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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, agosto 29, 2004
Fahrenheit 11 De Setembro (Fahrenheit 9/11)

O novo filme de Michael Moore se mostra ao mesmo tempo mais "maduro" e menos característico do que vinha fazendo. A opção por aparecer menos em frente às câmeras e organizar as imagens alheias nos dá um belo começo, como o atentado de 9/11, muito bem retratado com a tela preta, as caras de reação e as folhas espalhadas no céu. Nunca tinha visto Bush tanto tempo assim em reportagens e pronunciamentos; isso só reforçou a impressão de que ele é extremamente despreparado para qualquer posição de destaque no cenário político, mas isso não quer dizer muita coisa na política, não é? Ao final parece que Moore fez as coisas depressa demais, falta abordar outros temas, ser mais criativo nas suas intervenções, como a mãe do soldado morto que não leva à nada, ela apenas chora na frente da Casa Branca? Ela poderia ter sido uma incentivadora de protestos ou agir de forma dura através da imprensa ou do judiciário, mas só vai à Washington chorar... Pequenas mudanças aconteciam nos filmes anteriores (como o Wal Mart deixando de vender balas), aqui o objetivo maior (Bush não ser reeleito) é pós-filme, nada dentro do filme. Moore também deixa de usar o que sempre usou e era uma de suas marcas registradas: o confronto direto. Quem ele confronta cara a cara no filme? Ninguém! Bush é o alvo maior? Sim, mas através de noticiários. Moore confrontava seus adversários, algumas vezes conseguindo (Columbine / presidente da NRA) outras não (Roger & Eu / presidente da GM). Aqui ele nunca tenta chegar perto de Bush (a única vez é de uma cena antiga) ou de qualquer um do alto escalão do governo, o máximo que consegue é a ridícula idéia do alistamento para filhos de congressistas. Até a sua leitura do Patriot Act é vazia, quase que feita de improviso, como se pensada e executada em meia hora... A pressa em fazer e lançar o filme antes da eleições é evidente da metade pro fim, onde se reprisam informações e não se acrescenta nada. Mesmo assim é um bom filme, mas merecia mais pesquisa (há poucos dados), mais confronto pessoal (ele por exemplo mostra os soldados, mas não tenta jogar na parede qualquer general ou superior militar) e mais entrevistas com gente importante, senão o Moore que conhecemos não vai ser o mesmo e vai ser apenas mais um entre tantos.

Garotas Do ABC

Belo novo filme de Carlos Reichenbach. A divisão do filme entre a vida no trabalho e as horas de lazer é boa, mesmo que a trama paralela dos neo-nazistas percorra o filme todo sem mudanças (pois eles não trabalham, então suas vidas não são marcadas por mudanças entre trabalho / lazer). Como muitos filmes nacionais demorasse um tempo para se acostumar com as falas que parecem artificiais em certos momentos (de vez em quando há exceções como O Invasor ou os filmes de Ugo Giorgetti), mas depois entrasse no clima (ou então, quando o filme é falho, fica-se incomodado o tempo todo). Aqui o que percebi foi mais o caso de certos atores, pois o ótimo Selton Mello diz com naturalidade suas falas ao contrário de seus companheiros. Seria ele que modifica o escrito para adaptar as falas enquanto outros dizem tudo literalmente? Não sei. Dentre as operárias os destaques são Luciele Di Camargo e Natália Lorda, com ótimas atuações. Fica-se mais com a vontade de saber dessas duas personagens do que a principal, Aurélia. Michelle Valle é bonita e está bem, mas falta algo tanto na atriz quanto no personagem para se manter o interesse. Já os personagens de Selton Mello e Fernando Pavão são claramente retratados com mais fascínio, são deles as seqüências mais marcantes como a da pedreira e o surto de Fábio (Pavão) nos fazendo remeter ao excepcional São Paulo S/A, além do final dos dois, poético. Se o projeto era maior (com mais filmes) e maior duração dá em certos momentos para se perceber isso ao não termos desenvolvimento de personagens como a de Antuérpia, que parece ter potencial, mas fica naquilo inicialmente mostrado. Ou a Suzana de Luciele, com sua virgindade e sua paixão pelo empregador. Uma minissérie seria ideal para que os personagens fizessem parte do dia a dia do espectador, além de explorar ao máximo cada um dos personagens. A participação de Fafá De Belém é ótima, mas estranhamente quando chegamos na seqüência do Democrático nota-se um arrastar da trama, como se só ali percebessemos a duração do filme. As subtramas do jornalista e da família de Aurélia (a investigação do atentado, o pai conservador, o caso entre o soldado e a tia) não me despertaram atenção. A escolha do ator que faz o Sam Ray poderia ter sido outra, a de um negro, pois a explicação de Aurélia para sua paixão pela música dele (além dos exemplos citados) vai no caminho oposto da fisionomia do ator. A bêbada feita por Vera Mancini é hilária, natural e memorável. Os assassinatos de moradores de rua nos noticiários nos últimos dias dá uma atualidade grande ao filme (infelizmente). Fotografia, direção e música são sempre de alta qualidade nos filmes de Reichenbach. Não há como não deixar de achar bem engraçada e legal a cena final para os descendentes orientais como eu. E a volta ao Democrático nos créditos finais dá o clima exato do belo trabalho apresentado, exaltando a alegria e o popular, que nos faz esquecer eventuais falhas aqui e ali.

Super Size Me – A Dieta Do Palhaço (Super Size Me)

Quase um filhote do Moore, mas o que não se espera é que pelo resumo da história e proposta o filme venha a ser até bom, não é apenas ele comendo e engordando no McDonald's. É divertido (ainda bem), toca no assunto mais comentado que mostrado que é a epidemia de obesidade nos EUA e a alimentação escolar (vi o assunto sendo brevemente discutido em Boston Public, um seriado sobre o sistema escolar) e vai apresentando pesquisa e dados, seja entrevistando gente que estuda o assunto, indo nos locais do problema e tentando confrontar os principais envolvidos. Talvez tenha faltado coragem em mostrar mais o processo de realização da carne (o McNuggets é mostrado através de desenho e de forma suave) e cutucar mais as companhias de regrigerantes. Ele vai tentando cobrir as variantes, não sendo um discurso monotemático, ele vê o lado dos gordos, não como objetos de sarro ou nojo, mas também de preocupação (a garota que não consegue emagrecer, mas se espelha no cara dos comerciais do Subway; o senhor que passa por cirurgia de redução de estômago); vê o estado atual dos refeitórios das escolas (e ainda não fala da quantidade maciça de aparelhos de venda de salgadinhos e refrigerantes nos corredores, disponíveis para fora do horário das refeições); até mostra o cara que come muitos Big Macs e é magro. Curioso foi dias antes do filme eu notar que o folheto do McDonald's tem agora as informações nutricionais que no filme ele quase não consegue achar. Outra coisa relacionada é presenciar no horário de almoço a entrada enorme de alunos de colégios particulares próximos de uma das lanchonetes indo almoçar lá, e diariamente, como pude saber ao questionar a caixa. E teve gente que achou exagerada a proposta dele de comer lá todos os dias por 30 dias! Tem gente que faz isso por anos! Preocupante...


posted by RENATO DOHO 5:05 PM
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