Frango Com Ameixas (Poulet Aux Prunes)

Que belíssimo trabalho que a Marjane Satrapi conseguiu realizar ao adaptar sua própria obra em quadrinhos para o cinema. Ela já tinha feito isso com sucesso em Persépolis, com os mesmos traços de sua obra, só que aqui ela optou por filmar com atores e mesmo assim sua marca continua por ser uma adaptação tão adequada e criativa. Pelas opções estéticas de muitas vezes utilizar o hiperrealismo, tornando o filme algo de fantasioso e onírico, Marjane nunca resvala num empobrecimento da narrativa para embelezar o quadro como muitos filmes costumam errar. A fantasia nunca vira uma farsa, os sentimentos são reais e as interpretações primorosas. Mathieu Amalric está perfeito ao transmitir toda angústia pelo qual seu personagem sofre. A obra em quadrinhos é curta e lembrava dela por momentos, mas não sua história toda. Marjane explora mais essa história no filme (que também não é longo), aprofunda certos aspectos dos personagens e cria momentos ímpares no filme inexistentes nos quadrinhos. A trilha, emocionante, ressalta uma mudança da história ao fazer do protagonista um violinista e não um tocador de tar como é nos quadrinhos (e na história real também já que baseada no tio-avô da Marjane). E somente no filme podemos ter a exata noção ao ver a bela Irâne (Golshifteh Farahani) o quanto a arte precisa de uma musa como ela e de como nunca poderíamos esquecê-la. O filme fala da arte, mas também de como as escolhas (feitas por nós ou não) do passado construirão todo nosso futuro, seja ele bom ou ruim. E aquele final, perfeito no encadeamento das tomadas, da música e dos atores, atinge em cheio nosso coração. Não pude deixar de me identificar profundamente com o protagonista, por mais triste que isso seja. Enfim, um filme a ser descoberto.

posted by RENATO DOHO 11:52 PM

. . . Comments: