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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, fevereiro 07, 2007
Caminho Da Glória (The Road To Glory)

Ótimo filme de guerra de Howard Hawks tratando de um regimento francês durante a primeira guerra mundial. Fredric March está muito bem na pele do sofrido e amargo comandante que tem uma jovem amante que acaba se apaixonando por um jovem capitão. Não é nem esse o problema, já que o comandante se comporta como um profissional diante da situação, também fazendo isso na sua relação com o pai, que ainda quer combater na frente de guerra. É a relação mais bem trabalhada que culmina num grande final. A trama do filme é bem semelhante à um anterior de Hawks, Patrulha Da Madrugada, pois o que aconteceu foi que Hawks foi chamado por Darryl F. Zanuck para pegar um filme francês reconhecido na época pelas ótimas cenas de guerra e refilmar partes já que não havia intenção de lançar o filme francês nos EUA. Hawks tirou o tema de um filme anterior e botou neste, chamando o amigo William Faulkner para o roteiro a fim de fazer Faulkner esquecer uma recente tragédia pessoal. Hawks teve que suportar a atriz June Lang que ele tinha achado péssima nos testes, mas Zanuck e outros do estúdio adoraram e a contrataram. A repetição final na fala do novo comandante enfrentando o mesmo dilema de mandar mais soldados para a morte fica como símbolo do absurdo da guerra.

Sonhadora (Dreamer)

Quase um Seabiscuit versão Dakota Fanning. Nem por isso é ruim. Também é baseado em fatos reais, só que levemente (só pra começar era um garoto no roteiro original, mudaram para garota especialmente para Dakota). Há ênfase nos negócios e na família da garota mais do que no treinador e jóquei (como era em Seabiscuit). Kurt Russell e Elisabeth Shue fazem os pais, Kris Kristofferson o avô e Freddy Rodríguez o jóquei. Todos estão simpáticos, ajudando o filme. Pena que no dvd não haja extra algum sobre a história real.

Rota Mortal (Rest Stop)

John Shiban tem carreira em roteiros para Arquivo X e Enterprise e aqui, dirigindo e escrevendo fez um terror meio road movie estranho e barato. A precariedade da produção fica meio evidente, até no elenco desconhecido e com parcos recursos dramáticos. O estranho fica por conta de transformar uma simples estória de psicopata que azucrina uma jovem que fugiu de casa com o namorado em algo que nunca fica claro o que é. Há visões, há uma família bizarra que mora num trailer, há furos de roteiro e um final indeciso (tanto é que no dvd há os diversos finais alternativos). No imdb é engraçado ver boa parte malhando o filme como o pior já visto (as interpretações canastras e as situações esquisitas ajudam a dar essa má receptividade). Acho até que há coisas nele que valem à pena, só não alcançam o potencial que deveriam alcançar. No dvd há mais coisas esquisitas: um vídeo diário de um dos personagens que pouco aparece no filme e um tipo de epk da atriz, Jaimie Alexander, como se fosse uma grande promessa do cinema (sei lá, vai que vira).

This Film Is Not Yet Rated

Documentário sobre o sistema de classificação que os filmes nos EUA recebem, os famosos G, PG, PG-13, R e NC-17, da MPAA. É bem interessante nas entrevistas e comparações com cenas de vários filmes mostrando os critérios obscuros que variam de filme a filme dependendo dos temas tratados como sexualidade e violência, que tipo de sexualidade, que formas de sexualidade são mostradas, etcs. A parte de investigação, com participação do próprio diretor e investigadoras particulares que vão descobrir quem são os integrantes da MPAA (é em anonimato como nenhuma outra instituição que julga e classifica coisas no país, quase uma sociedade secreta) é meio falha, parecendo às vezes uma farsa e desviando do assunto (saber que a investigadora é lésbica e mora com a parceira há anos não tem nada a ver com o que está se tratando!). Os resultados da investigação porém são produtivos, os membros são desmascarados pelo menos. Poderia se usar de mais entrevistas e cenas de filmes ao invés da investigação. Alguns dos entrevistados: John Waters, Allison Anders, David Ansen (crítico da Newsweek), Darren Aronofsky, Wayne Kramer, Maria Bello, Atom Egoyan, Mary Harron (Psicopata Americano), Kimberly Peirce (Meninos Não Choram), Kevin Smith e Matt Stone. O documentário não aponta uma outra solução o que é realmente difícil, como classificar filmes? Deve ser concenso que haja algum tipo de classificação, ou não? Tudo livre para qualquer idade? Se há a necessidade deveria haver mais clareza nos critérios adotados. E quem faria isso? Fala-se no governo o que não acho exatamente uma boa solução, mas uma companhia privada também é estranho. A esperteza da MPAA é que ela diz que não é algo obrigatório, o filme pode não querer ser classificado, mas cria-se tantos problemas caso se recuse a classificação, o pior deles sendo a distribuição mínima dos filmes nos cinemas que é quase obrigatório disfarçadamente.

À Procura Da Felicidade (The Pursuit Of Happyness)

Algo errado por aqui... Em poucos minutos o filme conseguiu falar mal de chineses, hippies, mães que trabalham em dois turnos (amargas e fumantes) e enaltecer um corretor da bolsa com um carrão. E não é que seguiu assim até o fim? Will Smith tenta um papel mais dramático e menos glamouroso, o que é ótimo visto que ele tem talento para isso, mas faz pouco uso disso (Seis Graus De Separação e Ali). O roteiro de Steve Conrad tem semelhanças com sua obra anterior, O Sol De Cada Manhã, mas a história real interferiu um pouco mais aqui. Chegou uma hora que estava achando que via uma adaptação do livro Como Fazer Amigos E Influenciar As Pessoas. O Y do happyness só pode ser de Yuppie mesmo. Eis a meta do personagem, ser um típico yuppie dos anos 80. A história se passar nos anos 80 com todas as referências ao governo Reagan e sua política econômica servem mais para justificar a administração atual do que criticar (a de Reagan ou a de Bush, ambas semelhantes). Afinal uma história de superação no meio de uma crise financeira para a população mais pobre americana (mas uma ótima época para os financistas) reforça não uma crítica à administração traiçoeira que causou isso, mas a falta de "iniciativa" dos pobres. Do tipo, "só é pobre quem quer". Todas as relações que o protagonista estabelece são superficiais e interesseiras, ele conquista contatos, puxa o saco dos superiores, só desconta suas frustrações em pessoas que não têm potencial para melhorá-lo financeiramente (a dona da creche, os donos dos lugares onde vive, o vizinho, o taxista e o mendigo fura fila), já com o pessoal da empresa ou os médicos em nenhum momento questiona nada de suas vidas ou atitudes, são vistos como bem sucedidos e felizes, para eles tudo é sorrisos. Uma jornada bem individualista (que nem na história real foi assim). Típica mensagem anos 80 mesmo onde valia mais o que se vestia (o lance da boa camiseta como símbolo de algo é representativo), o que se dirigia (o garoto soltar que eles não tinham carro é quase mortal) e onde se frequentava (um camarote num estádio é algo desejado). A era do "EU". Sim, há atenuantes aqui e ali na relação com o filho, no estudo e dedicação, mas é pouco. Apenas para reforçar um pouco mais o tema o clímax não tem nada de pessoal com o filho ou a esposa ou com ele mesmo, mas sim a aceitação numa grande firma. Ele vai ser o que depois Tom Wolfe descreveu bem como "os senhores do universo" em A Fogueira Das Vaidades. Os letreiros finais que acentuam que ele ganhou milhões de dólares não deixam dúvidas da intenção do filme como um todo: você só é alguém se ganhar milhões de dólares. Se o filme fosse um pouco irônico quanto a isso como Arthur Miller tão cruelmente conseguiu em A Morte Do Caixeiro Viajante com seus personagens tipicamente americanos que se iludem em sonhos de grandes fortunas, de ser alguém através do dinheiro e fingindo serem quem não são (além de tantas outras obras que abordam essa farsa do american way of life), mas não é o caso aqui, infelizmente.


posted by RENATO DOHO 9:36 PM
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