Batman Begins (Idem)Finalmente fizeram um filme do Batman mais próximo ao personagem original! Não que fosse algo árduo diante dos exemplares anteriores (seja os filmes no cinema ou o antigo seriado de tv), mas parecia que a concepção mais realista passava longe da cabeça dos estúdios (precisou de um desastre para que isso ocorresse). Chega a ser o filme ideal do Batman? Não, mas estabelece uma sólida base para os outros filmes. Bem difícil fazer um Batman ainda mais seco, raivoso e violento diante de uma super produção. Mas Nolan conseguiu reverter várias coisas, recomeçando do zero. O tom realista é evidente em vários aspectos, começando pela origem, o treinamento e a concepção da criatura que será Batman. Tudo se adequa: os vilões são os mais reais e críveis até hoje, o batmóvel é o melhor disparado (um carro de combate oras! só tinha que ser esse tipo para o personagem), o uniforme além de ser o mais realista é o mais bonito e prático (mais uma vez, roupa para soldado), Gotham pela primeira vez parece uma cidade e não um cenário (como se filmassem em NY), a trilha evita os temas e é climática (e muita gente reclama que não houve um tema, mas seria ridículo para essa abordagem, é como se quisessem um tema para a trilha do Justiceiro, o personagem não comporta um tema musical, não é super herói) e a história se meio exagerada é de um plano militar e político ao contrário das fantasias de outrora. O elenco foi bem composto, revertendo imagens atuais de atores (só pensar no que Liam Neeson é para a platéia jovem de hoje e o que ele vira no filme, ou Gary Oldman há quanto tempo sem ser um exagerado vilão ou o protagonista, Christian Bale, fazendo de psicopatas à assassinos), sedimentando outros (Morgan Freeman e Michael Caine adequadíssimos nos papéis) e estabelecendo novos rostos (o jovem que faz o Espantalho e Ken Watanabe logo no início). Bale é o primeiro ator que faz um Wayne mais próximo do que seria o personagem, já que é um playboy atormentado (e raivoso no início) enquanto todos os outros eram no máximo apenas playboys (Michael Keaton sofrendo? George Clooney atormentado? Val Kilmer... Val Kilmer?!). Curioso que o filme pega a idéia que Tarantino expôs em Kill Bill 2 sobre o Superman e se encaixa perfeitamente aqui: Bruce Wayne é a máscara e Batman a verdadeira face do protagonista, toda a fachada de playboy é apenas isso, fachada para uma pessoa traumatizada que procura justiça (e para mim, se pune inconscientemente). Isso é bem diferente dos personagens da Marvel (Peter Parker, por exemplo, realmente tem a vida de Peter Parker, não leva uma vida falsa), seria essa inversão uma característica dos personagens da DC? É extremamente interessante essa oposição.O que se pode lamentar um pouco é o não domínio de Nolan para cenas de lutas (picotadas assim como os outros Batmans feitos - de se pensar se isso não é por causa da armadura que impede os atores de fazerem coreografias em planos mais abertos). Se formos pensar nos Batmans anteriores é engraçado ver que Batman & Robin (que enterrou a franquia como era) é o mais corajoso. Schumacher homoerotizou o personagem (incluindo um Robin), carnavalizou todo o projeto, fantasiou ao máximo os vilões (Schwarzenegger congelando Gotham!)... poxa, isso é fantástico! Jogar isso pro estúdio e pro público é demais! Os do Burton sempre foram dos vilões, no primeiro nem do Coringa era, mas de Jack Nicholson (uma ego trip milionária). E no segundo o Pinguim e a Mulher Gato (único segmento de qualidade, aparte de todo o filme, Burton se daria bem melhor fazendo Mulher Gato com a Michelle Pfeiffer, mas não o fez). Todos fantasiosos ao extremo que pareciam brincadeiras feitas em estúdio... Pra ver como os estúdios pensavam: Batman é um personagem "dark", chamem o Tim Burton! Tem que ter mais cores neste terceiro, chamem o Schumacher! Ao menos desta vez acertaram no perfil certo, Batman é um ser atormentado, chamem Nolan (o mais evidente em Amnésia e Insônia é que os protagonistas são atormentados), sem esquecer que Aronofsky estava no início do projeto (outro que não sei se daria bem nas cenas de ação).Agora é esperar que o diretor da continuação consiga manter o realismo e a seriedade acrescentando uma habilidade maior nas cenas de ação (implicitamente dizendo que prefiro que Nolan não seja o diretor).P.S. - gostei da utilização do gás alucinógeno que acabou em cenas boas de horror sem sair do realismo (e incluindo até homenagem ao Romero). E meu Batman ideal talvez fosse Billy Crudup (com Clint Eastwood na versão Cavaleiro Das Trevas). posted by RENATO DOHO 12:40 AM . . . Comments: