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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

segunda-feira, novembro 20, 2006
A Cidade Perdida (The Lost City)

Este projeto pessoal de Andy Garcia não consegue se realizar plenamente, seja pelas condições precárias (levou mais de 15 anos para produzir e quando conseguiu não teve tanta grana quanto queria) quanto por escolhas do que e como mostrar. Quem conhece o lado anti-castrista de Garcia não vai ficar surpreso em ver um filme que ousa criticar a revolução cubana, assumindo um ponto de vista de uma família rica cubana. Ao mesmo tempo consegue ter sentimentos contraditórios de nostalgia por uma velha Cuba que nunca foi exatamente bela (com os mafiosos comandando tudo). Qual Cuba Garcia sente saudades? Parece mais uma Cuba de desejo e não de recordações. Fidel, neste contexto, não difere muito do que existia antes. Um dos pontos tocados é o lado artístico, mais reprimido pós-revolução (o roteiro é do famoso escritor Guillermo Cabrera Infante). O personagem de Bill Murray é um dos mais interessantes, parecendo até descolocado da história principal, mas acrescentando um lado cômico crítico importante. Pena o filme ter sido muito atacado, não sendo exibido em muitos lugares, justamente por um dos seus aspectos mais relevantes: uma outra visão da revolução cubana.

Amantes Constantes (Les Amants Réguliers)

Excelente filme de Philippe Garrel, veterano cineasta que só agora tem um filme lançado comercialmente no Brasil. Se não avisassem poderíamos imaginar que o filme foi realizado em 1968 ou perto disso e não em 2005. E com isso não quero dizer que o filme pareça velho, mas a forma de filmar se liga mais a Nouvelle Vague que ao que se faz hoje em dia e o próprio tema tratado ajuda nessa impressão. Um dos mais notáveis aspectos do filme é o uso brilhante do som, principalmente em sua primeira parte, tanto que dispara diversas coisas na mente em meio aos motins que acontecem nas ruas de Paris. Toda a encenação dessa passagem é excepcional, ligando-se diretamente ao que se fala no filme, o poder da arte e da transformação. Algumas sucatas, um pouco de fogo e muito uso do som e caimos diretamente naquele momento histórico sem uma vez pensarmos estar diante de um filme. Também aqui, como no filme de Garcia, retomamos um momento do passado para ser refletido de outra forma através de um grupo de estudantes burgueses que se dividem entre o real e a arte, os que querem "a revolução do proletariado, apesar dele" e os que almejam a pintura e a poesia, e no meio disso se entorpecem com ópio. O filho do diretor é o protagonista e se enamora com uma jovem (a bela Clotilde Hesme), romance que vai pautar a segunda parte do filme e de certa forma refletir o que se mostrou anteriormente, como ação/teoria ou agir/refletir ou mesmo razão/emoção. Muito se disse do filme ser a antítese de Os Sonhadores de Bertolucci, um motivo para que eu finalmente veja o filme. Mas o melhor mesmo seria rever o do Garrel e me perder entre sons e p&b.

A Ponta De Um Crime (Brick)

Um mistério, uma mulher perigosa, informações desencontradas, o submundo de um ambiente relativamente comum, ângulos tortos, trilha jazzistica, falas elaboradas... estamos em terreno noir só que desta vez um noir à luz do dia (em boa parte) e com personagens adolescentes numa típica high school americana. Joseph Gordon-Levitt (Mistérios Da Carne) está à procura da ex-namorada após um telefonema esquisito recebido, para isso vai aos poucos se infiltrando no mundo escondido de um mini-rei do tráfico local. Se a opção de deslocar o noir para esse ambiente e esses personagens é interessante faz também com que fique ressaltada a construção falsa desse tipo de narrativa. Há que se acreditar com um pouco mais de força nesse universo para não achar tudo encenado e beirando o ridículo. O filme ao menos consegue se equilibrar, não se tornando uma piada de si mesmo mas também não conseguindo convencer plenamente. Para quem embarcar na brincadeira pode até achar mais interessante.


posted by RENATO DOHO 3:43 PM
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