segunda-feira, maio 24, 2004
Minisséries
Band Of Brothers
Excelente produção de Tom Hanks e Steven Spielberg sobre a trajetória da Companhia Easy (divisão de paraquedistas) do Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial na Europa.
Acompanhamos o grupo desde o treinamento até o final da guerra e cada episódio (de uma hora) é quase um filme. A grande produção (120 milhões de dólares) se faz visível na recriação minusciosa dos acontecimentos, cenários e época.
Por ser uma minissérie, que pode desenvolver mais os personagens ou temas, o filme O Resgate Do Soldado Ryan parece até um prólogo em comparação, ou um pequeno acontecimento no desenrolar da guerra. Há um avanço nas técnicas de filmagem de combate (impressionantes) e cada episódio joga luz sobre temas específicos que num filme só não poderia abrigar tudo.
A partir da metade da minissérie que vamos criando mais intimidade com todos do grupo que volta e meia aparecem (apenas dois atores são mais constantes, Damian Lewis e Ron Livingston). E, como na vida real, após Bastogne que tudo muda, fortalecendo a união do grupo e traçando um antes e depois desse fato. Talvez o episódio que mais tenha apreciado como um todo foi o sétimo (justo este número que sempre me acompanha, o 7) que se passa logo após Bastogne. O enfoque deste episódio é a liderança, quando a companhia se vê com um tenente inapto, indeciso e potencialmente devastador para todos (claro que sempre que surge este tema não dá pra não lembrar da função de diretor de cinema, com menos risco de vida para os envolvidos).
Os dois últimos episódios são mais calmos, mas mesmo assim muito bons falando das descobertas de campos de concentração, o fim da guerra e o impacto disso nos soldados que continuam morrendo por besteiras.
Demorei um tempo para ver tudo. Comprei a caixa de 6 dvds em dezembro de 2002 e só fui terminar esse fim de semana (vendo os 4 últimos um atrás do outro). Há uma vontade de rever os primeiros episódios que devo fazer em breve. Também vi parte dos extras do sexto dvd, como um diário em vídeo de um dos atores durante toda a preparação militar para o filme (todos os atores ficaram num campo de treinamento, semelhante ao que foi feito para os atores de O Resgate Do Soldado Ryan). A questão do entrosamento dos atores, a habilidade física, as reações em meio ao combate e o aspecto da liderança foram fundamentais para facilitar na hora da filmagem, para não tudo não soar falso. Falta ver ainda o longo documentário sobre a verdadeira Companhia Easy.
E o aspecto da união deste grupo, por tudo o que passaram, tinha que ser alcançado na realização do projeto, por isso o treinamento foi muito importante.
O elenco é muito competente que até esquecemos que são atores. A díreção varia de episódio para episódio (Tom Hanks dirige um deles), mas todos seguem uma linha mestra que não faz destoar o conjunto (o primeiro do treinamento é o mais diferente do resto). Apenas David Frankel e Mikael Salomon dirigiram 2 episódios.
Posso dizer que é uma das melhores produções que vi no gênero. Um dos poucos bons textos falando na minissérie aqui no Brasil é do Arthur Dapieve que coloquei aqui para leitura.
Agora fico com mais vontade de ler os livros de Stephen Ambrose já lançados por aqui (Dia D, Band Of Brothers, etcs).
Traffic
Minissérie dividida em 3 partes de uma hora e meia cada. Passou no começo deste ano nos EUA e trata do assunto do tráfico de drogas, mas abrange terrorismo, imigrantes ilegais e outros assuntos.
Stephen Hopkins produziu e dirigiu o primeiro episódio. Ron Hutchinson escreveu todos os episódios. Muito do estilo de Hopkins que foi empregado em 24 Horas se encontra aqui. Aliás, a mini lembra o seriado (em seus melhores momentos). Quando terminanos o primeiro episódio ficamos ansiosos pra ver todo o resto.
Além do nome em comum com o filme de Soderbergh a minissérie se assemelha ao tratar de várias histórias ao mesmo tempo (4 em especial): 1) um agente da DEA no Afeganistão some do mapa junto com um grande traficante recentemente preso e as suspeitas caem em cima dele; 2) sua esposa e o filho adolescente acabam de se mudar para Seattle e o sumiço do marido coloca ela em suspeita também, além disso o filho se envolve com a vizinha viciada; 3) um imigrante ilegal paga para trazer a esposa e filha para os EUA, mas um navio que afundou pode trazer notícias trágicas para ele; 4) um administrador recém formado por Harvard cai num mal negócio imobiliário e tem que pedir ajuda ao pai, dono de uma revendedora de roupas, só que os negócios do pai também estão mal e há envolvimento com um mafioso chinês.
De alguma forma as histórias têm ligações entre si, mesmo que não diretamente.
A história do administrador poderia ser mais focada, só que na parte 3 não se mostra muito o seu lado. É este personagem que pode ser mais semelhante à audiência, um jovem comum, sem perspectivas e tendo que assumir os negócios do pai.
É interessante que a minissérie mostre (mesmo que não profundamente) a corrupção no meio dos mais diversos negócios e um sistema que faz com que haja poucas chances de alguém não entrar neste esquema. Ainda estou para achar um lojista ou negociante que conduz tudo 100% honestamente (às vezes o próprio comerciante acredite ser honesto de tão distante o conceito de ética é para ele). Agora, se isso pode ser visível lá fora, com um sistema judiciário mais rigoroso, imagine aqui então...
Outros temas abordados são o relacionamento nada saudável das agências dos EUA com a Al Qaeda e outros grupos terroristas, a desestruturação familiar quando um dos cônjuges é muito ausente, falta de ética de meios para fins (todos os personagens, quase sem exceção, cometem erros mesmo quando fazem para o "bem"), a total ausência de orgãos civis e governamentais de amparo para os imigrantes ilegais para qualquer tipo de problema, fazendo com isso que haja uma proximidade entre este grupo e o submundo (a corrupção, a proteção, os favores, etcs) e a falida guerra contra as drogas.
Até no personagem da viciada há um tratamento diferente da produção, ela não é vista como uma influência má para o garoto como poderia se esperar de início, seu vício pode até ser um problema, mas não se exclui a vida dela por isso, ele se importa com ela mesmo assim. O mais comum seria ela ser representada como o perigo de se começar um relacionamento com estranhos (típico dos suspenses: seu marido é um assassino, seu vizinho é um psicopata, o caronista é um fugitivo, sua amante é maluca).
O elenco é bom, destacando Elias Koteas como o agente da DEA e Mary McCormack como sua esposa.
Enfim, a minissérie é ótima, só devia ser mais longa e evitar o recurso do flashback (que a toda hora ajuda o espectador a se localizar ou lembrar de fatos importantes) que achei desnecessário (24 Horas como é em tempo real não pode utilizar esse recurso e se sustenta bem).
O final deixa muita coisa no ar e pode irritar algumas pessoas (não há um fechamento de todas as histórias), mas é bom por mostrar que nada voltou ao que seria o normal, que os problemas continuam por aí, esperando solução.
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