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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, junho 24, 2005
Batman Begins (Idem)

Finalmente fizeram um filme do Batman mais próximo ao personagem original! Não que fosse algo árduo diante dos exemplares anteriores (seja os filmes no cinema ou o antigo seriado de tv), mas parecia que a concepção mais realista passava longe da cabeça dos estúdios (precisou de um desastre para que isso ocorresse). Chega a ser o filme ideal do Batman? Não, mas estabelece uma sólida base para os outros filmes. Bem difícil fazer um Batman ainda mais seco, raivoso e violento diante de uma super produção. Mas Nolan conseguiu reverter várias coisas, recomeçando do zero. O tom realista é evidente em vários aspectos, começando pela origem, o treinamento e a concepção da criatura que será Batman. Tudo se adequa: os vilões são os mais reais e críveis até hoje, o batmóvel é o melhor disparado (um carro de combate oras! só tinha que ser esse tipo para o personagem), o uniforme além de ser o mais realista é o mais bonito e prático (mais uma vez, roupa para soldado), Gotham pela primeira vez parece uma cidade e não um cenário (como se filmassem em NY), a trilha evita os temas e é climática (e muita gente reclama que não houve um tema, mas seria ridículo para essa abordagem, é como se quisessem um tema para a trilha do Justiceiro, o personagem não comporta um tema musical, não é super herói) e a história se meio exagerada é de um plano militar e político ao contrário das fantasias de outrora. O elenco foi bem composto, revertendo imagens atuais de atores (só pensar no que Liam Neeson é para a platéia jovem de hoje e o que ele vira no filme, ou Gary Oldman há quanto tempo sem ser um exagerado vilão ou o protagonista, Christian Bale, fazendo de psicopatas à assassinos), sedimentando outros (Morgan Freeman e Michael Caine adequadíssimos nos papéis) e estabelecendo novos rostos (o jovem que faz o Espantalho e Ken Watanabe logo no início). Bale é o primeiro ator que faz um Wayne mais próximo do que seria o personagem, já que é um playboy atormentado (e raivoso no início) enquanto todos os outros eram no máximo apenas playboys (Michael Keaton sofrendo? George Clooney atormentado? Val Kilmer... Val Kilmer?!). Curioso que o filme pega a idéia que Tarantino expôs em Kill Bill 2 sobre o Superman e se encaixa perfeitamente aqui: Bruce Wayne é a máscara e Batman a verdadeira face do protagonista, toda a fachada de playboy é apenas isso, fachada para uma pessoa traumatizada que procura justiça (e para mim, se pune inconscientemente). Isso é bem diferente dos personagens da Marvel (Peter Parker, por exemplo, realmente tem a vida de Peter Parker, não leva uma vida falsa), seria essa inversão uma característica dos personagens da DC? É extremamente interessante essa oposição.

O que se pode lamentar um pouco é o não domínio de Nolan para cenas de lutas (picotadas assim como os outros Batmans feitos - de se pensar se isso não é por causa da armadura que impede os atores de fazerem coreografias em planos mais abertos).

Se formos pensar nos Batmans anteriores é engraçado ver que Batman & Robin (que enterrou a franquia como era) é o mais corajoso. Schumacher homoerotizou o personagem (incluindo um Robin), carnavalizou todo o projeto, fantasiou ao máximo os vilões (Schwarzenegger congelando Gotham!)... poxa, isso é fantástico! Jogar isso pro estúdio e pro público é demais! Os do Burton sempre foram dos vilões, no primeiro nem do Coringa era, mas de Jack Nicholson (uma ego trip milionária). E no segundo o Pinguim e a Mulher Gato (único segmento de qualidade, aparte de todo o filme, Burton se daria bem melhor fazendo Mulher Gato com a Michelle Pfeiffer, mas não o fez). Todos fantasiosos ao extremo que pareciam brincadeiras feitas em estúdio... Pra ver como os estúdios pensavam: Batman é um personagem "dark", chamem o Tim Burton! Tem que ter mais cores neste terceiro, chamem o Schumacher! Ao menos desta vez acertaram no perfil certo, Batman é um ser atormentado, chamem Nolan (o mais evidente em Amnésia e Insônia é que os protagonistas são atormentados), sem esquecer que Aronofsky estava no início do projeto (outro que não sei se daria bem nas cenas de ação).

Agora é esperar que o diretor da continuação consiga manter o realismo e a seriedade acrescentando uma habilidade maior nas cenas de ação (implicitamente dizendo que prefiro que Nolan não seja o diretor).

P.S. - gostei da utilização do gás alucinógeno que acabou em cenas boas de horror sem sair do realismo (e incluindo até homenagem ao Romero). E meu Batman ideal talvez fosse Billy Crudup (com Clint Eastwood na versão Cavaleiro Das Trevas).


posted by RENATO DOHO 12:40 AM
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