segunda-feira, junho 20, 2011
The Killing ou
Esse comentário contém spoilers, só leia se não se importar do final ser discutido abertamente.
A série da AMC baseada em uma obra dinamarquesa tem um ritmo típico de outras séries do canal (Mad Men, Rubicon, Breaking Bad), com tudo sendo mostrado ao seu tempo. Isso foi uma das suas principais qualidades, ainda mais que se trata de um seriado policial, de investigação, onde geralmente as coisas ocorrem mais dinamicamente.
O roteiro fez questão de mostrar a investigação falha da protagonista, que não é nenhuma expert que sabe de tudo ou tem sacadas brilhantes. Só que isso ao mesmo tempo que foi positivo mostrou seu lado negativo ao colocar falhas amadoras demais, como se a policial nunca tivesse trabalhado num caso assim, o que prejudica seu personagem, sendo mostrada como incompetente demais. E isso só se acentuou com o final que revela que ela é, realmente, extremamente incompetente. Como sustentar um personagem assim numa temporada seguinte? Saber que ela sempre erra e é facilmente enganada em que ajuda a continuarmos interessados nela?
O seriado original resolvia o caso, a versão americana optou por não resolver as coisas. Se já havia comparações demais com Twin Peaks pela trama básica (garota achada morta, quem matou tal garota) e por certas cenas (os pais confirmando a morte da filha pelo telefone) começou a ficar incômodo quando o passado da vítima foi sendo revelado e ser parecido demais com a de Laura Palmer (boa moça que tem lado oculto, trabalho em cassino como garota de programa). Com essa opção do final em aberto só reforça as comparações com Twin Peaks: o seriado também apostava na pergunta "quem matou Laura Palmer?" e por não concluir na primeira temporada teve que dar uma resposta ao público logo na metade da segunda temporada, destruindo a série que afundou na audiência e teve que ser cancelada. The Killing parece seguir o mesmo caminho, a responsável pela série já disse que as coisas se resolverão na segunda temporada, mas não falou quando.
A repetição da burrice de outros personagens também irritou: se no primeiro suspeito que é espancado pelo pai da vítima temos tensão por saber que a pessoa é inocente o que pensar quando a mesma pessoa que participou desse erro está para cometer o mesmo erro novamente em questão de dias? O que volta aos erros da protagonista que proporcionaram essas coisas.
As mudanças de personagens apenas para efeitos de narrativa lembram os piores recursos de seriados ruins onde, de repente, o personagem pode de uma hora pra outra se mostrar ruim, infiel, traíra, etcs. Personagens viram joguetes na mãos dos roteiristas e não caracterizações fortes de uma pessoa real.
Uma crítica pesada da season finale vai ao ponto ao mostrar que esse final escolhido vai contra muita coisa que a série foi construindo: maior tempo para conhecermos os personagens? não, já que como podemos ver, todos se revelam outra coisa que não são; personagens mais tridimensionais? não, já que o público é enganado sobre os personagens ao criar reviravoltas apenas por razões de narrativa e não de construção de personalidades; quebrar as fórmulas desses tipos de shows? não, já que o padrão de criar suspeitos ao final de cada episódio para os inocentá-los no outro é algo muito usado.
É difícil elogiar algo que merece elogios pelo que foi construindo durante a temporada, mas recuar e criticar bastante a forma como isso foi concluído, pois aponta um caminho errado que vai contra ao que foi construído. O público, agora mais "esperto" com relação as manipulações que os criadores mostraram que usaram e podem vir a usar mais ainda, volta para a segunda temporada? Muita gente simplesmente não liga mais para a série ao perceber que foi enganado, outros de curiosidade ainda ficarão para a conclusão (que pode nunca vir em definitivo), mas que a audiência vai ser menor é quase certo. Se o caso se resolvesse mesmo na primeira temporada haveria mais chance do público querer ver a segunda temporada e outros começarem a ver a série a partir dela. Como está não vai acontecer isso.
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