RD - B Side
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, agosto 01, 2006
Terra Fria (North Country)

Quando vi Encantadora De Baleias disse que era um filme simples e bonito. Agora já numa produção maior não dá pra dizer que é simples e nem que o ambiente seja bonito, mas o filme fica entre o competente e o significativo. Já vimos esse tipo de história e nada nele vai realmente se destacar como novo. O que mais conta é apenas a transposição para a ficção de um caso real sem que isso se torne um telefilme (sem desmerecer telefilmes que muitas vezes se mostram melhores que muitos filmes por aí). O tema ainda toca algo importante, infelizmente, a coisa do assédio sexual em ambiente de trabalho e a opressão nas mulheres em conviver num meio masculino. Isso quando bem trabalhado dá em ótimas histórias (a série Prime Suspect é excelente e fala sobre o assunto com a chegada de uma mulher para comandar uma equipe policial inglesa masculina e machista). Talvez a melhor qualidade de Niki Caro é saber trabalhar atores pois consegue um bom desempenho geral. O tom feminista também parece ser uma marca forte sua. E cenas emocionais. Mesmo que ela evite há cenas claramente não há como não ficar engasgado. Neste filme isso ocorre algumas vezes e funcionou comigo na cena com o pai na reunião dos trabalhadores (e também na cena seguinte ao relato revelador no tribunal novamente com o pai, já na casa dele). Destaco o grande Richard Jenkins, um coadjuvante que sempre gosto de ver atuando, que consegue uma variedade de personas e tipos, mas é a personificação de um pai. Às vezes ele é odioso, outras engraçado, outras bobão, outras sério, outras sensível, ele é demais! Recentemente ele é mais conhecido como o pai sempre presente da série Six Feet Under. Nesse filme ele consegue mudar o seu personagem sutilmente, aparentemente ele encarnava todo pessoal masculino daquela comunidade, chegando até a ser desprezivelmente machista, só que vai se transformando muito bem no decorrer da trama. Charlize Theron não precisou ficar feia para ter uma boa interpretação, convence até como mãe. O elenco de apoio conta com gente como Frances McDormand, Sean Bean, Woody Harrelson, Sissy Spacek e até Michelle Monaghan. Há cenas que deixam o espectador puto, principalmente as que a personagem de Charlize não revida ataques físicos ou verbais, mas percebemos depois que é algo que foi construído pelos traumas passados ou realmente é parte de sua personalidade. Mesmo porque é muito mais comum ver pessoas assim do que aquelas que na hora conseguem soltar frases de impacto ou revidar logicamente em situações de stress, isso fica bonito nas telas, mas é raro acontecer na vida real, por mais frustrante que isso seja. Além filme pensa-se na discriminação não só feminina (que até hoje é grande, mas pouco falada) mas de qualquer minoria que não faça parte do grupo maioritário que detém de alguma forma o poder. Em como conseguem ou tentam minar a credibilidade da pessoa ou pessoas. Penso em situações de escola, de trabalho, de times / organizações / clubes, de família, de sociedade, de política... Duas cenas parecem construídas, que parecem não ter ligação com o real e por isso podem parecer forçadas ou melodramáticas: a conversa de Sean Bean com o garoto e logo a seguir a conversa de Charlize com o filho. Mesmo que eu não tenha particularmente desgostado as cenas ficam como alvos claros para críticas e poderiam ser resolvidas de outra forma. Algumas cenas do tribunal vão um pouco além do real e servem apenas para propósito narrativo, poderia se ater aos autos do processo que continuaria forte, como ficou pode irritar muito pessoas mais ligadas em direito. Por essas e outras que muitos criticaram o filme por se afastar do caso real e dar toques melodramáticos na história do trauma da protagonista e da relação dela com o filho enquanto a assunto do assédio sexual fica de lado. Não vi sentido para a cena final, quando poderia muito bem acabar lá no tribunal mesmo, fica-se achando que algo ruim vai acontecer com a mãe e o filho e não é isso que deveria marcar o sentimento do espectador ao deixar o filme. Ah, ia esquecendo das várias canções de Bob Dylan que tocam durante o filme.


posted by RENATO DOHO 12:41 AM
. . .
Comments:


. . .