RD - B Side
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, novembro 27, 2010
PESQUISA LITERÁRIA 2010 (19)


QUAIS OS ÚLTIMOS CINCO LIVROS QUE VOCÊ LEU?


MAYUMI KAWAMOTO




Os Sinos De Nagasaki - Paulo Nagai

Esse é o meu preferido sem sombra de dúvida, um achado na minha vida, o li pela primeira vez quando tinha 13 anos e depois o reli inúmeras vezes. O relato presente nesse livro é simplesmente incrível e não há como não se envolver com a história. A edição que tenho dele está se desfazendo de tão antiga e quando ganhei já era velhinha, ela é de 1959 (na verdade tenho dois exemplares, o outro está mais bem conservado e é da década de 60, uma reedição). Se você é daqueles que chora vendo Ichi Rittoru No Namida vai chorar mais ainda lendo esse livro. O relato é comovente. O autor é um médico que sobreviveu à bomba, mas que conviveu com os efeitos da radioatividade e estudou em seu próprio corpo esses efeitos. Além disso, ele faz a descrição detalhada das cenas horríveis que ocorrem concomitantemente ao cataclismo da bomba e no pós bomba e o estado das pessoas, da cidade. É um relato dramático, mas que mostra a realidade tal como ela se apresentava, como por exemplo, a forma como ele encontra a esposa carbonizada com um terço na mão. Pra mim é um testemunho de esperança em cada uma das 200 páginas e por isso eu sempre recomendo a leitura.




Clube Dos Corações Solitários - André Takeda

Esse é um daqueles livros que eu não dava nada e acaba que o livro me prende e eu me reconheço em partes dele. Não lembro como cheguei a ele, mas sei como ele me pegou de jeito. Sempre fui fã dos clássicos da literatura nacional e mundial e de repente me pegar lendo um livro dessa nova literatura considerada literatura pop digital é meio que uma ruptura com o que me era habitual. Mas o livro é tão direto e captura a vida em instantes tão únicos e com confissões tão semelhantes a dos meus amigos e as minhas próprias que me senti parte integrante dessa guerrilha pop como o Lúcio Ribeiro descreve na orelha do livro, na luta pelo direito de escrever sobre a namorada e sobre os Pixies na mesma linha, de sofrer por amor e buscar explicação nas teorias nickhorbianas. O livro definitivamente foge dessa mesmice absoluta que paira sobre os nossos telhados e me identifiquei demais com a melancolia, a “infelicidade cultivada”, o descompasso dos acontecimentos e a abordagem dos vários lances do livro. Antes eu brincava dizendo que via meus amigos no Spit (protagonista do livro), hoje eu admito que eu me vejo no Spit, não em tudo (ele fuma e eu abomino cigarro), mas em muitas das visões dele da vida e na forma como ele afirma lá pelas últimas paginas (página 191) a forma dramática como ele encara certos acontecimentos e sentimentos e como ele admite finalmente que mergulha intensamente em muitas e tantas coisas/relacionamentos/pensamentos/caminhos e eu vi o que eu estava vivendo e pensando há um mês atrás. Vale a pena ler!




Nunca Subestime Uma Mulherzinha - Fernanda Takai

O livro é uma reunião de contos e crônicas publicados pela autora nos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas, com prefácio escrito por Zélia Duncan. Ganhei do meu ex-namorado esse livro numa visita que fiz a ele em Sampa... na verdade ele me disse pra escolher um livro numa lista com vários vendidos pela Folha, escolhi esse porque achei devidamente instigante o título e fora que meio que gosto do Pato Fu e das composições da Fernanda Takai. Considerando que até Clarice Lispector era uma mulherzinha... o que eu posso dizer então?!?! Mas o que mais me chamou a atenção foi o texto referente ao que estava escrito numa camisa da Fernanda Takai num show... Eu sei voar... e o desenho da borboleta atrás da camisa... colocar asas nos sonhos... e eu digo yes... and I'll fly like a butterfly... meus sonhos andavam dando de encontro em algumas paredes e quando li isso... algo em mim disse que sim eu posso voar... posso não ter asas, mas meus sonhos tem... e como voam longe e alto...

Que sejamos mulherzinhas... mas nunca subestimadas... mulherzinhas sim e das boas!

Altamente recomendável a qualquer mulherzinha, mulherão, homenzinho ou homenzarrão que não vai deixar de se encantar com as situações tão corriqueiras e encantadoras em que somos lançados nesse livro... desde fazer um pão com a filha, lembranças de 20 e tantos anos atrás... lembranças... todos nós as temos, mas como as encaramos e como convivemos com elas que é a questão... mas é isso... permita-se entrar nesse mundinho permitido da Fernanda Takai... pena que dura tão pouco, são apenas 136 páginas...




Memória Do Cotidiano (A Belém De Quase Ontem) - Lúcio Flávio Pinto

Para mim sempre é gostoso ouvir ou ler sobre história e ainda mais sobre a história da cidade em que eu nasci. Belém possui uma história incrível, pena que tudo virou só história e ficou na lembrança de muita gente... Esse livro é mais um retrato da Belém do "já teve"... interessantíssimo diga-se de passagem... o livro nos remete a extratos retirados dos jornais e propagandas circulantes na cidade no período de 1914 a 1987... e ele termina onde eu começo... nasci em 1987...

E como consta na contra-capa... "O leitor que percorrer os textos e as imagens sairá da leitura compreendendo melhor e valorizando mais a sua terra. E descobrindo-se também um personagem dessa história"... Bem que eu queria ter tido o prazer de conhecer o Grande Hotel ou um dos 13 cinemas de rua existentes em 1958 em Belém... se bem que ainda cheguei a ver "Os Trapalhões" no Cine Palácio antes de ele virar Igreja Universal... e como gostava de ver filmes na salas gigantes do Olímpia e do Nazaré (agora Lojas Americanas), quanto aos outros nem sequer vi sombra... e os coretos do largo de Nazaré??? Um deve estar muito bem alocado em Petrópolis... É, Belém tem dessas coisas... Não tive a sorte de me deliciar com um biscoito fino ou um chocolate da Fábrica Palmeira... Nasci e já havia o buraco da Palmeira que me dava medo quando criança (achando que ali habitavam os seres mais absurdos possíveis... mente criativa a minha não é?)... Mas há as suas vantagens em nascer pós uma época em que a "Folha do Norte" publicava diariamente os nomes de quem faltava as aulas nos colégios da cidade... Já pensou ser pega através do jornal cabulando? Numa época em que há colégios a cada esquina e que o Paes de Carvalho já não forma a elite local. Essas noticias realmente soariam desnecessárias e mesmo absurdas...

É, Belém já teve dessas coisas... e muitas outras mais que minha geração e talvez a geração antes da minha não presenciaram nem puderam prestigiar... é... a Belle Époque realmente passou... e os resquícios dela estão sumindo pouco a pouco... muito sutilmente (ou descaradamente, depende do ponto de vista) a cada governo que passa...




Corações Sujos - Fernando Morais

Estava na feira do livro em Belém em 2001 quando passei pelo stand da editora Vozes e vi esse livro (que não foi publicado pela Ed. Vozes!) e ele estava sendo vendido por R$ 19,00 e ele tinha sido lançado fazia pouco tempo e o preço dele normal era mais de R$ 40,00. Comprei na mesma hora e simplesmente adorei o livro e a forma como o autor desenvolve e explora a temática tratada nele. Além de eu já ter lido outros livros do autor (Olga, por exemplo) e ter gostado, o que influenciou minha compra. O livro é tão bom que está sendo rodado ou foi rodado o filme de mesmo nome baseado no livro. Já li inúmeras vezes e sempre descubro novas coisas quando o leio. Quando o li pela primeira vez eu ainda não estava na faculdade e até cheguei a cogitar fazer História pra estudar essa mesma temática na colônia japonesa do Pará.

O mais incrível é que esse assunto não se esgota nesse livro. Conversando com os mais velhos de lá de Belém eu ouvi que houve um movimento no Estado do Pará semelhante ao de São Paulo, seriam os braços da Shindo Renmei no norte do país? Hehe... Aí é assunto para ser estudado em dissertações e teses de doutorado. Mas é um assunto interessante e um aspecto da colônia pouco conhecido até mesmo pelos descendentes. Esse rebuliço dentro da própria comunidade nipônica com seus aspectos trágicos e cômicos, pois muitas das atividades da Shindo Renmei mesmo sendo bem arquitetadas na hora da execução alguma coisa boba dava errado e o plano homicida acabava frustrado. Não vejo a hora de assistir o filme!




Machu Picchu – Na Trilha Dos Incas - Geraldo Abud Rossi

Como boa mochileira que eu sou, vez ou outra me pego lendo livros sobre meus próximos destinos. E Machu Picchu é um lugar que eu tenho vontade de conhecer desde que li o livro Aventura No Império Do Sol (assim como eu quis conhecer Ouro Preto depois de ler A Ladeira Da Saudade do Ganymedes José). Ganhei esse livro de um amigo e realmente gostei da abordagem do autor. Porque o livro vai muito além de um guia onde o autor descreve suas próprias experiências, apresentando dicas e informações valiosas sobre o percurso desde o Brasil até o Machu Picchu, falando sobre o Trem da Morte, passando pela Bolívia e Cuzco e com inúmeros registros e valores de locais para estadia, o livro se insere na cultura, na história daquela civilização, nos permitindo compreender a singularidade e as peculiaridades dos seus sítios arqueológicos, dos legados, das tradições e costumes e seu regime atual. O livro apresenta trilhas pelo Vale Sagrado dos Incas onde existem templos e santuários e cidades sagradas com mapas para ajudar no percurso, registros fotográficos e um pequeno glossário com palavras relevantes no final da edição e algumas dicas ao lado de cada etapa do percurso, além de apresentar com exclusividade o caminho secreto de Salcantay que leva a Machu Picchu, desconhecido pelos turistas e era usado pelos soldados incas. Recomendo a leitura aos mochileiros de plantão.


NOTA DO OWNER: abri exceção e publiquei os 6 livros citados na resposta por não querer cortar um dos livros.

Marcadores: , ,



posted by RENATO DOHO 12:00 PM
. . .
Comments:


. . .