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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, janeiro 08, 2006
Melhores de 2005 (5)



Cinema. Esse ano mais dividido que ano passado, possibilitando que filmes diversos caibam ou sejam citados por aqui. A boa notícia é que ao contrário do ano passado o cinema nacional tem filmes de sobra para um top 10.

RECENTES

que vi este ano e contando com os festivais e mostras (pois senão fica difícil escolher entre os melhores)

01) Eu, Você E Todos Nós (Me And You And Everyone We Know)

Fiquei com receio quando vi na Mostra de elogiá-lo demais devido à sua simplicidade, mas com o tempo mais e mais vejo como é um espécie raro nos dias de hoje ter uma cineasta dessa natureza. Mostra simplicidade com inteligência, com sensibilidade, com bom humor, com uma real procura de comunicação, com um trabalho tocante de interpretações e descobertas de novos rostos, novos olhares para coisas tão banais do nosso cotidiano. Um filme que toca o espectador no que ele tem de mais básico, sua condição, sem precisar para isso recorrer à outros mundos ou mostrar uma realidade tão distante da vivência de quem vê. E isso é extremamente mais difícil do que se imagina, ainda mais sendo criativo e original em diversos momentos. Por isso sua posição na lista.

02) O Aviador (The Aviator)

De uma forma ou de outra muitos dos filmes escolhidos aqui falam de um assunto que muito me interessa e muito me emociona: o cinema. Pois de uma maneira ou outra o que mais extraio deles é o cinema. O ver. O fazer. O refletir sobre. Por isso deve ser muito diferente de alguma outra lista onde o que mais importa são outros assuntos tão diversos (do coração, da existência, da adrenalina, da diversão). Não que todo o resto não me emocione, mas é que a relação entre essas coisas pessoais e o cinema é tão estreita em mim que não sei diferenciar. Às vezes me pego angustiado num romance nas telas e logo a seguir percebo que ao mesmo tempo que aquilo me diz ao coração (algo que vivi ou vivo ou quero viver) é a maneira que foi transmitido isso em forma de filme que me traz as lágrimas, então vem antes o indivíduo ou o cinema? Claro em alguns momentos, obscuro em outros fico procurando uma resposta. E O Aviador, claro, está no meio disso.

03) Menina De Ouro (Million Dollar Baby)

Bom, depois da declaração acima é melhor só apontar pequenas coisas para esclarecer as escolhas. Somente um Eastwood maduro e velho poderia realizar esse filme tão bem quanto o fez.

04) Guerra Dos Mundos (War Of The Worlds)

O olhar em suas mais variadas formas. Spielberg sempre me surpreendendo, revertendo ou sabotando o que um fã dele como eu espera a cada novo filme (o que num primeiro momento é até decepcionante no bom sentido, e com o tempo fui aprendendo isso, desde A Cor Púrpura talvez - ele nunca faz o que eu gostaria que ele fizesse, mas oferece algo diferente para testar minha "amizade").

05) Doze Homens E Outro Segredo (Ocean’s Twelve)

Acho que esse ano não vi melhor brincadeira sobre o fazer cinema do que esse filme. Está tudo lá.

06) Reis E Rainha (Rois Et Reine)

Uma surpresa, uma beleza. E uma narrativa tão inusitada que valorizou ainda mais o talento do diretor.

07) Blood And Bones (Idem)

Uma das grandes interpretações de Kitano e que me trouxe muitas lembranças de algo que não é passado, mas instintivo. É tão familiar aquela violência, aquele jeito que há quase uma identificação sem ser exatamente uma identificação, mas um reconhecimento. Eu sei quem é aquele personagem, e de uma forma estranha o admiro.

08) 2046 (Idem)

E se Kar Wai construisse uma trilogia em cima do personagem de Tony Leung? Ou ele já construiu com Amor À Flor Da Pele e Amores Expressos? E mais uma vez a narrativa se mistura com o cinema, é como se Kar Wai se auto filmasse fazendo seu filme através de Tony e suas mulheres, o que é fascinante, ainda mais que ele vai construindo o filme aos poucos.

09) Marcas Da Violência (A History Of Violence)

Mesmo não sendo grande fã do cinema de Cronenberg (sempre disse que suas entrevistas eram mais interessantes que seus filmes) é aqui em seu formato mais convencional que ele expôs mais do seu cinema (e não é sempre assim? as pessoas não se revelam mais numa brincadeira que numa conversa séria?). Tanto a violência quanto vários outros sentimentos reprimidos (e eu insisto, a homossexualidade interessa ao cineasta) são incorporados muito bem na pele de Viggo Mortensen e todos os outros coadjuvantes, formando um corpo (mais uma vez ele) disforme que provoca erupções aqui e ali mas não explode (ou se libera) totalmente e nem se contém para sempre (e a cena final marca isso, para o bem ou para o mal).

10) Nine Lives (Idem) / Perto Demais (Closer)

Não há semelhança nos filmes para estarem empatados (ou há se eu fizer algum malabarismo intelectual - e isso sempre é possível hehe), mas é que não sabia qual deixar na décima posição. O do Rodrigo Garcia por ser episódico é irregular mas contém tantos momentos ótimos que superam as falhas. E só apartir do segundo episódio que me dei conta que eram todos em planos seqüências. Já o de Mike Nichols é tão forte no que expõe (em palavras, mas também nos rostos, nas imagens) que dá pena não deixá-lo entre os 10.

Quase chegaram lá outros belos filmes também:

A Lula E A Baleia (The Squid And The Whale)
Estrela Solitária (Don’t Come Knocking)
O Inferno (L’Enfer)
Espelho Mágico
Dumplings (Gaudzi)
Factotum (Idem)
O Mundo (Shijie)
A Criança (L’Enfant)

DOCUMENTÁRIOS

são apenas dois, mas que se colocados na lista principal colocariam outros pra fora e assim, separados, conseguem melhor destaque:

01) O Demônio E Daniel Johnston (The Devil And Daniel Johnston)

Já disse o que tinha que falar antes. Excelente.

02) Ingmar Bergman Completo (Bergman Och Filmen / Bergman Och Teatern / Bergman Och Farö)

Talvez muito mais cativante para fãs do cineasta e já que sou um: é ótimo!

ANTIGOS

01) Quatro Aventuras De Reinette E Mirabelle (Quatre Aventures De Reinette Et Mirabelle)

Mais um belo filme de Eric Rohmer.

02) A Carruagem Fantasma (Körkarlen)

Primeiro contato com o cinema de Victor Sjöström. E que contato!

03) Amor, Palavra Prostituta

Um dos melhores filmes de Carlos Reichenbach que vi.

NACIONAIS

que bom ter tantos filmes nacionais para se fazer um top 10 separado!

01) Crime Delicado

Maravilhoso o novo filme de Beto Brant! Não mostrando o que se espera dele, debatendo a arte, revelando uma atriz ótima, linda e especial em sua condição e mais uma vez mostrando que Marcos Ricca é um grande ator.

02) 2 Filhos De Francisco

Quem diria? Eu gostando de um filme de Zezé Di Camargo & Luciano. Mais do que isso é um belo trabalho do Breno Silveira, uma história de vida cinematográfica, não deles, mas do pai e uma emoção verdadeira do interior do país, pouco mostrado. Já revi umas quatro vezes mostrando para parentes aqui e ali e o diabo do filme me faz chorar toda vez, mesmo ficando preparado e "imune". Ah sim, admiro a forma consciente (só pode ser) de tirar todo o aspecto religioso do filme, nem sei se falam Deus ou Jesus no filme!

03) Cidade Baixa

Com recursos mínimos e uma história pra lá de batida o filme é de uma pegada que surpreende. Uma vitalidade que está à flor da pele na atuação, na câmera e na condução. Alice Braga, gratíssima revelação. Final como tinha que ser.

04) Vida De Menina

Boa descoberta deste filme tão anacrônico. O filme nem parece atual, mas realizado na própria época que se passa a história, o que é uma baita qualidade. E o trabalho com a Ludmila Dayer é tão bom que em poucos minutos eu esqueci daquela atriz de novela que estava virando a gostosinha da vez, rebolando e dançando em todo lugar. Estava diante da mais inocente das criaturas!

05) Celeste & Estrela

Gosto do jeito que Betse De Paula faz seus filmes. Irregulares, com situações meio constragedoras e mesmo assim de uma naturalidade (estranho né?) contagiante e uma câmera que passeia sobre as coisas. Dira Paes ajuda ainda mais no entusiasmo. E a história não deixa de ser bem divertida para o pessoal do meio.

06) O Fim E O Princípio

A mudança do fazer nesse novo do Eduardo Coutinho é o que mais instiga. A procura. Depois as narrativas que vão surgindo, muitas sobre a morte, vão aproximando mais e mais a câmera dos rostos dos entrevistados, até chegar num ponto que não vemos os rostos, mas algo a mais naquelas rugas e marcas do tempo, vemos nossa própria mortalidade.

07) Cinema, Aspirinas E Urubus

Gostaria de rever, pois vi com sono, talvez subisse de posição se visto sem sono. Grande começo.

08) Carreiras

É teatral em muitos momentos e isso é um defeito, mas a trajetória da personagem de Priscilla Rozenbaum é alucinada e nos carrega junto. Até que se chega na cena da praia, quase catártica. Um projeto da BOA (Baixo Orçamento Alto-Astral).

09) Gaijin – Ame Me Como Sou

Totalmente parcial e pessoal, eu sei que muita gente deve ter achado um lixo, mas o que fazer se me diz tão pessoalmente? E familiares que viram também se emocionaram.

10) Entreatos

Se antes dos escândalos o documentário revelava mais do que acha que estava mostrando imagine agora.

Ficaram de fora (pois vi em dvd) mas merecem menção:

- Fábio Fabuloso
- Duas Vezes Com Helena
- Bendito Fruto


posted by RENATO DOHO 1:03 AM
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