Os Maias Um das melhores minisséries televisivas já feitas no país e, puxando o saco nosso um pouco, no mundo. Há que se valorizar trabalho tão bem feito com produção luxuosa, elenco espetacular, adaptação de primeira e direção primorosa. Óbvio que aqui e ali vemos que não dá pra ser como as minisséries estrangeiras com orçamentos pesados, mas em nada diminui o produto final. Foi a estréia de Simone Spoladore na tv e o poder imagético dela é tamanho que nem Ana Paula Arósio na segunda parte consegue nos fazer esquecer da parte inicial (que seria o primeiro dvd, as 3 horas e meia iniciais). Luiz Fernando Carvalho é um senhor diretor (seu longa de estréia, Lavoura Arcaica, eu considero uma obra prima) que mesmo num veículo outro (a tv) consegue impôr um ritmo e um cuidado próprios. E o próprio contexto da minissérie nos remete ao cinema de Luchino Visconti. A primeira parte é primorosa (pode-se dizer que a minissérie tem duas partes - o romance de Pedro e Maria e depois de Carlos Eduardo e Maria Eduarda) onde Leonardo Vieira e Simone Spoladore estão magníficos e há um andamento mais lento e cinematográfico. Um dos primeiros encontros do casal em Cintra ao som de Haja O Que Houver são inesquecíveis pela antecipação (como em In The Mood For Love) onde Vieira encosta no muro por um instante antes de vê-la do outro lado e sorri como se o contato primeiro tenha sido de almas e não de corpos. Na segunda parte há trechos onde percebemos um ritmo de novela, com muitos diálogos e situações acontecendo, mas não enfraquece o todo. O poderoso elenco tem em cada intérprete seu momento de força, por isso destaco Walmor Chagas, Osmar Prado e Selton Mello (além do casal da primeira parte) e cito o restante: Ana Paula Arósio, Fábio Assunção (não rendendo como o esperado, mas em sua melhor atuação), Paulo Betti, Stênio Garcia, Maria Luísa Mendonça, Eliane Giardini, Otávio Augusto, Cecíl Thire, Antônio Müller (compondo um personagem odioso muito bem), Ewerton De Castro, Sérgio Viotti, Eva Wilma, Marília Pera, Dan Stulbach, Matheus Nachtergaele (numa ponta) e outros. Talvez a maioria saiba da história contada e os temas ligados (o destino, o amor, a história social, a decadência da aristocracia, etcs) por isso nem explicito aqui. Os 881 minutos não intimidam já que nunca cansam e o interesse permanece em todos os momentos. Em dvd a experiência é melhor ainda, sem esperar pelo capítulo do dia seguinte e não ter os comerciais. Ao mesmo tempo fica mais evidente o aspecto de produto televisivo ao termos algumas canções específicas para certos momentos que se repetem (as canções do Madredeus por exemplo). Algumas caracterizações de tempo não são bem realizadas (alguns personagens não mudam nada com a passagem dos anos!). A ótima direção de arte é da irmã da cineasta Tizuka Yamazaki. O final é em tom trágico bem carregado. De extras temos alguns depoimentos do elenco (Osmar Prado é enfático ao declarar que Os Maias é um fato histórico na televisão mundial), da escritora e de uma professora (que infelizmente lê o texto para a câmera). Faltou uma entrevista com o diretor além de bastidores (o que não deve faltar no arquivo da emissora). A edição do dvd é a que o diretor quis, eliminando tramas paralelas de outros livros de Eça De Queiroz. Fica a curiosidade de ver as tramas cortadas (parece que sairá em outro dvd), quem eram os atores dessa parte e se havia algum contato com a trama principal (a escritora diz na entrevista que evitou isso). Uma entrevista com o diretor pode ser lida aqui. Fica a vontade agora de rever a minissérie Grande Sertão Veredas que na minha memória foi outra grande obra da televisão brasileira. posted by RENATO DOHO 1:23 PM . . . Comments: