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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, fevereiro 16, 2005
O Aviador (The Aviator)



Um elogio à loucura, um elogio à loucura com dinheiro. Eis o que mais me marcou após ver maravilhado o novo filme de Martin Scorsese. Claro que sendo Howard Hughes um personagem fascinante e Scorsese tendo uma obra multi-facetada há dezenas de outros tipos de recepção e abordagem por parte de cada espectador. Há uma quase utópica e trágica busca pela essência da perfeição (ou beleza), também há a solidão da criatividade, assim como muitos outros ângulos. Mas o que para mim mais me fez palpitar o coração é Scorsese usando Hughes para falar de si mesmo como cineasta sem esquecer do empreendedor histórico. As maiores loucuras de Hughes só eram toleradas pela grana que bancava tudo e isso permitiu que sua ousadia alçasse vôos ainda maiores. E o que é Scorsese numa super produção para falar disso? Contanto com astros de Hollywood, os melhores técnicos, os mais belos cenários, os mais incríveis efeitos... Eis que o filme se torna tão grande justamente pelo dinheiro que sustenta tudo isso. A loucura aliada ao poder econômico nos traz esse filme. Seria outro tipo de filme caso Howard Hughes não fosse o retratado e a produção não fosse milionária.

Por termos muitos Hughes temos que notar que a parte responsável por limpar muito da imagem do retratado é o roteiro. Ele lima aspectos mais negativos de Hughes como a bissexualidade, o racismo, o anti-semitismo, o posicionamento direitista bem forte, etcs. Por entrevistas percebe-se que Scorsese pegou o roteiro pronto e a partir dele que foi conhecer Hughes, por isso não tenha tido vontade de abordar outros aspectos de Hughes. Por exemplo, o lado da mãe de Hughes (que foi a primeira coisa que Scorsese leu ao abrir o roteiro), foi uma visão do roteirista que eliminou o pai e o avô que foram fundamentais na formação de Hughes (sempre houve uma tentativa de Hughes superar o pai). Por tudo deixado de lado temos para o futuro material riquíssimo para novos filmes sobre Howard Hughes.

Vendo apenas pelo que foi recortado no filme há um trabalho bem realizado ao concentrar a história em alguns anos (ele já filmando Hell's Angels até a briga com a Pan Am), deixando os anos de formação e os misteriosos anos de declínio no ar. Pelo título o filme já antevia que a aviação seria mais focada que o lado produtor cinematográfico e, realmente, as melhores cenas têm os aviões como protagonistas, seja nos testes, na produção, na condução e até nas telas de cinema.

Nem é necessário ressaltar o excelente trabalho de fotografia de Robert Richardson que sempre faz trabalhos magníficos não importando muito o diretor (foi grande colaborador de Oliver Stone e recentemente fez Kill Bill).

Leonardo Di Caprio tem uma atuação primorosa, muito da força do filme vem dele e no que sua cara pode transmitir. Cate Blanchett até que se sai bem diante da tarefa de interpretar Katherine Hepburn. Já Kate Beckinsale, apesar de não estar ruim, não dá conta de fazer a mulher mais bonita do mundo, Ava Gardner, até pelo típico físico (Monica Bellucci seria mais adequada, o duro seria o sotaque). E os coadjuvantes estão bem (Alan Alda, John C. Reilly, Alec Baldwin).

O fascínio por Hughes já tinha feito com que tivesse lido um livro sobre ele. Nem bem acabei de sair do cinema fui meio que induzido a comprar O Aviador para ler, pois além do fascínio há algo de inspirador na loucura de Hughes.

Engraçado que O Aviador surja em tempos de Alexandre, dois personagens históricos que muito fizeram em pouco tempo, mudando muita coisa no mundo ainda enquanto jovens. E no outro lado Menina De Ouro abordando os que passaram da idade e nada conseguiram (onde 30 anos já é uma idade velha).


posted by RENATO DOHO 12:13 PM
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