Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine Of The Spotless Mind) Filme como roteiro de Charlie Kaufman é uma coisa que não me agrada. Não gostei de nenhum de seus filmes e se visto por esse ângulo Brilho Eterno é o melhorzinho, mas só por esse ângulo, pois acho fraco no geral. Seus roteiros são tão característicos que já no trailer eu vi todo o filme, o que ele ia brincar, quais as peças que ele ia jogar e nisso o filme se mostrou tão previsível quanto imaginava. Essa coisa do personagem sem auto estima, um pobre coitado, já se esgotou há tempos, mas ele insiste... Mas, surpresa, há uma coisa boa que não esperava, o começo é bom, com o "primeiro" encontro do casal. Pena que depois entra a trama moderninha de falar de memória, lembranças, ele tentando guardar algo, se debatendo... O que seria um romance bem construído vira um thriller "mental" onde a preocupação central é "ele conseguirá reverter o processo de esquecimento?". Perde-se aí a emoção do início, o que poderia ser o ponto forte da narrativa. E tudo para quê? Para reviravoltas "originais" do roteiro, mas que em poucos minutos são mais previsíveis do que uma sessão da tarde e fica-se querendo que o filme retome ao início. Para que os atores sejam mais livres, que a direção respire e que a montagem fique no seu lugar. E isso ocorre, só no final; então é de se perguntar se o filme não daria um bom curta se cortado todo o seu meio? Ou melhor ainda, que o filme partisse daí, daquele encontro e da descoberta das fitas para acompanhar essa "nova" relação diante destes fatos, isso seria muito interessante, talvez até forte e mais triste, mas Kaufman (como sempre) prefere encher o roteiro com "originalidades" banais, uma aventura na mente de Jim Carrey (com uma só cara durante todo filme) com Kate Winslet (apesar de tudo, maravilhosa, de longe a melhor coisa do filme) acompanhando e os coitados dos coadjuvantes não tendo utilidade nenhuma (ou alguém se importa um mínimo com a trama dos outros 3, num triângulo amoroso feito às pressas?). É aquele caso do roteiro que aprisiona, o que deve ser muito difícil para um diretor sair dessa (Kaufman deveria dirigir os próprios roteiros para libertar da escravidão quem se sujeita a dirigir algo que ele escreveu). Gondry até tenta, mas não dá, vai ter que haver súbitas mudanças de cenário, contrastes de objetos, desmoronamento de locações, etcs e abaixo o núcleo emocional do filme... É, numa época onde não há um nome de destaque em roteiros (que não dirija os próprios) Kaufman surge como darling entre crítica e atores. Até quando a farsa agüenta só o tempo dirá. Nota: eu tive que rir ao final do filme pois lembrei de uma brincadeira que fiz quando adolescente com uma câmera onde dois irmãos brigavam e um deles empurrava o outro do alto de um prédio, aí acompanhávamos o julgamento e condenação do outro irmão, até chegar na hora da cadeira elétrica para voltarmos ao alto do prédio, durante a briga. O irmão "assassino" vê que tudo foi uma fantasia ou premonição, mas mesmo assim empurra o irmão, só que desta vez rindo, mesmo sabendo o que o aguarda no futuro. Há uma semelhança no casal que no final vê um pouco do que pode ser o futuro, mas mesmo assim quer arriscar e ficar junto. Por isso o meu riso. posted by RENATO DOHO 10:30 PM . . . Comments: