RD - B Side
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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

segunda-feira, fevereiro 25, 2002
E o vento nos levará...

por caminhos que nem eu mesmo sei...





posted by RENATO DOHO 8:43 AM
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Jon Bon Jovi & Elton

Gravei num cd a "Tiny Dancer" do Elton John. Quase Famosos fez com que a canção voltasse a ser executada, numa cena muito bonita. Com isso e o Por Trás Da Fama que passou sobre ele no Multishow (que revi) estava pensando no quanto gosto ou não da carreira dele. Ainda é ambígüo. Algumas coisas eu não gosto e outras gosto. Uma qualidade que talvez seja indiscutível é seu grande senso de melodia. As duas que mais gosto são "Tiny Dancer" e "Levon", só que essa é curiosa, adoro a versão que Jon Bon Jovi fez para um cd tributo ao Elton John e Bernie Taupin (seu parceiro compositor que faz todas as letras), enquanto que a versão original não me passa tanta força. Elton John participou do primeiro álbum solo de Jon, "Blaze Of Glory" tocando piano e cantando de fundo em uma canção. Mais curioso ainda é que Elton adquiriu os direitos de uma sessão de fotos que o Jon fez para a Versace onde ele aparece nu em algumas fotos. Até hoje os negativos originais estão com ele e ninguém as viu. Como bom amigo do Jon não creio que essas fotos verão a luz do dia.

LEVON (Elton John & Bernie Taupin)

Levon wears his war wound like a crown
He calls his child Jesus
'Cause he likes the name
And he sends him to the finest school in town

Levon, Levon likes his money
He makes a lot they say
Spend his days counting
In a garage by the motorway

He was born a pauper to a pawn on a Christmas day
When the New York Times said God is dead
And the war's begun
Alvin Tostig has a son today

And he shall be Levon
And he shall be a good man
And he shall be Levon
In tradition with the family plan
And he shall be Levon
And he shall be a good man
He shall be Levon

Levon sells cartoon balloons in town
His family business thrives
Jesus blows up balloons all day
Sits on the porch swing watching them fly

And Jesus, he wants to go to Venus
Leaving Levon far behind
Take a balloon and go sailing
While Levon, Levon slowly dies

He was born a pauper to a pawn on a Christmas day
When the New York Times said God is dead
And the war's begun
Alvin Tostig has a son today



posted by RENATO DOHO 2:56 AM
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terça-feira, fevereiro 19, 2002
Se der vou ver essa peça amanhã e depois comento:

Patty Diphusa no Teatro do SESC

Christiane Tricerri volta a encenar a hilariante e absurda seqüência de aventuras e desventuras de Patty Diphusa, a personagem pop do autor Pedro Almodóvar. A primeira adaptação de Christiane Tricerri foi encenada em abril de 2000 no TBC; foi a primeira vez que este texto de Almodóvar se transformou em espetáculo teatral.
Patty se diz estrela internacional de fotonovelas pornô e é convidada por um editor de uma revista de moda a relatar suas memórias. Nesta nova versão, dirigida pela própria Tricerri, tudo acontece em um estúdio de fotonovelas pornô onde o cenário virou sucata, com restos de produção erótica que vão formando um quebra-cabeça das mirabolantes e fantasiosas aventuras da atriz pornô e seus personagens-tipo como o poeta, o taxista, o dançarino, a telefonista entre outros.
Tricerri, dirigida por ela mesma, mostra uma Patty Diphusa muito mais ousada e irreverente do que a primeira.
Afinal, não é por acaso que ela atuou como primeira atriz do Teatro Ornitorrinco de Cacá Rosset ("Ubu", "O Doente Imaginário", " A Comédia dos Erros" e o aplaudidíssimo "Sonho de Uma Noite de Verão" encenado no Central Park em New York). De seu currículo constam alguns momentos realmente importantes do teatro brasileiro: "Bella Ciao" (prêmio APCA de melhor atriz), "Mistério Gozoso", de Zé Celso Martinez Correa (protagonista) e Quíntuplos (produção e atuação) e Rei Lear, com Raul Cortez. No cinema, fez "Olhos de Vampa" e "Cobrindo o Céu de Sombra".



posted by RENATO DOHO 8:02 PM
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domingo, fevereiro 17, 2002
Santa Fe - Jon Bon Jovi

They say that no man is an island
And good things come to those who wait
But the things are here and there
Just to remind me
Every dog will have his day

The spirits, they intoxicate me
I watch them infiltrate my soul
They try to say it’s too late for me
Tell my guns I’m coming home

I swear I’m gonna live forever
Tell my maker He can wait
I’m riding somewhere south of heaven
Heading back to Santa Fe
It’s judgement day in Santa Fe

Once I was promised absolution
There’s only one solution for my sins
You’ve got to face your ghosts
And know with no illusions
That only one of you is going home again

And I blame this world
For making a good man evil
It’s this world that can drive a good man mad
And it’s this world
That turns a killer into a hero
Well, I blame this world
For making a good man bad

Now I ain’t getting into heaven
If the devil has his way
I swear I’m gonna live forever
Heading back to Santa Fe
Got debts to pay in Santa Fe
It’s judgement day in Santa Fe

So I save a prayer
For when I need it most
To the Father, Son and the Holly Ghost
And sign it from a sinner with no name
When I meet my maker
Will he close the book
On the hearts I broke and the lives I took?
Will he walk away
Cause my soul’s too late to save?



posted by RENATO DOHO 5:30 AM
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The Answer - Richie Sambora

The lightning flashed as angels
Rode fiery chargers through the clouds
That answer scared me into tears
And all the grownups laughed out loud

Now the years roll on, tired voices have all gone
Now they ride their thunder through the heavens

There's a world in every drop of rain
Embracing oceans sweep us home again
Come along with me, come along with me
Seek the truth, you shall not find another lie

They say for every living thing
There's a guide up in the sky
That helps you pass from world to world
So you never really die

Then with scythe and cloak
Death comes waltzing to your side
As the visions pass you ask
If there was meaning to your life
As you strain to hear the answer, spirits sing, and devils fiddle
As he bends to whisper in your hear, he leaves you one more riddle

Oh, the answer lies beyond the pain
All the questions in our minds, we surely ask in vain
Come along with me, come along with me
Seek the truth, and you shall find another life

And now my life is like a storm
Growing stronger every day
Like the unrelenting wind
That comes to blow our lives away
So I live each day like I know it's my last
If there is no future there must be no past

Now I know the answers never meant a thing
And with each instant that I breathe
I feel the joy that life can bring
Come along with me, come along with me
Seek the truth, you shall not find another lie
Come along with me, come along with me
Seek the truth, you shall not find another lie



posted by RENATO DOHO 5:17 AM
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Ouro De Tolo – Raul Seixas

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto, e daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua cabeça animal

E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está constribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador


Time Of Your Life (Good Riddance) – Green Day

Another turning point
A fork stuck in the road

Time grabs you by the wrist
Directs you where to go

So make the best of this test
And don't ask why

It's not a question
But a lesson learned in time

It's something unpredicatable
But in the end it's right
I hope you had the time of your life

So take the photographs
And still frames in your mind

Hang it on a shelf
Of good health and good time

Tattoos of memories
And dead skin on trial

For what it's worth
It was worth all the while

It's something unpredicatable
But in the end it's right
I hope you had the time of your life

It's something unpredicatable
But in the end it's right
I hope you had the time of your life


posted by RENATO DOHO 3:50 AM
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Come September – Natalie Imbruglia

Her bones will ache
Her mouth will shake
And as the passion dies
Her magic heart will break
She'll fly to France
Cause there's no chance
No hope for Cinderella
Come September

Everything wrong
Gonna be alright
Come September

Her violet sky
Will need to cry
Cause if it doesn't rain
Then everything will die
She needs to heal
She needs to feel
Something more than tender
Come September

Everything wrong
Gonna be alright
Come September

The souls that burn
Will twist and turn and find you in the dark
No matter where you run
She's made her mark
But lost her spark
And what she's pushing for
She can't remember

Everything wrong
Gonna be alright
Come September

Her eyes surrender, her cry a crying shame
Coming undone is she ever gonna feel the same

She will run
She's gonna drink the sun
Shining just for you
Instead of everyone
And so it goes
She'll stand alone
And try not to remember
Come September

Everything Wrong
Gonna be alright
Come September



posted by RENATO DOHO 3:48 AM
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Everyday Is Like Sunday – Morrissey

Trudging slowly over wet sand
Back to the bench where your clothes were stolen
This is the coastal town
That they forgot to close down
Armageddon – come Armageddon!
Come, Armageddon! Come!

Everyday is like Sunday
Everyday is silent and grey

Hide on the promenade
Etch a postcard :
"How I Dearly Wish I Was Not Here"
In the seaside town
...that they forgot to bomb
Come, Come, Come – nuclear bomb

Everyday is like Sunday
Everyday is silent and grey

Trudging back over pebbles and sand
And a strange dust lands on your hands
(And on your face...)
(On your face ...)
(On your face ...)
(On your face ...)

Everyday is like Sunday
"Win Yourself For A Cheap Tray"
Share some greased tea with me
Everyday is silent and grey




posted by RENATO DOHO 3:47 AM
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Better Days – Bruce Springsteen

Well my soul checked out missing as I sat listening
To the hours and minutes tickin' away
Yeah just sittin' around waitin' for my life to begin
While it was all just slippin' away

I'm tired of waitin' for tomorrow to come
Or that train to come roarin' 'round the bend
I got a new suit of clothes a pretty red rose
And a woman I can call my friend

These are better days baby
Better days it's true
These are better days baby
Better days with a girl like you

Well I took a piss at fortune's sweet kiss
It's like eatin' caviar and dirt
It's a sad funny ending to find yourself pretending
A rich man in a poor man's shirt

Now my ass was draggin' when from a passin' gypsy wagon
Your heart like a diamond shone
Tonight I'm layin' your arms carvin' lucky charms
Out of these hard luck bones

These are better days baby
Better days it's true
These are better days baby
Better days are shining through

Now a life of leisure and a pirate's treasure
Don't make much for tragedy
But it's a sad man my friend who's livin' in his own skin
And can't stand the company
Every fool's got a reason for feelin' sorry for himself
And turning his heart into stone
Tonight this fool's halfway to heaven and just a mile outta hell
And I feel like I'm comin' home

These are better days baby
Better days it's true
These are better days baby
Better days with a girl like you
These are better days baby
Better days it's true
These are better days baby
Better days are shining through


posted by RENATO DOHO 3:46 AM
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A seguir letras que tenho aqui que batem lá no fundo (podem não ser as mais mais, mas as disponíveis aqui):

Off He Goes – Pearl Jam

Know a man
His face seemed pulled and tense
Like he's ridin' on a motorbike
In the strongest winds
So I approach with tact
Suggest that he should relax
But he's movin' much too fast
Said he'll see me on the flip side
On this trip he's taken for a ride
He's been takin' too much on
There he goes with his perfectly unkept hope
There he goes
He's yet to come back
But I've seen his picture
It doesn't look the same up on the rack
We go way back
I wonder 'bout his insides
It's like his thoughts are too big for his size
He's been taken... where, I don't know
Off he goes with his perfectly unkept hope
There he goes
And now I rub my eyes, for he has returned
Seems my preconceptions are what should have been burned
For he still smiles... and he's still strong
Nothing changed but the surrondin' bullshit
That has grown
And now he's home and we're laughin'
Like we did, my same old, same old friend
Until a quarter to ten
I saw the strain creep in
He seems distracted and I know just what is going to happen next
Before his first step, he's off again



posted by RENATO DOHO 3:44 AM
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uma crítica antiga:

Chaga De Fogo(Detective Story), 1951

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Um excepcional filme e mesmo não querendo cair no saudosismo sente-se uma falta deste tipo de filme nos dias de hoje, com elenco formidável (até nos mínimos figurantes), roteiro engenhoso e final contundente.

William Wyler é um cineasta de primeira linha com filmes tão diversos quanto O Morro Dos Ventos Uivantes, Os Melhores Anos De Nossas Vidas, A Princesa E O Plebeu, Horas De Desespero, Ben Hur e Funny Girl. Neste ele consegue ter absoluto domínio da narrativa cinematográfica se concentrando em um único cenário principal, o 21.o distrito policial. Vale lembrar que o filme é baseado numa peça teatral.

Acompanhamos um dia inteiro na rotina deste distrito, onde várias histórias se cruzam e todas conseguem ter consistência e importância para um maior desvendamento da rotina e perfil do personagem principal interpretado por Kirk Douglas.

Sua busca incessante por justiça nos traz à luz um caso de um doutor em que vem investigando por um bom tempo. Este caso em particular vai se desdobrar em vários caminhos que empurrarão o filme ao ótimo desfecho.

Para não estragar as surpresas que o enredo reserva, o que se pode falar é na perfeita condução de cada caso (dois escroques, um jovem ladrão, um ladra iniciante) sem que o interesse diminua e tendo cada caso um elo que une toda a estrutura.

Kirk Douglas mais uma vez nos brinda com uma interpretação arrebatadora, encarnando como nenhum outro o idealismo e raiva que o personagem pede.

Nota-se que o filme de 51 é quase um embrião do que viria a ser mais explorado no seriado Nova York Contra O Crime (N.Y.P.D. Blue) com o dia a dia de distritos policiais.

O roteiro consegue transformar um único dia deste distrito num épico sobre o sentido da vida, a trajetória de um ser humano, as fraquezas, os complicados entrelaçamentos que a vida consegue armar, o sacrifício e a redenção. Como Hamlet ou uma peça grega o personagem de Kirk vai se transformar, se questionar, se angustiar em cada decisão que venha a ser tomada nesse único dia.

Uma obra prima, capaz de prender a atenção de qualquer espectador e fazê-lo se emocionar e admirar esta pérola de direção, roteiro, fotografia, elenco, edição e figurino. Para ser visto e revisto e influenciar futuras gerações de cineastas com uma magistral aula da sétima arte!



posted by RENATO DOHO 2:16 AM
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mais textos antigos, este é da época que li o livro...

A CURA DO DR. NERUDA PARA O MAL (DR. NERUDA'S CURE FOR EVIL)

O mais recente livro do escritor e roteirista Rafael Yglesias (seu livro anterior Fearless se transformou no belíssimo filme, Sem Medo De Viver, de Peter Weir) é uma saga em forma de relato médico da vida do doutor Rafael Neruda desde sua infância até a idade adulta quando se defronta com a possibilidade de diagnosticar e erradicar o mal.

Da exótica combinação do pai de sangue latino, comunista e castrista, com a mãe judia surge Rafael Neruda, ou Rafe, que passará por todo tipo de experiência , desde o incesto com a mãe até a tentativa de suicídio na adolescência que formará a sua psiquê, o seu id pessoal que o transformará num renomado psiquiatra especializado em maus tratos infantis.

O livro se divide em 3 partes, sendo a primeira sobre a infãncia do pequeno Rafe, a segunda com a apresentação do caso de Gene, seu cliente mais significativo e fator decisivo na virada fundamental de sua vida e a terceira com uma tentativa de re-estudar o caso na procura de falhas e tirar as conclusões finais, onde se deparará com um problema muito maior, jamais imaginado.

Saindo um pouco da trama do livro, Yglesias proporciona ao leitor uma história fascinante que desnuda toda a psicologia existente por trás de cada ato e relacionamento de cada um de seus protagonistas, passando por vários temas - alguns polêmicos - de forma envolvente e clara.

O personagem principal passa por todo o livro se transformando, se questionando e nunca tendo verdades absolutas em sua mente tornando-nos (os leitores) cúmplices e solidários em sua busca existencial por sentido e significado no mundo e na sociedade do final do séc. XX.

Vindo de uma família inteira de escritores, Yglesias demonstra habilidade narrativa, conseguindo a atenção constante de quem lê e nunca deixando o ritmo cair em suas 780 páginas.

Embasado em vários estudos de psicologia, psiquiatria e relatórios de casos, Yglesias transforma o que seria um relato frio de um caso psiquiátrico numa epopéia de um homem procurando a cura para o mal.


posted by RENATO DOHO 1:46 AM
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sábado, fevereiro 16, 2002
Pra começar um roteiro antigo, não revisado, agora disponível para a malhação geral.

(O PALCO) NA ESTRADA

SEQUÊNCIA 01 (exterior / estrada / dia)

Vemos as faixas da estrada e a seguir ouvimos os passos de alguém; os pés surgem em sapatos, botas.

SEQUÊNCIA 02 (interior / palco)

Outros sapatos no palco param. Um ator na ribalta. Ele olha para os pés e ele olha para frente. Ele está vestido com uma camisa branca com muitos floreios e rendas e suas calças são pretas. Ele anda um pouco para frente e subitamente tira uma adaga do bolso de trás ameaçando quem está a sua frente, no caso o público que não vemos.

SEQUÊNCIA 03 (exterior / estrada / dia)

Uma ponta de faca ameaça o queixo de uma mulher que está com uma mordaça na boca.
A mulher está com seus braços amarrados em suas costas na beira da estrada.
Um homem a ameaça, o mesmo que interpreta o ator no palco. Ele se veste diferentemente.

HOMEM:
– [grita] Não! Nada! Nada! [se acalma] Não há nada aqui... Você e eu...

SEQUÊNCIA 04 (interior / palco)

O rosto do ator.

ATOR:
– Aqui.

Ele se ergue. Encara o público que está quieto e apreensivo.

ATOR:
– Tirem suas máscaras, por favor! Rasgue–as. Destrua–as. Como eu faço aqui, agora!

O ator faz um corte em seu rosto com a adaga. Som de alguns na platéia se chocando.

ATOR:
– Eu vejo suas faces, de cada um de vocês e nada me agrada mais do que sentir, perceber que vocês não
passam de vermes. Eu os domino durante esse momento. Não é perturbador?

O ator parece encarar alguém da platéia.

ATOR:
– Não, você não me domina, eu não existo somente para você. Você não me cria e por isso não pode me dominar. Eu sim, os crio. [pausa] Minhas crias... Tão frágeis, tão carentes... [pausa] Não mais! Não mais as suas inquietudes, não mais suas aspirações, seus traumas, seus desejos. Não vou ser mais a sua muleta, sua muleta para pensar, para refletir, para se divertir, sua muleta para se identificar. Não sou seu espelho, não sou espelho de ninguém! Chega de suas súplicas, chega de seus aplausos. Falsos! Idiotas! A quem enganam? A si próprios? Eu quero sua atenção, eu quero sua obediência, eu quero é o seu dinheiro!

O ator aponta para pessoas da platéia que não vemos.

ATOR:
– Sim, senhora. Sim, senhor. É, meu rapaz. É, minha jovem. O dinheiro. E sua adoração. Ah, sim como eu quero. [ri]

Som de pequeno choro.

ATOR:
– Não. Por favor, eu não... quero dizer, eu...

O ator de súbito se agita, roda pelo palco a esmo e sai pela cortina ao fundo.

SEQUÊNCIA 05 (exterior / estrada / dia)

Uma lágrima cai do rosto da mulher e é aparada pelo dedo do homem. Ele acaricia o rosto dela.

HOMEM:
– O que você acha que eu posso fazer? Não tema, sua pele é tão... não vale a pena. Se eu disser que te desejo você vira as costas, não é? Se te odeio nada adianta. E mesmo assim, suja, amarrada, dominada, você é que comanda tudo, não é? Nada que eu faça muda isso. Há muito tempo eu acho que a gente devia fazer isso. Tirar as máscaras. Colocar cada coisa no seu lugar, como num palco, com as luzes se acendendo e os aplausos vindo... As cordas estão machucando?

