando diz para outra pessoa (e para o público), assim ficamos sabendo por quê de sua reação emocional com a peça de Shakespeare, de sua súbita partida do ônibus, da rápida decisão de largar o cabeleireiro, de sua reza na igreja, de seu amor idealizado pelo pai de sua filha, etcs. Mesmo outros personagens são explicitados pela fala (a criança triste ao final explica que está triste porque está alegre, coisa que se não dita permaneceria dúbia). E a fala na maioria das vezes não é contestada, ela é uma prova e não um sinal que pode ser incorreto. E também motivos fortes, como no caso do suposto insulto que o cabeleireiro disse que em nenhum momento é interpretado como a não ser na visão da protagonista que diz isso. No conto de outono entendemos mais a cultivadora de uvas através das falas, suas indecisões e sua atitude ríspida com o pretendente para que fosse numa estação de trem; também vemos as reais intenções e explicações da livreira para com o homem e para com a amiga. Fossem estes filmes mudos haveria uma grande dificuldade de entender certas atitudes dos personagens. Seria a realidade tão facilmente exposta e esclarecida assim através da fala? Creio que não, eis aí o universo peculiar de Rohmer, idealizado. É um contraste curioso se pensarmos que David Mamet trabalha com a confusão da linguagem, o que se diz em oposição ao como se age, onde às vezes nos denunciamos pelo que fazemos mais do que pelo que falamos. São duas opções muito interessantes. Tendo visto primeiro achei que o de outono era o melhor pois a identificação com o universo das pessoas que estão procurando relacionamentos (mesmo que de meia idade) é imediata, além do que torcemos pelo pretendente com a cultivadora de uvas e percebemos os erros interpretativos de atitudes que muitas vezes afastam futuros pares (só que aqui são otimisticamente consertados pelo diálogo). Mas a parte final do conto de inverno também é boa pela opção pelo romantismo mesclada com fé. No diálogo sobre reencarnações e fé neste filme não deixamos de lembrar de Richard Linklater como um sub-Rohmer, coisa parecida que aconteceu comigo quando fui vendo cada vez mais Ingmar Bergman em comparação aos Woody Allens "sérios". Espero que Linklater não sofra nesta comparação como Allen sofreu. Apenas no conto de outono houve quem saísse do filme na sua metade, quando se percebe que o excesso de falas é uma constante. Talvez no dia seguinte só tenham ido quem já estivesse familiarizado. Mas em ambas as sessões foi grande o número de senhoras de meia idade (e algumas jovens) que ficaram maravilhadas com os filmes. Coisa que aconteceu bem menos com os jovens, talvez arrastados para a tortura por suas namoradas... De Rohmer ainda acho meu favorito O Signo Do Leão que é muito mais calcado na imagem, com poucas falas e uma história poderosa. posted by RENATO DOHO 2:44 PM . . . Comments: