RD - B Side
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, maio 05, 2009
The Secret Life Of The American Teenager - Season 1





Como explicar essa série de forma que minha apreciação dela seja coerente? Bom, não tem como. Tudo começou quando soube que a série tinha batido recordes de audiência do canal ABC Family e que a sumida Molly Ringwald estava no elenco. Bateu uma curiosidade de, na época de estréias de novos seriados, ver o que ela tinha pra chamar tanta atenção assim. Não sei exatamente o que havia naquele piloto, mas fui fisgado e acabei, mesmo achando que ia largá-la em poucos episódios, vendo toda a temporada.

Agora vem as idiossincrasias: a trama não tem nada de original, parece que tenta pegar a onda de Juno ao falar de uma garota de 15 anos que em sua primeira transa acaba grávida. O que vai se desenrolar a partir daí também não tem muita novidade. Os atores são em sua grande parte desconhecidos, Molly acaba sendo o rosto mais famoso (e Steve Schirripa, o Baccalieri de Família Soprano). E suas atuações não são, digamos assim, muito boas para certos padrões. Mas aí começa a bagunça: se não atuam bem por quê acabei acreditando que boa parte dos atores eram os seus personagens? Não é isso que se chamaria de boa atuação? O fazer acreditar? Ou ao menos um bom casting, escolhendo as pessoas certas para os tipos certos? Mesmo o ator que tem síndrome de Down não dá a impressão que depois do "corta" deixe o seu personagem e vire outra pessoa. Penso que se alguém filmasse (escondido) minha adolescência iria achar que todos os "atores" não são nada bons também, caricaturais, fazendo pose, que não expressam direito seus pensamentos e emoções. Tirando um ou outro coadjuvante eu realmente achava que Grace tinha aquela boa vontade cristã e estava sempre de bom humor e que Ashley era aquela adolescente sarcástica, com frases de efeito, de poucos amigos e que esconde boas intenções por trás de uma pose rebelde. As soluções de roteiro passam por coincidências demais, um que se trata com o pai daquela que namorou aquele que tem uma mãe que foi casada justamente com o pai da protagonista, etcs. As coisas vão girando em torno daquele núcleo, onde todos estão ligados até demais.

E por quê diabos a série me atraiu? Realmente não sei. Um dos motivos é que o elenco feminino é muito bem escolhido. Tirando as duas amigas da protagonista todas as outras (adolescentes e adultas) me atraíram de alguma maneira. A latina fogosa (e sua mãe idem), a loira all american girl de sorriso cativante, a japinha esquentada, a primeira namoradinha, a milf da vez (Josie Bissett, de Melrose), a exótica irmãzinha, etcs. Além de serem belas elas se encaixaram muito bem em seus papéis, fazendo com que queíramos saber o que vai acontecer com elas.

Depois foram as pequenas coisinhas que a autora (Brenda Hampton) foi colocando. Apesar de fugir do real a série aborda temas pesados de forma natural. Aborto é discutido, adoção por um casal gay, abuso sexual, sexo entre irmãos, divórcio, garotas de programa, infidelidade dos pais, casamento entre adolescentes, venda de bebês, sustentação financeira ao criar um bebê, a enorme dor do parto, etcs. Ainda mais que eu sabia para qual tipo de canal isso estava sendo realizado e quais geralmente são os tipos de seriados que exibem. A ABC, sem ser Family, fez My So Called Life que poderia ser Secret Life um pouco mais adulto. O que talvez tenha sido evitado ou ficado de fora foram drogas e bebidas, algumas poucas menções, geralmente negativas.

Hampton ficou famosa por fazer esse tipo de abordagem em sua série anterior, 7th Heaven, onde assuntos da vida real são tratados em cada episódio ao invés de ser apenas um seriado novelinha. Nunca vi a outra série (que revelou Jessica Biel), mas vejo alguns pontos em comum ao retratar famílias, igreja, adolescência e puxar pela emoção (Secret Life tem algumas belas cenas emocionais). Mesmo em filmes com temas semelhantes não se aborda as coisas como Secret Life fez. Juno é um bom exemplo disso, apesar do jeito indie ele contorna várias coisas e não diz as coisas pelo nome.

Outra coisa legal, mas não tanto, é que quase todos os personagens começam bem tipificados e acabam ficando mais "complexos". O mocinho começa a mostrar vários defeitos, o bad boy tem momentos de bom caráter, a galinha se mostra romântica, etcs. Só que não há mudanças repentinas, as coisas vão se alternando cena a cena, o bom não vira mau e vice versa, só às vezes, para logo em seguida mudar. O "nem tanto" é que isso tira o gosto puramente dramático da coisa de ver o sacana se danar, a ingênua se estrepar, a boazinha ser reconhecida e assim vai. O cara acaba de sacanear alguém e você espera que ele pague por isso e logo a seguir ele tem um gesto bem bacana com outra pessoa, anulando qualquer sentimento de querer vê-lo em maus lençois. Nisso o término da temporada tem um lance muito engraçado que pode até dar o que pensar, onde uma canção em especial tem papel de aviso, do tipo, pra lembrarem de algo lá do começo.

Fui apenas ver a recepção da série e comentários sobre ela só depois que vi toda a temporada e não me surpreendi em ver uma boa parcela tanto de público quanto de crítica ter essa dicotomia interna no que acharam. A "melhor pior série" da temporada é algo comum de se ouvir, "boa de tão ruim" não fica atrás. Todos partilhamos do sentimento que racionalmente a série tem muita coisa para ser criticada, mas não conseguimos explicar por quê ela nos atraiu a ponto de vermos todos os episódios.

Disse para mim mesmo que terminaria a primeira temporada, que chega numa quase conclusão, e não veria mais, só que não sei se a curiosidade em saber como as coisas vão rolar daqui pra frente não vai fazer com que eu acabe vendo a segunda temporada.

Acho que para o público pré-adolescente, até os 15 anos, a série é uma boa pedida, pois é para ele que muitos dos temas servem e as situações são familiares. Por isso que quis passar ou recomendar para pessoas dessa idade que conheço.

Só sei que vale a pena prestar atenção em Megan Park, Francia Raisa, India Eisley (que, surpresa, é filha de Olivia Hussey, a famosa e linda Julieta do Romeu E Julieta do Zeffirelli), Amy Rider, Shailene Woodley e Paola Turbay daqui pra frente. Mesmo que apenas para embelezar nossa visão.





posted by RENATO DOHO 7:30 AM
. . .
Comments:


. . .