Mulher acena que sim.

HOMEM:
– Oh, minha querida, eu... eu te soltarei daqui a pouco. Não se preocupe.

Uma rajada de vento faz com que ele veja o local onde está: uma estrada deserta, árida.

SEQUÊNCIA 06 (interior / camarim)

O ator está no camarim iluminado apenas com as luzes em volta do enorme espelho. Está sentado e se maquia.

ATOR:
– Não é esse rosto que faz tudo? Não é essa pele castigada pela maquiagem, dia após dia, espetáculo após espetáculo, esperando sempre aceitação, que faz tudo? [pausa] E essa voz que se faz ouvir ao longe de onde sai o lhe foi dito, o que foi escrito sem saber o que se passa aqui dentro [bate no peito], mas ó dádiva, depois de pronunciadas são partes essenciais de nossa vida como se já habitassem essa morada muito tempo atrás.

Ele lacrimeja um pouco e passa um pano no rosto.

ATOR:
– Se não sou eu o caminho, se não sou eu o instrumento, quem poderia ser? Quem entre os que vivem e os que morreram? Esse corpo eu trabalho, essa visão eu empresto, meu choro, meu riso. Os pés que saltam e caminham horas e horas. Minhas vestes. E esse rosto... Eu te adoro.

Ele toca sua face pelo espelho e desliza por ela.

ATOR:
– Eu faço por ti. Eu preciso de ti. Nada mais resta. Nada mais é necessário. Não é o carinho da mãe, o calor da amante, o abraço do amigo... É você. Como nunca deixou de ser... você.

Ele se aproxima do espelho e se beija.

SEQUÊNCIA 07 (exterior / estrda / dia)

O homem beija a face da mulher.

SEQUÊNCIA 08 (interior / camarim)

O beijo no espelho é longo e prolongado, vindo a provocar lágrimas e choro. Ele se recompõe. Arruma a maquiagem. Guarda com cuidado todos os apetrechos. Pega numa bolsa um maço de cigarros e tira um. Acende e lentamente aspira e solta a fumaça no espelho. Ele pára e olha o cigarro se queimar, ele estende a mão e apaga o cigarro em sua palma. Ele segura a dor e ajeita a roupa.

TELA PRETA

SEQUÊNCIA 09 (interior / palco)

Uma luz se acende e o ator está no palco já maquiado. Ele se curva em agradecimento à platéia que não emite som algum.

ATOR:
– Já podemos continuar com o espetáculo.

Ele respira fundo.

ATOR:
– Serão os deuses pérfidos a ameaçarem minha própria sorte? O destino que já fora traçado vem a sofrer interferências de vós ó imortais. Danem–se as divindades. Eu invoco seus poderes aqui em minha morada!

A luz se apaga de repente e o público se espanta.
Um som de pancada. Corte rápido para a...

SEQUÊNCIA 10 (exterior / estrada / dia)

A mulher chuta por entre as pernas do homem, que grita, cai ao chão e se contorce.
Ela se levanta com dificuldade e uma luz incide sobre seus olhos. Corte rápido para a...

SEQUÊNCIA 11 (interior / palco)

Uma vela acesa. Logo o rosto do ator aparece por detrás da vela. Ela é posta na beirada do palco, iluminando uma área pequena na qual o ator fica de pé.

ATOR:
– Um pequeno incidente. Nada de grave. Nada de alarmante. Apenas a luz. Sim, a luz.

Um som de carro surgindo e freiando. O ator se espanta e olha para o lado e atrás. Corte rápido para a...

SEQUÊNCIA 12 (exterior / estrada / dia)

Um pneu freia no asfalto. Um carro pára e dele surge outro homem, um jovem. A mulher corre em sua direção.
Ela emite sons, já que a boca continua amordaçada. O jovem desce do carro e vem acudi–la.

JOVEM:
– O que houve? Calma, calma.

HOMEM:
– [off] Não faça nada seu vermezinho!

