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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quinta-feira, junho 16, 2005
Cruzada (Kingdom Of Heaven)

Já vi o filme faz um tempo, mas só agora que vou escrever algo sobre. Se fosse no dia acho que sairia mais, agora dá uma preguiça... Bom, a primeira surpresa é que achei o filme mais do que ótimo, eu até diria excelente, mas não acho que tenha excelência em toda sua duração. Fiquei impressionado com algumas cenas, ou melhor dizendo, empolgado, o que é indício que realmente estou adorando o filme. Como o anterior de Ridley Scott, Os Vigaristas, também me entusiasmou e me pego vez ou outra relembrando cenas de seus filmes e querendo revê-los (semanas atrás eu tava querendo rever Chuva Negra sei lá por quê) e até os que não gostei estou querendo rever (Hannibal, Gladiador, Até O Limite Da Honra, 1492) acho que uma reavaliação de sua obra valerá a pena, já que nunca dei importância e cada vez mais acho interessante. Aconteceu isso com o famoso Blade Runner que nos anos 80 todo mundo falava bem e eu que tinha visto em fita pirata (ou mesmo selada, não lembro) achava chato. Quando surgiu a versão do diretor nos cinemas fui rever e sai muito entusiasmado, pois achei excelente (e raras vezes isso ocorre, geralmente é ao contrário, alguns que eu gostava bastante se tornam regulares depois). Até Falcão Negro Em Perigo que na época não me agradou passou a exercer um fascínio em mim, algumas cenas não saiam da minha cabeça e tive que comprar a edição dupla do filme (extras excelentes, falta eu rever com os comentários da equipe), fora o livro e a trilha (as últimas trilhas dos filmes de Ridley estão magníficas). Aí eu me lembro de Thelma & Louise que é um bom filme se visto hoje durante sua duração, mas o seu final é particularmente forte para mim (eu revi o final umas, sei lá, 200 vezes na época) pois era um final que queria pra mim (não exatamente como feito, mas terminar naquela euforia, com aquela liberdade e sim, saltar do grand canyon - só que com moto). Sei lá, acho que preciso rever os filmes dele, mesmo que continue não gostando de alguns.

Em Cruzada tem várias coisas que vão se alinhando dentro de sua carreira que são curiosas. A questão do fracasso é central, que gosto peculiar pelos projetos fracassados, o indivíduo ou grupo partindo em direção ao fracasso certo, mas ao mesmo tempo um fracasso aparente, social, na superficie, mas um encontro de outro estado de espírito (o que Thelma e Louise encontram ou Deckard e Rachael saem à procura ou mesmo o replicante Roy encontra ou os protagonistas de Vigaristas, Tormenta e Falcão Negro). Os casais marcados ou impossíveis mesmo que juntos (isso me faz querer rever ainda mais Hannibal pela relação Hannibal e Clarice). A ética (ou falta de) no combate, no embate (em suas mais variadas formas, desde um real duelo como em Os Duelistas até a relação policial e foragidas em Thelma & Louise). O indivíduo entrando num universo aparentemente estranho à ele (um policial americano no Japão, um ferreiro nas cruzadas, um policial suburbano na high society, grupo de elite militar americano na Somália, Colombo na América, uma mulher nos seals). A questão da arquitetura / paisagem sobre o indivíduo (a arena, Mogadishu, o grand canyon, o espaço sideral). O papel da mulher, a figura paternal, e muitos outros temas. E fui vendo isso tudo em Cruzada, me deixando mais fascinado ainda. Fora isso são impressionantes algumas tomadas (como a dos abutres e aves ao redor dos cadáveres ou o olhar de cima da fronteira entre os invasores e os defensores que acaba numa lenta elipse ou os fogos à noite ou o enorme exército muçulmano) deixando clara a formação plástica de Ridley (os seus famosos Ridleygrams são belíssimos, muito melhores que meros storyboards e já dão todo o tom de como as coisas serão filmadas), a encenação clara e precisa do movimento das tropas (muito tempo que não via nesses épicos um claro olhar estratégico e estético ao invés da costumeira bagunça e falta de noção espacial) deflagrando num ótimo duelo de dois oponentes dignos, onde não há lados a se tomar, mas uma admiração mútua entre experts. Até Orlando Bloom se tornou suportável como protagonista e Eva Green num papel até complexo pela falta de tempo para desenvolver sua jornada (sua relação com o irmão, a auto imagem passando pelos adornos na pele até o cabelo cortado, a culpa e o se doar para os feridos, o povo). O elenco de apoio esteve muito bem, em especial o ator que fez Saladin (Alexander Siddig que faz Nasir é velho conhecido de Star Trek - Deep Space Nine). É o primeiro trabalho do roteirista William Monahan que trabalha agora com Martin Scorsese e pode voltar com Ridley em Tripoli.

Algumas fotos do filme podem ser vistas
aqui.

posted by RENATO DOHO 2:59 AM
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