RD - B Side
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, janeiro 22, 2008
4 Meses, 3 Semanas E 2 Dias (4 Luni, 3 Saptamani Si 2 Zile)



Filme da Romênia ganhador da Palma De Ouro em Cannes ano passado. Se o começo me pareceu dispersivo e nada cativante a cada nova cena foi despertando o interesse e o fascínio pelo relato cru de uma tentativa de aborto por uma jovem estudante. Tirando todo o tema bem chamativo e exposto do aborto foi a forma do filme que trouxe uma melhor visão do que ele tratava. Longos planos seqüências e longas tomadas fixas evidenciam o que está fora do quadro ou o que a câmera não pega (o cartaz é muito bom por esse motivo). Seja, de fato, algo que ocorre logo ao lado como em outro lugar, longe dali, as coisas fora de quadro são tão importantes quanto o que é mostrado. Nisso, até o início entra dentro dessa proposta, com a câmera vasculhando aquele espaço e mostrando tudo, mas deixando de revelar o que realmente é importante que é para o quê elas estão se preparando. Os diálogos têm sua força também pelo que é dito e não é dito. Muitas das reações faciais dos intérpretes não aparecem e numa narrativa mais comum isso seria essencial para o efeito de identificação e compreensão de atitudes. Pode-se pegar o exemplo da bronca que uma das jovens dá em outra: só vemos a que bronqueia quando a cara da outra poderia nos revelar o que realmente passa por sua cabeça e como ela se sente diante disso. Tudo é multiplicado nas cenas seguintes quando as duas se separam e, quase em tempo real, só vemos um dos lados, imaginando aflitivamente o que ocorre do outro lado. O auge disso é a cena da mesa na festa de aniversário da mãe do namorado de uma delas ou no telefone ocupado que está em outro cômodo. Pode-se dizer que o filme brinca com as expectativas do público (quase sadisticamente), mas logo em seguida oferece uma jornada pessoal com a câmera quase grudada na atriz, onde aí mistura-se o dentro e fora do plano. E se a cena de sexo é deixada de fora, plenamente de acordo com a intenção, é de se pensar se um detalhe, um movimento de câmera e uma revelação eram necessários. Aí acho que o filme vai contra si próprio, pois é um dos raros planos que o que importa está sendo filmado e nada além daquilo. Será que era necessário aquele plano? Ele funciona em outro aspecto que até tem sua validade, mas para isso ocorreu a traição. Uma leve traição, possível, seria a dos procedimentos na cama onde só uma se encontra fora de quadro, mas talvez o ângulo oculte quem realmente está de fora e é o mais importante ali, mas fico pensando se tudo fosse visto com outro foco, se melhoraria ou não. Um dos planos da cama me fez lembrar na hora do Shyamalan de A Vila. A total ausência de referências ao contribuidor da gravidez também ajuda a deixar coisas que importam do lado de fora. E para os romenos fica ainda algo a mais, a ambientação da história é no fim dos anos 80, e outra coisa está fora de qualquer plano do filme, o hoje, e a relação que o filme tem entre o que mostra e a atualidade. Como não sei maiores aspectos do cotidiano romeno fica-se no reino das hipóteses o que cada coisa filmada remete ao fora do quadro (tempo) e que é de grande significação. O filme termina de forma brilhante jogando para fora do quadro e diretamente em nossos colos o que o filme tratou: já não são mais elas, mas nós, cúmplices e com uma parcela de responsabilidade.


posted by RENATO DOHO 12:10 AM
. . .
Comments:


. . .