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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, dezembro 21, 2007
No End In Sight



Charles Ferguson, que escreveu e dirigiu esse documentário, conseguiu dar uma dinâmica de um thriller político sem usar não mais do que imagens de arquivo e entrevistas com as pessoas envolvidas. É como se didaticamente, de forma positiva, ele ordenasse os eventos para um grande alcance de público. Boa parte do que ele apresenta uma pessoa bem informada já sabe, viu ou leu, mas é na ordenação que ele cria um quadro geral melhor. Isso lembra o que Brian De Palma fez em Redacted: tudo já estava por aí, espalhado pela internet, mas é da forma que ele reúne tudo e ordena que nasce algo novo e maior. O que o documentário mostra é a sucessão inacreditável de erros da administração Bush na guerra do Iraque, são tantos que chega uma hora que estamos aflitos, nervosos e irritados com cada decisão, cada passo dado, como se acompanhássemos uma trama ficcional absurda. Uma das principais críticas da pequena parte do público que não gostou do documentário é que nunca se tenta questionar a guerra em si, mas isso eu acho de uma grande ingenuidade e jamais fez parte do projeto. Realizar mais um panfleto anti-bélico tem efeito quase nulo, enquanto que analisar e apontar decisões erradas da administração diante de uma situação serve não só para uma avaliação mais objetiva do que ocorre, mas também é útil para toda e qualquer forma de encarar uma crise e um problema, seja pessoal, econômico e social. São atitudes e formas de pensamento e ação que não são específicas para a guerra do Iraque ou um país invadindo o outro, mas sim de maneiras desastradas de lidar com outra cultura, outras pessoas e as coisas. Nisto o documentário não fica datado e pode ser apreciado tanto hoje como no futuro, e não só nos estudos de história, política externa ou guerra, mas em administração e gerenciamento, em escolas, firmas, organizações, equipes e grupos e até na esfera pessoal de cada espectador. Claro que atualmente, a questão mais importante se dá na esfera da política externa e em como as coisas vão se resolver diante do caos apresentado. O documentário me cativou tanto que retomei a leitura de um livro que estava parado e terminei Contra Todos Os Inimigos de Richard A. Clarke, que esteve nos governos Bush pai, Clinton e Bush filho em diversas funções, a mais reconhecida foi a de chefe antiterrorismo. Um ótimo complemento ao documentário, de alguém de dentro do poder. E se no filme vemos os erros no Iraque no livro acompanhamos com ainda mais informação do que vinha sendo feito nos governos anteriores, principalmente no de Clinton, o quanto a administração Bush desviou completamente do que poderia ser feito. Nem a mais simplista das visões de que tudo não passa de interesse no petróleo e em lucros com a guerra se sustenta diante de fatos que mostram ações burras que causam mais prejuízo do que qualquer outra coisa. Fosse apenas esses os motivos a situação estaria muito menos caótica e até haveria uma solução à vista. Tanto Ferguson, quanto Clarke (e por que não colocar aqui também De Palma) terminam de forma pessimista quanto ao futuro. Ah, vale mencionar a narração sóbria de Campbell Scott. E especialmente para nós é interessante ver a boa participação de Sérgio Vieira De Mello e seu triste final. Como o filme ainda é inédito por aqui só achei
essa impressão em nossa mídia.

posted by RENATO DOHO 7:41 PM
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