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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, junho 09, 2006
Palavras De Amor (Bee Season)



Como gosto de ter boas surpresas. Este filme foi uma destas surpresas. Bom, do início então... pouco sabia do filme, que nem foi muito comentado quando passou por aqui, tanto que nenhuma resenha me fez ter vontade de ver o filme. Chegando em dvd peguei mais pelos únicos dados que sabia: que falava de concursos de soletrar, tinha Richard Gere e Juliette Binoche e uma criança, isso era algo a se considerar pois seria um filme que mais gente aqui de casa poderia ver (drama, família, criança) e não aqueles que só eu vejo. Acabou que só eu mesmo vi, mas passou do mero "bom, vamos ver" ao "uau, estou fisgado". Gostei bastante do filme. Fiquei cada vez mais interessado, surpreendido pelos rumos que a história vai tomando, tocado pelas interpretações (até Gere convence em sua maior falha: ele raramente consegue chorar bem em filmes, é sempre algo falso ou contido demais), pensando em como tal filme iria concluir, etcs.

O filme foge do que seria o esperado: usar um tema geral (o concurso) pra ficar falando de problemas familiares. Não, ele encara o concurso como parte integral de todas as outras ações que ocorrem com os personagens. Das palavras vêm o misticismo judeu (sua força e fascinação) e vêm a problematização da comunicação em diversos níveis (não é mera não-comunicação, às vezes se fala, às vezes se demonstra, às vezes se tenta o contato, mas nem isso basta). Cada personagem conta e é dado espaço para ser e com isso evita-se uma vilanização fácil (o pai seria tão típico de cair nisso), todos têm falhas, ausências e excessos. Cada um deles procura um caminho de existência e nisso reside o conflito, pois os caminhos nem sempre são compreendidos ou podem estar na mesma direção. A busca individual bate de frente com a união que supostamente deveria existir naquela família. E cada assunto tratado é importante ao todo. A procura da mãe e a criação de seu refúgio valem tanto quanto o ingresso do filho mais velho numa comunidade religiosa, assim como o estudo aprofundado da cabala pelo pai e o treino da filhinha para as competições. Seria mais frágil se os assuntos fossem meramente desculpas para representar um estado de espírito daquela família onde não importa exatamente sobre o que se trata, mas como se trata. O sobre e o como estão juntos.

O roteiro é, que coisa, da mãe do Jake e da Maggie Gyllenhaal. Ela mostra que sabe lidar com assuntos de família pois escreveu também O Peso De Um Passado do Lumet. É baseado no primeiro e elogiado livro da autora Myla Goldberg (saiu por aqui com o título de Temporada De Caça Às Letras). Uma dupla dirigiu, Scott McGehee e David Siegel. O destaque maior do elenco é a pequena Flora Cross, um achado. E nem seria ela, a Dakota Fanning estava escalada antes.

Depois de ficar empolgado com o filme quis, rapidamente, ver o que tinham escrito sobre ele por aqui (mais do que lá fora). Aí outra surpresa, desta vez ruim, a maioria que li classificava o filme de chato, apático, lento e vazio para baixo! Realmente em situações assim que eu fico impressionado, uma coisa é você ver algo e achar mais ou menos e acabar lendo tanto posições mais desfavoráveis quanto algumas positivas, outra coisa bem diferente é se entusiasmar com algo e achar tantas opiniões contrárias. Tanto é que acabei ficando até receoso de ficar indicando pra lá e pra cá pra que mais pessoas vissem, poderia estar indicando algo que vão achar extremamente chato. Mas, ao menos, tive uma outra boa surpresa ao achar uma mini-crítica na Folha do Ricardo Feltrin elogiando o filme e apontando algo que acrescentou muito para mim. Um pequeno toque, maravilhoso, que tinha perdido, de lembrar a quem for ver o filme como é o som da letra Y em inglês. Que toque! Pois justamente algo que poderia indicar como incompleto é o final, pois conforme vamos vendo é difícil imaginar algo que conclua bem para este tipo de história, é melhor algo inconclusivo, mas também ficaria a impressão de ser uma falha, de tentar ser artístico demais e não assumir um fecho para algo criado (a vida é inconclusiva per se). Com esse pequeno toque (eu não tinha notado isso) cresce o final e mais coisas ficam a se refletir, mesmo que o final tenha a impressão de conclusão forçada. Eu gostei e me emocionei.

Nos extras do dvd há dois pequenos making ofs onde experts das áreas que o filme cobre falam mais dos temas. Pena que os diretores e roteirista nem aparecem (e nem mesmo a autora do livro). Seria bem legal vê-los falando mais da própria obra. Ao menos os atores parecem que captaram bem o que fizeram.

Enfim, um belo filme, até copiarei pra ficar emprestando por aí (e alguns vão achar que emprestei esse filme chato e vazio hehe mas estou acostumado).


posted by RENATO DOHO 2:25 AM
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