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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, maio 05, 2007
... A Father... A Son... Once Upon A Time In Hollywood

Ótimo documentário que a HBO produziu e a atriz Lee Grant dirigiu sobre Kirk e Michael Douglas. Além de conseguir dar uma geral na carreira dos dois atores o documentário conseguiu com que quase todos mais próximos deles fossem entrevistados (filhos, neto, nora, ex-esposa, esposa) além de algumas personalidades como Sherry Lansing, Jack Valenti, Kathleen Turner e Karl Malden. Outra qualidade foi a intimidade conseguida nas conversas entre os dois e em suas entrevistas particulares abordando os temas menos favoráveis como a infidelidade crônica de Kirk, a paternidade displicente dele, os problemas de Michael no casamento e com bebida e drogas, etcs. Não sei se Grant é amiga deles ou se como atriz conseguiu tocar nesses temas sem parecer exploratório. Uma coisa evidente é que ela teve acesso há várias coisas privadas dos Douglas com registros de cenas familiares (cotidiano, férias, casamentos, o bar mitzvah de Kirk aos 83 anos). Mesmo que cada um poderia muito bem ter um documentário inteiro só para ele esse consegue muito bem ressaltar muitos aspectos biográficos em pouco tempo. A coragem de Kirk durante sua carreira apostando em projetos independentes e jovens cineastas; a parceria (cheia de brigas e amizade) com Burt Lancaster que gerou vários filmes; a decisão de colocar o nome de Dalton Trumbo nos créditos de Spartacus (e Kirk dá uma espetada em Stanley Kubrick ao relatar que Kubrick tinha sugerido se colocar nos créditos como roteirista ao invés de Dalton) e como isso foi uma das coisas que mais deu orgulho em Kirk ao invés de filmes; trabalho social de Michael com a ONU; Brian De Palma não aceitando fazer Atração Fatal se Michael Douglas estivesse nele e Michael só sabendo do real motivo de De Palma ter largado o projeto anos depois, pois os produtores acharam que isso iria prejudicar a auto-confiança dele (os relatos fazem com que De Palma apareça como a pessoa que errou, que julgou errado, o que até pode ser, mas ao mesmo tempo evitou ter feito aquele filme, o que é um acerto); o cortejo (demorado) que Michael teve que fazer com a Catherine Zeta Jones após uma primeira má impressão (ela achou que toda a má fama dele era real no primeiro encontro) que envolveu até os pais e irmãos dela e meros 2 ou 3 beijos nos primeiros 8 meses e que remete ao casamento de Kirk com Anne, 53 anos de casados este ano, já que ela, como Kirk mesmo diz, demorou um tempão para ir para a cama com ele. O desastre quase fatal que Kirk sofreu em 91 modificou sua vida, algo que nem sabia, e a partir dai todos à sua volta notaram essa mudança, para melhor. Grant (ou a HBO) teve acesso também ao acervo da Academia então as várias aparições dos dois no Oscar são mostradas, inclusive um ótimo número cômico musical que Kirk e Burt fizeram. A homenagem ao Kirk ocorrida na década de 90 chega num momento exato em que estamos mais por dentro do que ocorre naquela família, então Michael todo emocionado e Anne chorando após Kirk dedicar ao prêmio à ela trazem mais emoção revistos dentro do documentário. Nas conversas entre Kirk e Michael foi muito bom que mais câmeras registrassem o acontecimento, podendo pegar os dois no geral e cada um individualmente (Grant usa o split screen em certas horas). Enfim, ao final há esse sentimento de pai e filho bem mais forte do que somente uma revisada de suas carreiras e aumenta a admiração ao Kirk, essa fortaleza ainda bem vivo aos 90 anos de idade.

Desafiando O Perigo (Game 6)

Michael Hoffman dirigiu o primeiro roteiro do famoso escritor Don DeLillo e que trata de uma história que envolve um autor teatral (Michael Keaton) angustiado por ter sua peça estreando no mesmo dia da final do campeonato de beisebol onde o Boston Red Sox (seu time do coração) tem a chance de quebrar a maldição de não ganhar o campeonato desde 1918 (o filme se passa em 1986). Além da questão do Red Sox (quem conhece um pouco sabe o que ocorreu com essa maldição) há o fato de um importante crítico teatral (Robert Downey, Jr.) que irá criticar a peça e é impiedoso na maioria das vezes, destruindo peças, carreiras e até a vida pessoal dos autores e atores. Nas idas e vindas do autor pela cidade neste dia há vários bons momentos em que DeLillo tematiza questões sobre o fracasso e sobre a fé misturando a vida pessoal com a vida artística e o esporte; e como essas coisas vão moldando tanto nosso caráter quanto nossos caminhos. A parte que o autor explica o quanto o "fracasso" do Red Sox é tão mais significativo e rico do que o "sucesso" do Mets (ou qualquer outro time cheio de vitórias) é ótima e poderia até ser extendida num longo monólogo. Um trecho:

"When the Mets lose, they just lose. It's a flat feeling. But the Red Sox -- here we have a rich history of interesting ways to lose a crucial game. Defeats that keep you awake, that pound in your head like the hammer of fate. You can analyze a Red Sox defeat day and night for a month and still uncover layers of complex feelings - feelings you didn't know you were capable of. The pain has a memory all of it's own"

Não sei o quanto há de vida real do DeLillo no texto (ele passou por isso?). Curioso que o filme é do ano em que finalmente o Red Sox ganhou. Isso teve alguma influência na feitura do roteiro ou do filme? O porém é que o filme poderia ter se aprofundado mais nos vários temas que discute, como está parece curto e incompleto.


posted by RENATO DOHO 12:15 AM
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