SEQUÊNCIA 13 (interior / palco)

As luzes são acesas e outro ator (o mesmo jovem da estrada) entra em cena.

JOVEM:
– Mais uma vez venho a te encontrar, caro colega.

O ator se afasta dele.

ATOR:
– Como ousa? Suas entradas são inoportunas como a vez que você foi aparecer em hora inapropriada para minhas necessidades.

JOVEM:
– Suas necessidades? Aquela jovem não diria isso. Ela sofreu, não? Naquele calor.

ATOR:
– Não. [pausa] Não fazia, calor.

JOVEM:
– Fazia. E aquela jovem lá amarrada, deixada ao desespero. Os pulsos em carne viva e a língua seca querendo água. Sim, fazia calor. Como hoje faz frio, como amanhã estaremos dizendo as mesmas falas, sim fazia calor!

ATOR:
– Sim, agora me lembro...

SEQUÊNCIA 14 (exterior / estrada / dia)

O homem empunha sua faca e desafia o jovem. Ele tira seu canivete. Os dois se estudam.

SEQUÊNCIA 15 (interior / palco)

Os dois atores se desafiam, os dois com adagas.

SEQUÊNCIA 16 (interior – exterior / palco – estrada)

Com montagem paralela o ator enfrenta o jovem da estrada e o homem luta com o jovem ator, como se estivessem num mesmo espaço físico.
O golpe mortal é desferido.
Na estrada o homem é atingido. No palco é o jovem ator a sofrer o golpe. Aplausos.

SEQUÊNCIA 17 (exterior / estrada / dia)

O homem está no chão. Agoniza. Em sua face está um corte idêntico ao feito pelo ator no palco.

HOMEM:
– Maldito. Não sabe o que fez.

O jovem se aproxima.

HOMEM:
– Eu não quero ser lembrado por isso. Só [geme de dor] quero ser lembrado como o grande ator que fui. [respira com dificuldade] Você não sabe disso, não é vermezinho? [tosse sangue] Fui um grande ator, grande. [morre]

Jovem o encara e enxuga a face com a camisa. Vai até a mulher e a solta. Antes de qualquer coisa a mulher sai correndo. O jovem expressa querer falar algo mas desiste.

SEQUÊNCIA 18 (interior / palco)

O jovem está morto no palco, só que agora uma máscara está em seu rosto. O ator se volta para o público e encontra tudo vazio. Ele desce para a platéia e vê uma caveira numa cadeira vazia. Ele pega a caveira e a encara.

ATOR:
– Foi você o bobo da corte? Ou você é aquele que a pouco me apladiu, que fez minha existência mais valiosa. Que agora eu entendo que era minha razão, meu sentido. Parece que a cada noite as pessoas se despedem e fico eu. Toda noite me despeço de quem não conheço e mesmo assim vivo por isso. E pareciam amigas, pareciam minhas irmãs, meus amores, minha mãe... meu pai.

Ele passa pelas cadeiras vazias com a caveira em sua mão.

ATOR:
– A cada dia eu me perco ao final. E a cada abrir de cortinas eu passo a procurar durante todo o tempo a minha identidade. A minha vítima. O meu mestre.

Ele sobe novamente ao palco.

ATOR:
– Se tudo isso é uma representação ou se minha imaginação fugiu ao controle apenas os outros saberão. Eu não sei nada. Eu me entrego.

O ator ergue os braços e se curva como se agradecendo.

ATOR:
– Eu faço de vocês meus senhores. Eu faço de mim escravo. E, porém, sigo...

Ele se vira e caminha, saindo pela cortina. As luzes se apagam.

SEQUÊNCIA 19 (exterior / estrada / dia)

O jovem entra no carro e parte. Logo a diante ele vê a mulher parada na beira da estrada, braços juntos ao corpo, estática. Ele passa e olha pelo vidro do carro e depois pelo retrovisor. Segue.
A mulher está com o olhar perdido ao longe. Momentos se passam. Vento no cabelo. Ela fecha os olhos.

FIM
Autor: Renato Satoshi Doho.


posted by RENATO DOHO 12:13 AM
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