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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quinta-feira, julho 10, 2008
Fim Dos Tempos (The Happening)


Era de se esperar tal filme vindo de M. Night Shyamalan logo após a má recepção de A Dama Na Água. Só não se esperava que ele iria tão fundo assim na reflexão de sua própria condição dentro da indústria.

A ameaça surge em parques (holly wood?). As falas truncadas, a paralisação e o andar para trás não lembram (entre outras coisas) a exibição de um filme com problemas? A morte do cinema ou de um tipo de cinema? Os efeitos sem efeitos, o monstro traduzido em cenas de pessoas correndo do vento. Ou onde apenas planos de um galho e um balanço estabelecem toda tensão que pode nem existir fora de seu contexto (efeito kuleshov?). O desnudamento das coisas onde apenas numa casa modelo, onde tudo é falso, há a aparência de que tudo está bem (mais uma vez, o cinema?), lembrando da farsa de A Vila tanto quanto comunidade como com relação ao “monstro”. Leguizamo é o homem dos números, das porcentagens, dos orçamentos, das pesquisas demográficas, das bilheterias (por isso ele se veste mais como um executivo do que um professor?)... A câmera segue a morte, seja na arma passando de mão em mão no trânsito parado, aos visitantes do zoo que registram os leões, na velha que entra de cabeça nas janelas ao carro que bate de frente com a árvore, há um enfrentamento claro de um autor ou de um tipo de cinema diante das coisas como estão, num risco quase mortal.

Mas, acima de tudo, o filme trata, em vários níveis, das falhas de comunicação. O casal que parece estar no meio de uma crise onde uma das pontas é um admirador que vê os sinais errados. As informações vindas de celulares, rádios e tvs mais confundem que esclarecem algo. E cada informação só faz com que as pessoas se afastem umas das outras. Sintomática aquela encruzilhada na estrada onde, quase que numa exceção, as pessoas vão chegando e se reunindo. Se o acúmulo de informações e pessoas só é prejudicial, o isolamento (físico e comunicativo) também se mostra danoso (a velha senhora). É na falha de comunicação que os jovens morrem na casa ocupada. O que é Wahlberg falando com uma planta de plástico, e continuando a falar mesmo sabendo disso senão a tentativa falha de comunicação entre as coisas? E se é pela fala que o casal se comunica entre casas (e de certa forma num diálogo possível apenas pela montagem) é da vontade da união física que se completa a família em última instância e da coragem de enfrentar o não visível que se vence a ameaça.

Shyamalan e o público? Shyamalan e Hollywood? Shyamalan e a crítica?

Qual é a cor do amor?

Não é sem razão que a notícia da gravidez é dada sem palavras. A comunicação finalmente se estabelece, ao menos naquele núcleo, ao menos dentro do próprio cinema de Shyamalan.

A tal “teoria” só pode ser comprovada, diante do que o especialista fala na tv, com o evento ocorrendo em outro lugar. Que lugar? A França. Shyamalan não escolheu o lugar à toa.

E não, não são os "fim dos tempos", mas sim é "o acontecimento", e assim deve ser encarado tanto o filme quanto o que ele se propõe a discutir, refletir e questionar.

posted by RENATO DOHO 5:24 PM
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