O Novo Mundo (The New World)O novo filme de Terrence Malick chega apenas 6 anos após seu último, o que é um recorde para ele. Dividiu opiniões, do lado favorável virou um culto, quem gostou gostou muito, já do lado desfavorável as comparações com as obras anteriores que pesaram mais. Bom, então eu fiquei no meio. Achei um ótimo filme, mas ao final achei que estava esperando mais dele, o que é culpa dessa esparça periodicidade do Malick. Quanto mais tempo se passa, mais se pensa que há elaboração, planejamento e refinamento no fazer do filme, não que não haja, mas a expectativa fica quase impossível de se superar. Lembro apenas de Kubrick como a exceção, a espera superava em tudo o que se imaginava. Neste aspecto Além Da Linha Vermelha é mais bem sucedido, 20 anos de espera que não frustam. Caso Malick fosse um cineasta prolífico com filmes anuais (por exemplo) O Novo Mundo seria até espantoso em certos aspectos.Outro problema que acho que faz ou fará diferença, é o corte de duração que o estúdio fez, os críticos viram uma versão de 2 horas e meia, o filme lançado tem 2 e 15, mas parece que são mais de 3 horas (Malick quer lançar essa versão em dvd). Faz diferença, especialmente para mim, pois há falta de um alongamento de certas cenas, o aspecto documental de registro da natureza fica diminuído, voltando no final, mas mesmo assim curto demais (para Malick). Alguns trechos parecem resumos onde uma voz off encobre cenas pequenas que tentam dar conta de um tempo que poderia ser mais explorado. O ruim é que só veremos uma versão maior em dvd quando o filme se revela mais no cinema, por outro lado haverá oportunidade de uma imersão solitária que muitas vezes os cinemais atuais não proporcionam (seja no som, no conforto, na projeção e no isolamento). O time de montadores no projeto não me pareceu algo bom também, mas não sei como foram usados, então não dá pra saber se prejudicou algo. Dava para perceber mesmo no trailer que, pela primeira vez, Malick virava suas câmeras para algo não exatamente novo. Aquelas paisagens, aqueles personagens, aquela fotografia lembravam sempre outros filmes, tendo o diferencial apenas na forma como se desenrolavam, principalmente temporalmente. Nos outros, mesmo em terreno familiar, Malick conseguia uma visão única (até nas cenas européias havia naqueles jardins um ar de Barry Lyndon e de Marienbad). Talvez a produção muito "rápida" tenha sido o problema. Um fator que eu achava que não tinha ligação, mas quanto mais pensava no que O Novo Mundo tratava mais achava que tinha sim: vi na noite anterior Caravana De Bravos, do John Ford. Construção de um novo país, de novas relações, de novos lugares. A montagem quase musical (aliás, um Ford fazendo um musical de certa forma). As cenas quase documentais das travessias. A importância da água. Reorganizações sociais e familiares. E Ford conseguiu isso de forma magnífica em apenas 86 minutos! Não que uma duração maior seja algo ruim, mas no que cada um conseguiu com a duração. Injusto com Malick, mas Ford conseguiu muito, mas muito mais. Ainda mais se lembrarmos o processo de cada um: Malick filma muita coisa, geralmente improvisada, além de unidades b filmando muita coisa por aí e depois passa meses montando e descobrindo o filme, já Ford, geralmente, cortava na câmera, filmando de forma que impossibilitasse ao máximo o estúdio mexer na montagem final (o tipo de diretor que não faz muitas coberturas).O que se destaca em Malick são os momentos da índia com seus três amores (contando o filho). No elenco Christian Bale se sai muito melhor (e em menos tempo) do que Colin Farrell (difícil achar qualquer profundidade ou sentimento maior no ator, e ele vai fazer Arturo Bandini, meu deus!). Fica mais evidente que falta algo em Colin no reencontro com Pocahontas.O momento frágil do filme é o processo civilizatório de Pocahontas após a suposta morte de Smith, só voltando a ter força quando há uma visão externa da situação dela, a visão do personagem de Bale.Apesar de tudo é um filme pra ser revisto e apreciado no que ele tem e no que deixou de ter.Dois textos, um de cada lado, que conseguem ter vários pontos bons. Um dos defensores ferrenhos do filme foi Matt Zoller Seitz e um que não achou tudo isso foi Chris Fujiwara.O filme me deu grande vontade de rever Cinzas No Paraíso, vejam só! Um filme muito similar e que, até agora, é mais bem sucedido no que propoe e faz refletir. posted by RENATO DOHO 1:36 AM . . . Comments: