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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, março 10, 2007
Apocalypto (Idem)

Apesar de ser uma boa aventura esperava mais do novo filme de Mel Gibson, principalmente após A Paixão De Cristo (único filme dele como diretor que achei ótimo). Os olhares continuam guiando boa parte das ações, o corpo se martirizando também continua assim como a defesa da família e o espírito revanchista. Falta algo a mais em projeto tão grandioso. Tudo soa mais exótico do que com significado, o aspecto antropológico, temporal e de localização fica quase en passant se concentrando mais na ação, na caça que vira caçador (podendo ser em qualquer lugar ou tempo). E aquele começo é muito Cidade De Deus hein! Algumas atitudes do pessoal da tribo já soam deslocadas, moderninhas para criar um sentimento de familiariedade com o espectador (afinal ele já está estranhando o dialeto e as legendas). E no meio da brincadeira uma posição bem de acordo com o diretor: o homem é quem consegue gerar filhos, caso contrário, é motivo de humilhação geral (Mel com seus 10 irmãos e 7 filhos não tem como não negar essa crença). O desenvolvimento da história patina com uma hora de duração, só voltando a engatar de volta na parte final. Parecia que estava vendo O Predador em todas aquelas ações de Jaguar Paw (com direto até à John Woo!), nem faltou o corpo coberto de lama e o pulo nas cataratas (O Fugitivo?). Os melhores momentos são as tomadas em câmera lenta e os pontos de vista de Deus que descem para localizar a ação, isso para compensar a confusão das picotagens nos momentos mais agitados. A violência em nenhum momento chega a ser forte (bem mais explícito e forte com Cristo) e quando aparece geralmente é para satisfação geral (algum vilão morrendo). O filme não querendo se passar por documentário também abre espaço para não ligarmos muito para o contexto que aquela história se passa, o que vale é o jogo de gato e rato.

Babel (Idem)

Eu nem veria o filme no cinema, esperaria sair em dvd, mas Cate Blanchett e uma parte da ação se passando no Japão ajudaram a enfrentar mais um filme do Iñarritu. Cate, coitada, nem atua muito, passa deitada e sangrando boa parte do tempo. Já a parte japonesa se mostrou a única coisa interessante do filme (e bem deslocada, com um fiapo de ligação com as outras histórias). Se destacada das outras partes até poderia ser considerada boa. A moça nem age muito idiotamente ou acaba estuprada pois tomou alguma droga ou deu mole pra um qualquer da rua ou se mata ao final, sem parece filme do Iñarritu hehe Mesmo assim até neste segmento no cerne da coisa, lá no fundo, não diz muita coisa. Já o resto... As "melhores" partes são as atitudes do personagem do Gael García Bernal e a polícia atirando pra matar nos fugitivos (nem uma parada pra dizer que deviam se entregar ou tiros de advertência, queriam eliminar mesmo). É bom não ir ao Marrocos fazer turismo, a não ser que a pessoa queira ser baleada e queira mijar em uma bacia e assim salvar um casamento em crise! E é bom não ter mexicanas como babás, mesmo que trabalhem há anos sempre fazem cagada, ainda mais quando os parentes inconsequentes delas aparecem, essas famílias mexicanas... e seus filhos ficarão traumatizados ao ver outro mexicano na vida. Apesar das narrativas com tempos diferentes tudo é bem linear (e pior, além de saber qual segmento vai aparecer dá pra adivinhar até qual momento veremos no segmento que começa) e captadas de forma comum (mais uma vez diferenciando o Japão, um pouco mais contagiada pela multiplicidade visual da cidade, das boates e da arquitetura). Poderia-se se pensar no filme estruturado em pequenas histórias, não entrecruzadas, como mini curtas, que seria até mais interessante (mas os personagens e o que se conta ainda assim estragariam tudo já que Amores Brutos já era assim) ou ao menos que não houvesse lineariedade nos segmentos em si, podendo ter momentos passados ou futuros espalhados, mas ligados por algo mais que uma história à contar. Ao final quem se dá mal mesmo são os marroquinos e mexicanos e todos se voltam para algo fechado (a família em destaque mas que pode simbolizar guetos, países e nacionalidades) - os americanos ficam juntos, agora sem a mexicana que volta para o filho e o país de origem e pai e filha japoneses se abraçam ao final - pois a abertura ao outro traz problemas, traumas e confusões. O mais irônico é que se realmente Iñarritu acredita no que passa pelo filme, a tal babel, as comunicações falhas entre os humanos, o pessimismo meio arrogante (que aquela dedicação ao filhos deixa explícita: tudo é escuridão, menos os filhos) então a própria idéia de se fazer um filme é ridícula ou mesmo um fracasso esperado (que ele não quer) pois o filme também deveria transmitir essa não comunicação, mas é conscientemente feito para ser facilmente comunicado e compreendido. O sucesso do filme então seria um grande fracasso e vice versa.

Nota: sabia que a menininha americana me lembrava alguém, é a irmã da Dakota Fanning, Elle. Também a tinha notado nos ombros de um oficial em Déjà Vu. Mesmo aparecendo pouco nos 2 filmes puxou o talento da irmã, tem carisma e chama atenção.


posted by RENATO DOHO 12:45 AM
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