O Gângster (American Gangster) Perfeita a escolha de Ridley Scott desse projeto com roteiro de Steven Zaillian. O filme consegue encaixar muitos temas peculiares à ele e ser baseado em fatos reais (assim como Falcão Negro Em Perigo ou Tormenta). Essa mistura de fatos históricos com histórias pessoais não é novidade para Ridley, mas aqui chega a parecer até planejado. É menos a ascenção, inédita, de um negro no crime organizado e nem a operação do incorruptível policial, mas sim os seus fracassos abrangendo não só suas vidas pessoais, mas o sistema que os rodeia (o combate ao tráfico de drogas e suas divisões especiais) e o país como um todo (o fracasso no Vietnã). Ridley não faz desses eventos como se fossem paralelos, mas interligados, muito mais preocupado em como indivíduos, grupos e país reagem diante disso, como lidam com seus próprios fracassos. E se de um lado ele vê que o indivíduo lida bem com isso, assumindo suas responsabilidades, do outro fica-se uma crítica do coletivo, principalmente ao constatar a escalada das drogas e todas as lições não aprendidas do governo ao interferir militarmente em outros países. O filme se distancia do modelo de subida e queda de uma figura de destaque, por isso ameniza em excessos desse tipo de configuração - não há violência desnecessária ou ação demais apenas para entretenimento - tudo fica em seu lugar e tem sua hora, podendo frustrar espectativas. Particularmente é extremamente interessante que Russell Crowe e Denzel Washington sejam os principais atores. Acaso ou uma importante escolha? Russell tem uma longa parceria com Ridley, mas Denzel trabalha pela primeira vez com Ridley (já com Russell é a segunda vez), só que ele tem uma longa parceria com o irmão de Ridley, Tony. Sabendo disso, e notando como são as ligações que os personagens estabelecem durante o filme, algo a mais surge. Denzel e seu antigo chefe, uma relação quase paternal, ele e seus irmãos, agora ele na figura paternal, ele e seu sobrinho (bom de beisebol), ele e a esposa e ele com Russell, quase uma parceria e não um antagonismo. Já Russell vai no extremo oposto nas suas relações com a ex-esposa, com suas diversas transas, com os outros policiais, só tendo uma relação aparentemente sólida com um bandido amigo de infância. Há também uma semelhança entre eles: são deslocados em seus universos, por isso a ligação entre ambos se afina ao se conhecerem e a pessoa deslocada, de alguma forma, em seu ambiente é algo tão próximo aos personagens de Ridley em seus filmes, talvez tendo um pouco dele mesmo nesses personagens. Entre os coadjuvantes destaque para Josh Brolin, odioso no papel. A trilha (ver posts anteriores) é ótima, ajudando a criar todo um clima anos 70 para o filme. posted by RENATO DOHO 9:43 AM . . . Comments: