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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, novembro 23, 2004
Angels In America (Idem)



A premiada minissérie baseada na aclamada peça de Tony Kushner se revela não tão bombástica ou inesquecível como se esperava. É sim mais um belo trabalho de Mike Nichols, principalmente no trabalho com os atores que têm atuações fortes. A origem teatral é evidente nos diálogos e até na encenação das situações, não que seja teatro filmado, mas dá pra perceber como a coisa foi encenada num palco, além de que a partir do momento que os personagens diante de situações banais começam a discutir coisas sérias é óbvio o "estilo" teatral na construção de frases e pensamentos. Não há uma crítica aos anos Reagan diante da epidemia da Aids como alguns comentaram, e se há é algo muito sutil a ponto de ser percebida e notada. Acompanhamos três núcleos dramáticos onde alguns dos personagens vão interagir, ligando tudo. Talvez a mais isolada seja Mary Louise Parker que está ótima e uma das raras heterossexuais. A parte do elenco mais conhecida recebeu prêmios (merecidos), mas os desconhecidos Justin Kirk, Ben Shenkman e Patrick Wilson têm mais importância no projeto e não sei se foram reconhecidos. Ben tem o personagem mais problemático e difícil, afinal ele é o namorado que vira as costas ao amante quando sabe que o parceiro está com Aids. E também é um judeu politizado que tenta resolver e problematizar tudo através de idéias e teorias, mas é um covarde em suas ações, amando quase que apenas na retórica, se revoltando por posições políticas e esquecendo a ligação emocional. Não é nada simpático aos olhos do público (e parece ser o alter ego do autor). Patrick é o gay enrustido, mórmom e casado que vai se descobrir gay aos poucos. Justin é o aidético que fica sem ninguém em sua pior hora e é com ele que a minissérie entra no lado religioso, tendo visões com um anjo e se descobrindo um profeta (a parte final explora mais esse lado onírico). Mas as alucinações são constantes para as personagens de Mary Louise e Al Pacino. Pacino é o "vilão", baseado num personagem real, Roy Cohn, braço direito de Joseph McCarthy, advogado republicano que sempre escondeu sua homossexualidade e nunca admitiu que estava com Aids. Alguns atores fazem vários papéis e Meryl Streep faz um que eu me surpreendi ao saber que era ela. Há algo que falta na estória para adquirir uma importância maior. Ao concentrar o foco nos relacionamentos a trama perde em querer ser mais relevante com a época ou os personagens retratados, às vezes ali e aqui somos relembrados do contexto social e político, mas são pequenas coisas. São seis episódios divididos em duas partes, dando quase seis horas de duração.



posted by RENATO DOHO 1:02 AM
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