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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, abril 12, 2006
Em Seu Lugar (In Her Shoes)



Tanto pelo filme quanto pelo início achei que seria o que esperava, mais um filme pra se ver em dvd pra completar a filmografia da Cameron Diaz, legalzinho e tchau. Mas não foi isso que aconteceu. O filme se mostra bem melhor do que a encomenda.

A coisa das irmãs opostas e o que vai acontecendo com elas é meio batido e esquemático, só que a direção de atores de Curtis Hanson junto com o trabalho do elenco (e sim, um pouco do roteiro) elevam a coisa. Há cenas de uma ternura tão bem trabalhada que não encontramos por aí no cinemão. Destaco a interação de Shirley MacLaine com a amiga velhinha, a Cameron Diaz aprendendo a lidar com sua dislexia, Toni Collette e seu pai após saber que sua avó está viva, a cena que Toni revela mais do passado da mãe para Cameron (a sutil interpretação de mãos da Cameron é excelente e provável ser coisa da direção) e a primeira dispensada que Toni dá em Mark Feuerstein (eis um ator coadjuvante que sempre acho legal quando aparece nos filmes).

É um típico filme de personagens ou como eles falam lá, "character driven". Você reage mais com seu lado humano que cinéfilo, tanto é que no making of (curto, mas muito elucidativo) Hanson detalha certas opções que eu nem tinha notado (conscientemente) como o uso de espelhos e reflexos para o personagem de Cameron, assim como a câmera na mão para ela e não para Toni, o uso de vários quadros de John Register (e eu que sou fã do pintor até tinha notado, mas nem parado pra pensar no motivo daquilo) tanto no apartamento de Toni quanto na casa de Shirley, fotos usadas em quadros, a decupagem da cena do restaurante com as irmãs (plano de conjunto das duas e logo após elas separadas por planos quando brigam), entre outras coisas que, ainda bem, não são para ser percebidos mesmo, entram subconscientemente no espectador. O que apreciamos de imediato é nos envolvermos e nos identificarmos com os personagens, o que cada personagem nos faz refletir e lembrar de uma situação ou pessoa. E tão melhor é que além de ser um bom filme emocional é daqueles que podem ser revistos para se apreciar a riqueza de detalhes (a simples diferenciação que Feuerstein dá de uma interpretação de uma única fala no filme revela o quanto se pode acrescentar em simples gestos).

A troca na procura de sentido das duas irmãs é interessante, enquanto uma tenta achá-lo procurando um trabalho (Diaz), a outra (Collette) vê o quanto ela se escondia atrás do trabalho, como se tivesse criado um sentido para a vida através dele e se perdesse isso se confrontaria com o vazio. Não fica claro que Collette tenha achado ainda um sentido ao final, mas Diaz sim, e isso fora do trabalho, no que seria um hobbie dela. Falando do final é significativo o olhar de Collette, muito parecido com o que acontece em A Primeira Noite De Um Homem. Ela ainda está à procura de um sentido? Ela conheceu um pouco desse sentido tanto na súbita atividade paralela (passear com os cachorros) quanto nos "hobbies" do namorado: os jogos de basquete, os restaurantes e a comida.

Ah, bom notar: produção de Ridley Scott o que dá especial atenção aos "fracassos" das duas irmãs no início e como lidam com isso (tema tão caro ao Ridley).


posted by RENATO DOHO 7:21 PM
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