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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, dezembro 13, 2006
Os Infiltrados (The Departed)

Que decepção esse novo trabalho de Martin Scorsese. Não é que o filme seja ruim, mas não vai mais do que um competente filme policial, genérico. Aliás, refilmagem, Conflitos Internos é melhor. Por onde começar? Do começo... o que deu na Thelma, esqueceu a montagem? Aquele começo é uma picotagem de cenas que impressiona negativamente, não sei se culpa dela ou de Martin por dar dezenas de ângulos e planos de detalhe e jogar no colo dela, nada se sustenta, tudo parece corrido (e não resumido já que a intenção era dar toda a trajetória da história em minutos) e pouco refletido (até um plano e contraplano soa estranho). As coisas se normalizam no decorrer ou nos acostumamos mesmo? Depois são os personagens rasos onde o maior problema é o de Costello que não tem história alguma, e isso de um mafioso pé de chinelo de 70 anos. O que ele é, de onde veio, o que pensa, quais suas crises? Intencionalmente ou não ele é retratado como um adolescente, com brincadeirinhas com falos, brincando com armas, zoando padres ou mexendo em sua montanha de pó (sua atitude final não passa de um adolescente birrento). Nem suas raízes irlandesas se destacam. Nem o próprio Jack Nicholson (que até lembra o Costello da maneira que vive) deixa de ter um passado, uma história. A (não) relação paternal com Colin ou mesmo Billy inexiste a não ser por algumas falas soltas que não tem base em algo mais profundo. Ele acabar morrendo com aquela camiseta parece até uma caricatura (o que até pode ser se nos lembrarmos do rato ao final, mais caricatural que isso só se Costello aparecesse no céu numa projeção dando tchauzinho pra câmera...). Os infiltrados então nem se fala, não mudam nada do começo ao fim. O bom é bom, o ruim é ruim, não se questionam em nenhum momento, seja Colin no meio policial e construindo uma suposta vida e Billy sob influência de Costello. Nesse ponto o contraste fica mais forte ainda (para não deixar dúvidas): Queenan é a figura paternal perfeita, quase um santo diante de Costello. A sedução da liberdade do mundo criminal ou a corrupção policial passam longe das mentes dos protagonistas. Billy ao menos tenta perto do final querer recuperar sua identidade (um esboço mal feito é falado para o público pelas falas de Dignam em sua entrevista inicial), mas fica nisso, ele ainda crê na instituição policial. Conflitos Internos, como o título nacional mesmo diz, se debatia mais na psiquê dos dois envolvidos, na difícil vida de agente duplo. Aí dá pra lembrar o trabalho muito bem realizado de Miami Vice e O Homem Da Máfia sobre o mesmo tema, o trabalho dos agentes infiltrados e toda merda que isso traz para a vida deles, quando eles começam a perder os traços que os faziam o que são (sua ética, sua moral, sua religião, seus objetivos, suas famílias). Até mesmo a questão do pequeno mafioso e a operação policial para prendê-lo foi mais carismática no seriado Line Of Fire (David Paymer fazia o mafioso e a estrutura era bem parecida ao do filme, só que ele tinha toda uma história e passado, além de uma filosofia sobre o que era e o que fazia). A constante trilha musical chega a irritar por não deixar espaço para o som natural, como se um rádio estivesse sempre ligado em qualquer lugar (a única boa utilização é a música dos Dropkick Murphys que aparece duas vezes e é ressaltada quando aparece). A coitada da Vera Farmiga tem sua chance num filme de grande porte e acaba fazendo uma psiquiatra das mais medíocres, tanto desconhecendo com quem se relaciona e vai morar junto quanto cai na conversa furada de qualquer um que lhe aborda, seja no elevador (Colin) ou no consultório (Billy) e ainda passa receitas na maior tranquilidade, ela não consegue nem criar uma moral para se indignar ao final. As reviravoltas finais (ou devo dizer, os tiros finais pois é um atirando no outro) até perdem o foco ao dar um final "justo" para Colin ("o desgraçado morreu") quando sua ruína seria bem outra, a perda de sua identidade que seria de sua vida, basicamente ele ainda, apesar dos pesares, continuava com sua vida segundos antes de morrer, realmente nunca chegou a lhe passar pela cabeça a farsa de toda sua existência. Consola o fato de que Billy reencontra sua identidade quando morre. Enfim, se eu esquecer que é um filme do Scorsese eu até acho o filme bonzinho, boa diversão (um pouco longo demais pra ser só diversão, há momentos que poderiam ser cortados), mas se eu lembro... Preferia ele errando mais (em outros sentidos) em Gangues De NY (tortíssimo, mas ao menos mais pessoal e mais relevante) do que acertando desse jeito. Como foi nesse que ele conseguiu sua maior bilheteria a resposta monetária fala mais alto, ele pode achar que está no caminho certo (ainda mais se um Oscar vier concretizar essa idéia). Scorsese, você virou Colin e não sabia? Quem vai ser o seu Dignam, hein?


posted by RENATO DOHO 10:10 PM
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