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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, agosto 08, 2008
Stanley Kubrick's Boxes



Documentário fascinante pelo que tem a mostrar mais do que pela forma como mostra que é apenas correta. Stanley Kubrick mantinha em sua mansão milhares de caixas das mais diversas sobre todo e qualquer aspecto de seus filmes, filmados ou projetos, além de outras de conteúdo diverso e particular. Basicamente ele armazenava tudo. E metodicamente. O documentarista passou 5 anos com essas caixas, com permissão concedida pela família de Kubrick. O documentário é uma tentativa de mostrar o que são essas caixas. Claro que sendo para a tv, com pouco tempo, tudo parece rápido demais, dá vontade que aquilo ficasse por horas e pudéssemos realmente adentrar em cada caixa. O que há em cada caixa? Tudo! Um dos primeiros aspectos focados são as milhares de fotos tiradas nas pré-produções dos filmes - locações, figurinos, objetos, uma infinidade de coisas. Um portão que apareceria apenas alguns segundos na tela levou a centenas de fotos de diversos portões, até Kubrick achar o seu portão perfeito. E isso acontecia com quase todo o resto. O sobrinho dele era o fotógrafo (ao menos em seu último filme, De Olhos Bem Fechados) e há divertidas histórias, como a de fotografar uma rua inteira para fazer um painel, tendo que usar uma escada para que as casas não parecessem inclinadas. O assistente pessoal de Kubrick (por 31 anos), o cunhado produtor, a viúva e filha, entre outros, dão mais detalhes relacionados com as caixas, assim como o seu método de trabalho, pesquisa e vida. Uma curiosidade é que Kubrick lia e catalogava TODAS as cartas de fãs que recebia! Primeiro anotava se a carta era positiva, negativa ou de estranhos, depois tinha, claro, caixas, onde separava as cartas pelas cidades dos remetentes. Uma das pessoas que escreveu para Kubrick é entrevistada, um ex-roteirista que escreveu uma carta furiosa para o cineasta após a frustração de ver sua adaptação de seis horas do livro The Death Of Adolf Hitler para a tv acabar virando um pastiche de uma hora e cinquenta minutos, totalmente multilada. Ao mesmo tempo Kubrick lançava Dr. Fantástico. Bêbado, no dia em que sua adaptação passou na tv, ele escreveu uma enorme carta para Kubrick. Sua carta foi classificada como de estranha por Kubrick hehe

Há muito mais curiosidades sobre Kubrick como as memos dele para seu assistente com os pedidos mais bizarros possíveis (pedidos de medições oficiais da pressão atmosférica em certos dias e horários), nos horários mais estranhos (não aparece no documentário, mas Spielberg recebia faxes constantes de Kubrick em seu quarto, em qualquer horário - tanto que a esposa de Spielberg o fez botar o fax em outro lugar). Suas perguntas detalhadas para um de seus amigos que estava de férias, conceito que Kubrick não entendia, com a família, na praia, perguntando o por quê de cada ação "de férias" como ir na praia, construir castelos de areia, brincar com os filhos... Suas constantes preocupações com seus gatos e cachorros. A procura da caixa perfeita, que encomenda com detalhes específicos de como construí-la. Como ele verificava cada cartaz de seus filmes que saía em revistas e jornais do mundo todo e achava erros de medidas, as quais ele pedia explicação. A angústia de tentar achar novas histórias para filmar e não achar, causando depressão. E nisso ele fez com que o cunhado criasse uma produtora para contratar leitores nos EUA para ler roteiros e livros e fazer resumos sem que soubessem que eram para Kubrick ler. Sua pesquisa exaustiva de anos para realizar Wartime Lies, sobre o Holocausto, que ele deixa de lado após Spielberg lançar A Lista De Schindler.

Rolos de filmes são achados e, como Kubrick queimava as cenas que não usava em seus filmes, revelaram ser mais de 13 horas de filmagem dos bastidores de Nascido Para Matar que sua filha fez. Vemos apenas um pouquinho, mas é algo que deveria ser disponibilizado na íntegra. Mesmo sendo a filha dele a filmar notasse que ele fica todo sem jeito diante das câmeras. Um de seus assistentes, que gravou uma de suas últimas declarações públicas por causa de um prêmio, o considerava um homem bem tímido.

Muito mais é mostrado no documentário, prato cheio para os fãs do diretor, mas muito mais fica de fora, o que é uma pena. O aspecto positivo do documentário é de fazer com que as pessoas desejem ver ou rever os filmes de Kubrick, não que isso já não é inerente aos filmes, mas seria um fracasso se nem isso o documentário conseguisse, e ele consegue ao unir o fascínio pelo homem ao fascínio pelos filmes.

As caixas foram doadas para uma universidade, onde ficarão melhor conservadas e à disposição dos alunos de cinema.

O que desperta mais uma vez ao ver o documentário era o quanto Kubrick era realmente um gênio, não apenas restrito numa área, ou no uso desgastado da palavra, mas como ser humano. Raríssimos são assim e por isso as caixas exercem tanto fascínio.

O documentário pode ser baixado ou visto no
google video ou no youtube.

posted by RENATO DOHO 11:10 AM
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