Laços Humanos (A Tree Grows In Brooklyn) A estréia de Elia Kazan na direção é impressionante pela capacidade que ele teve em extrair tantas performances extraordinárias dos atores, principalmente da jovem Peggy Ann Garner (recebeu Oscar especial pelo papel) e conseguir nos emocionar por todo o filme, chegando em dois ou mais momentos catárticos. O cotidiano pobre da família não é disfarçado, desde o início vemos a luta para ganhar ou gastar os mínimos valores. A diferença do pai sonhador com a mãe prática proporciona várias belas cenas, como a da leitura de Shakespeare (onde a avó faz um discurso de imigrante bem patriótico, mas também de importância do conhecimento ao invés de apenas do valor do trabalho), os momentos entre pai e filha (todos excelentes), o árduo caminho para o relacionamento total entre mãe e filha, etcs. O personagem do pai é tão comum na dramaturgia americana, sempre rico para exploração e aqui no filme é uma base forte para a construção do personagem da filha. Os prováveis defeitos de certos personagens nunca são vistos de forma negativa, mas sim de forma humana, compreensiva. O pai sonhador nada prático, com ilusões de um futuro promissor que nunca acontece, com problemas com a bebida não vira um vilão como poderia se achar. A praticidade da mãe que a vai deixando cada dia mais fria e insensível também poderia facilmente ser retratado de forma a se achar que ela é o lado ruim da coisa, mas isso não ocorre. A irmã da mãe, aparentemente inconsequente com relação aos homens que se relaciona, também não é esteriotipada negativamente. Amamos os personagens com todos os seus 'defeitos'. O filme consegue tantos momentos dramáticos que um espectador mais cínico acha tudo aquilo piegas demais, mas é no talento de Kazan e dos atores que todos esses momentos se elevem do banal e adquiram uma força e honestidade impressionantes. O talento da jovem atriz é tamanho que ela é graciosa quando feliz, convincente como inteligente e imaginativa e devastadora quando triste. Seu amadurecimento durante o filme é palpável. Pena que depois vamos descobrir que sua carreira não deu certo em Hollywood, sendo desfavorecida em relação à atrizes mais bonitas do que talentosas. Curiosidade é que Nicholas Ray foi assistente de Kazan (por exigência dele) e aprendeu muito das filmagens para realizar seu primeiro filme. Dizem que faz uma ponta como atendente da padaria, mas isso eu não iria notar nesta primeira vez que vejo o filme (primeira de muitas). Tenho alguns filmes ainda para ver para ter visto quase todos os filmes de Kazan (faltando Mar Verde), mas neste momento é o meu favorito disparado e é um dos mais impressionantes primeiros filmes que já vi. Engraçado como não ouvi falar deste filme antes, pois tem tudo para ser daqueles clássicos que podem ser vistos todo o ano (como por exemplo A Felicidade Não Se Compra). Posso dizer que comecei bem este ano com este filme que me fez chorar como há tempos não fazia. O Que A Carne Herda (Pinky) Um ótimo filme de Kazan retratando o racismo que uma jovem enfermeira enfrenta ao retornar para casa no sul após longo tempo vivendo no norte. O fator diferencial é que ela tem a pele bem clara e sua avó é uma tipíca negra do sul dos EUA. Mais uma vez a relação filhos e pais se estabelece além dos laços familiares quando ela tem que cuidar de uma velha senhora por consideração à sua avó. O final pode ser previsto com antecedência e é bem altruísta. posted by RENATO DOHO 4:44 AM . . . Comments: