Amor Para Sempre (Enduring Love)Não sei até que ponto posso elogiar o texto se nem li o livro em que se baseia o filme, mas fica a nítida impressão que muitas das qualidades do filme já estavam no texto do aclamado Ian McEwan (autor que infelizmente nunca li nada, ainda). Transformar uma simples cena do cotidiano e da vida em algo maior (no filme a cena inicial é maravilhosa) e sustentar isso me parece vir muito mais da literatura do que da mente de roteiristas (exceções dos cineastas/autores), o que aliás é o natural: se um roteirista fosse tão bom assim seria escritor e não roteirista. Mas estou diminuindo o ótimo trabalho da direção de Roger Michell e um elenco bem afiado, com a nova sensação do momento, Daniel Craig, uma perfeita caracterização de Rhys Ifans e Samantha Morton, talvez até menos aproveitada quanto se poderia, mas não subutilizada. O filme pode tão facilmente ser reduzido e encarado como algo pertencendo à um gênero que pode-se deixar de notar todas as sutilezas que propõe (uma característica que acho ser do texto, caso fosse um roteiro original ficaria apenas na superfície). Detalhar as sutilezas estragará o prazer de quem não viu o filme ainda, mas para quem viu vale apenas dizer que o homoerotismo é latente e ambíguo e a crise interna do protagonista se relaciona com isso e os confrontos diante de Deus e do amor. Ver Rhys como um maluco, um vilão apenas, é perder tudo o de melhor que o filme tem a oferecer. Só que o lado obsessivo também é trabalhado e discutido, não podendo ser descartado. Eis que podemos ter quatro ou mais visões do que seja o filme, revelando ser bem mais do que pode ser encarado como. posted by RENATO DOHO 3:32 AM . . . Comments: