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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quinta-feira, novembro 24, 2005
Tudo Acontece Em Elizabethtown (Elizabethtown)

Meu Deus, o filme bateu algum recorde de canções por película exibida? Deve ser a primeira vez que a quantidade de canções numa trilha me fez ficar irritado! São tantas que nem parece que há momentos de silêncio, tudo tem que ter um sonzinho embalando senão não se sustenta. Eis talvez a característica principal do filme e seu pior defeito: o excesso. Já começa pela história, um fracasso, mas um fracasso monumental que vem se juntar à notícia da morte do pai. E o encontro com a comissária de bordo mais excessiva dos últimos tempos (encontro esse forçado, irreal, só reforçando que estamos vendo um filme). E o telefone mais longo da história num celular? Claramente o filme não precisava juntar tanto tema assim num filme só, pois Crowe não dá conta. O lado mais forte é a relação do protagonista com a comissária, o mais chato é da família e os preparativos para o funeral. Ainda temos que lidar com o fracasso dele, a relação com o pai, como a mãe reage à morte, a relação da mãe com a família do falecido, história dos EUA, tentativas de humor, tentativas de emoção, e canções, muitas canções! Se concentrasse em um só tema poderia dar num filme mais humano e profundo e não a salada meio indigesta que virou. A procura de situações irreais deixa os personagens como meros personagens e não seres humanos, no meio de algo que se aproxima de um sentimento real entra uma piada despropositada, ou então um pássaro pega fogo no meio do salão enquanto vemos o virtusiosmo da banda que não pára de tocar mesmo sob a água que cai. É como se nos fizesse, enquanto público, pensar: "só em filme mesmo". E essa quebra da magia que prejudica tudo. O andamento também não é lá muito bem feito (o que é irônico vindo de alguém que aparentemente tem paixão por música - saber o andamento devia ser inerente à sua pessoa), quando já dava pra acabar o filme temos mais um bom trecho da viagem de carro o que em si (essa seqüência) não é ruim, mas quando posta naquele momento parece se arrastar ao invés de finalizar algo (como se Crowe tivesse colocado 10 faixas bônus ao final do cd que fez). No fim não há real reflexão diante da existência "fracassada" dele ou da superação da morte do pai (o que não acontece pois não há real perda) ou a verdadeira América que se tenta traçar, só fica o amor descoberto, o que não é lá uma grande descoberta. Less is more, Crowe. O único momento de real emoção pra mim, vejam só, foi quando vemos imagens de Martin Luther King. Jr. em Memphis ao som do U2. Aliás, esse trecho da viagem me fez pensar em outra coisa que até tem haver com o filme, mas é mal explorada: a história. Em como os EUA criam e preservam sua história. E se comparar com o que fazemos por aqui... No filme não é desenvolvido, mas é a história que dá um sentido à vida do protagonista, história de sua família, da comunidade, do estado e do país. Creio que se o filme colocasse o protagonista aceitando sua história e sua parte numa história maior haveria mais significância e coerência com a proposta. E faltou Bruce Springsteen! Tanta música e nada do melhor sobre o tema!

P.S. - sobre o final: eles não deviam ficar juntos! mais uma forçada! já não bastasse o mapa mais excessivo já feito hehehe mas o bom da relação deles é a amizade e não o amor, os deixando seguir caminhos próprios o filme seria mais real e corajoso, o que cada um podia dar ao outro já foi dado sem que precisassem ficar juntos (aliás um bom final seria logo após a despedida dos dois após a noite de amor).


posted by RENATO DOHO 12:02 AM
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