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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

segunda-feira, abril 18, 2005
O Drama Da Criança Bem Dotada - Alice Miller

Um livro bem pequeno (109 páginas) e muito bom.

O título confunde, não é para pais que tenham gênios em casa hehehe mas para qualquer um interessado na questão dos pais (de)formando a vida de seus filhos e de como nossas infâncias são fundamentais na construção de nossa pessoa.

Ela escreve não para psicólogos, pois ela não vai à fundo nos casos, usando termos da área, mas sim dando uma geral para leigos.

Várias coisas extremamente interessantes e curiosas. Tipo a importância do contato inicial com a mãe logo que nasce (que inicia o primeiro trauma da criança), a questão do espelho entre mãe e filho (e quando não há esse espelho que começam os problemas), a questão do amor incondicional e não o amor manipulativo, da projeção nos filhos (amar por ele obedecer, por ser educado, por fazer algo que agrade os pais). Sutis manipulações e sutis traumas que os pais causam sem ter noção das conseqüências (às vezes sob o disfarce do "educar", do "enfrentar o mundo real", mas na verdade para esconder os próprios medos).

Também fala da manipulação dos terapeutas com seus pacientes (mesmo que inconsciente). E só se os terapeutas se conscientizarem de seus traumas infantis (ou de suas questões, pois trauma ainda é visto como algo forte) e os aceitarem podem dar um tratamento melhor aos seus pacientes, caso contrário só confortam ou não confrontam essas questões infantis nos pacientes (pois não querem ver os seus próprios), impossibilitando qualquer benefício no tratamento.

Pais reprimidos que só têm a chance de exploração sexual com a filha recém nascida, no banho, não de forma perversa, mas de forma, até certo ponto, inocente, acarretando traumas na criança. Mães violentadas quando crianças que "brincam" com seus filhos, nas suas próprias buscas pela sexualidade que foi reprimida tão cedo (ou exploradas muito cedo).

Depressão e grandiosidade, idealização dos pais (ou de alguém mais velho) como forma de barreira para sentimentos contrários, auto-enganação, poder dos pais ou dos adultos perante crianças, desprezo, etcs.

Uma parte ela fala de Ingmar Bergman, numa entrevista onde ele relata sua infância, e de como ele mesmo cria ilusões, mesmo tentando ser o mais sincero possível e também toca de leve no tema legal da possibilidade do artista explorar seus traumas pela via da arte, tendo essa possibilidade saudável que a maioria das pessoas não têm.

Nas páginas finais ela fala de Hermann Hesse ("a depravação do mundo infantil de Hermann Hesse como exemplo de mal concreto") , mas eu ainda não li, faltam umas 10 páginas pra eu acabar o livro.

E é até legal ter o livro para reler toda hora.

Quero agora ler outro livro dela, A Verdade Liberta.

Fica a recomendação, muito boa leitura mesmo. E nos deixa com mais noção da responsabilidade de sermos pais.

Só queria lembrar onde eu vi a recomendação desse livro. Lembro que li a dica e anotei o nome na hora... e acho que foi recomedação de alguma personalidade numa entrevista mais do que uma simples crítica literária.


posted by RENATO DOHO 1:09 AM
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