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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, outubro 04, 2003
A Vida De David Gale (The Life Of David Gale)

Novo filme de Alan Parker. Mais tradicional (mesmo com passagens de tempo com efeitos "modernos") falando sobre a pena de morte. Kevin Spacey é o professor, grande ativista contra a pena de morte, acusado de estupro e assassinato de uma amiga (Laura Linney) que agora enfrenta a pena de morte no Texas. Kate Winslet é a jornalista chamada por ele para relatar toda a história. A partir disso ela vai tentar em 4 dias provar sua inocência. Como o filme é conduzido e as atuações são todas funcionais, servem ao propósito, apenas as revelações finais pecam por não se tratarem de fatos reais, então a luta contra a pena de morte fica fraca, pois por se tratar de uma história fictícia não há argumentos reais que isso poderia acontecer e assim acabar com os que defendem a pena. Por outro lado ficamos querendo saber como o crime ocorreu e quem matou durante quase todo o filme.

Para Sempre Na Minha Vida (Come Te Nessuno Mai)

Uma grande surpresa vindo de Gabriele Muccino (diretor de O Último Beijo). Este filme foi feito um ano antes de O Último Beijo e trata de um dia na vida de Silvio (feito pelo irmão do diretor, que eu achava ser o filho, Silvio Muccino) quando estudantes de sua escola a invadem para tomar posse, contra a privatização. No meio de toda confusão os relacionamentos amorosos que iniciam e acabam nesse dia.

O filme é ótimo, ágil, jovem, envolvente. Faz um retrato legal da juventude italiana. Realiza um balanço equilibrado entre política e amores, pais e filhos. No meio de todas as sentenças de ordem dos "revolucionários" vê-se que o mais importante mesmo são os relacionamentos humanos. O conflito geracional não é feito de forma maniqueísta com os pais que foram rebeldes / revolucionários quando jovens e agora são caretões / burgueses, é tocante por exemplo a tentativa da mãe (Anna Galiena) de se comunicar com os 3 filhos (2 homens e 1 mulher) e desabafar que se sente só mesmo com 3 filhos.

Os atores jovens estão ótimos, as meninas são bem escolhidas e são apaixonantes. Dá pra comparar com os filmes do Furtado no cinema que apesar de mostrarem várias cenas boas não tem o conjunto forte como Muccino consegue criar, pois o italiano não desvia demais a trama para outros assuntos e sabe que é mágico aquele momento para os adolescentes onde tudo parece ser a coisa mais importante da vida.

Aquele clichê da amiga que gosta de você, mas não se declara e você não percebe isso é mais uma vez mostrado aqui, mas é de forma tão tocante que não dá pra não dar um chorinho discreto, ainda mais para quem desejaria que isso tivesse ocorrido pessoalmente tempos atrás...

No final percebe-se claramente ser um filme movido pela paixão ao mostrar cada ator olhando descontraidamente para a câmera. Um filme extremamente alto astral, muito engraçado e emocionante. Até agora (também vi pouco) o melhor do Festival.

Encontros E Desencontros (Lost In Translation)

Sofia Coppola realiza um filme bem terno sobre o amor entre estranhos perdidos num país desconhecido (no caso o Japão) com um toque de melancolia no ar. Os dois estranhos são Bill Murray como um ator conhecido que vai fazer comerciais na terra do sol e Scarlett Johansson (linda! maravilhosa!) como a recém esposa de um fotógrafo de moda. Por circunstâncias do acaso se encontram na mesma situação de desajuste com o ambiente local e surge dali uma grande amizade e um amor de grande diferença de idade. Tirando certos aspectos o filme pode lembrar Antes Do Amanhecer no aspecto de 2 seres que num país estranho para ambos surge um relacionamento de amizade que pode virar amor, mas que está fadado a ter um fim. Sofia primeiramente aposta no humor, nos contrastes culturais e sociais (soa até preconceituoso no início, mas ela tenta ajustar as coisas na metade final) para depois passar para o relacionamento destes dois indivíduos tão distintos que estão reavaliando suas vidas (ela sem um rumo ainda e ele desanimado com o rumo que tomou).

A trilha é muito bem escolhida (a ótima de Elvis Costello é cantada no karaokê por Bill Murray). Tóquio com seu visual colorido em demasiado é cenário ideal para a trama do filme.

Anna Faris tem uma participação engraçada como uma atriz famosa de filmes de ação toda espoleta e desinibida, mas superficial e débil (inspirada em Cameron Diaz conforme Sofia disse). Aliás, acho que Sofia fez da personagem de Scarlett seu alter ego; o marido é atrapalhado e afobado como Spike Jonze (marido de Sofia); por achar idiota muitas coisas e ter um comportamento blasé para as coisas é vista pelo marido como arrogante que se acha intelectualmente superior (Scarlett é a escolha certíssima para esse tipo de papel).

O final pode parecer triste, mas uma fala não ouvida pelo público pode significar esperança.

Pessoalmente acho que os dois não são um belo casal, pois é mais a situação criada que os fez se aproximar e se identificar um com o outro, não acredito que num momento outro eles iriam se identificar tanto assim, ao menos por parte dela, já que qualquer homem ficaria interessado na Scarlett em qualquer situação. Encaro muito mais o relacionamento deles como uma grande amizade, por parte dela como um pai, mas por parte dele como uma projeção de sua própria esposa quando jovem. Não acho pessimista acreditar que se o casal se formasse no final haveria dentro de algum tempo o mesmo tipo de tédio e angústia que ambos se encontravam no começo do filme, antes de se conhecerem.

Enfim, é um filme sensível com belos momentos e boas atuações (mesmo que eu sempre tenha achado Bill Murray um tanto arrogante como ator em vários filmes).


posted by RENATO DOHO 2:40 AM
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