O Lenhador (The Woodsman)Um surpreendente filme tratando de pedofilia que no final achei bem mais abrangente, o tema maior é a sexualidade humana, principalmente centrada nos seus desvios, culpas e censuras. Em vários níveis sutis a questão da sexualidade aparece, a mais óbvia é o tormento do protagonista por gostar de garotinhas. O sentimento da secretária denunciadora passa pelo sexo (recusado), a relação entre cunhados estabalece uma cumplicidade que nunca pode ser explícita (a fúria do cunhado quando confrontado com perguntas sobre sua filha logo após suas deixas quanto à vestimentas da filha e das amigas demonstra algo camuflado, aliviado ou soterrado com a procura de outras parceiras sexuais casuais), a irmã ausente cuja reação de desprezo e raiva pode significar muitas coisas diante do passado com o protagonista, a nova companheira na sua relação com homens (não aceita cantadas grosseiras) e seu passado com os irmãos, o outro pedófilo (mais ameaçador que o protagonista), o policial que exerce poder (onde obviamente retira prazer dessa situação), e a menina no banco e sua história com o pai. Mesmo que não se queira há um painel geral da sexualidade sendo mostrado, em como as pessoas lidam com isso das mais estranhas maneiras. Kevin Bacon consegue um desempenho incrível, conseguindo passar o conflito interno que passa seu personagem. Primeiro quer se sentir normal, isto é, não se excitar com garotinhas (talvez com quem ele mais queira isso é com sua sobrinha, a possibilidade de estar com ela e conviver sem que ela seja uma tentação). E como um ex-viciado ou alcóolatra sabe que carregará isso com ele para toda vida, sempre tentando o controle para não cometer uma leve recaída. A não possibilidade de comandar seus próprios sentimentos é angustiante, principalmente com algo que é rechaçado e combatido pela sociedade em geral (seria diferente caso ele fosse um viciado onde o único prejudicado seria ele). Uma coisa "boa" (se é que se pode dizer algo assim) é que o filme tenta mostrar o lado mais cruel da pedofilia (cruel porque mais sutil e mais praticado) que é a simples sedução. Não estamos vendo o estuprador de criancinhas (dá a entender que ele nem violava suas vítimas), aquele facilmente identificado, combatido e desprezado. Mas sim o compreensível, o sedutor, que estabelece um relacionamento com a vítima, e até em certos casos o pedófilo acha que a garota o ama, que não está fazendo nada de errado se é algo concensual. Por isso que esses casos, bem mais comuns do que se imagina, são difíceis de serem identificados, processados e condenados (Michael Jackson é um exemplo). O mal não estaria em algo de fora, no desconhecido, mas no próximo (maioria dos casos acontece na família - pais, padrastos, tios, primos - ou amigos e vizinhos). Assim, tentando entender o protagonista, o filme se torna mais contundente e forte para o espectador. O recurso de usar outro pedófilo (que pega garotinhos em frente da escola) pode soar simplista e covarde, mas é um bom espelho do próprio protagonista, pois são bem semelhantes (ele sabe como o outro age) e evita que o personagem se auto sacrifique no final (caso não existisse esse personagem seria esperado que o protagonista só conseguisse expurgar sua culpa e dor nele mesmo, um suicídio talvez). A garotinha Hannah Pilkes tem uma participação breve mas extremamente tocante, com poucas falas consegue passar toda a história de sua personagem, chegando a quase apagar Bacon da cena (fico imaginando se o filme tivesse um contexto religioso o que esse personagem conteria de significados). Mos Def como o policial também tem um desempenho digno de elogios. A mistura de um texto de um homem com uma direção de uma mulher balanceou muito bem a condução do projeto, não se foca totalmente nos homens (ou no homem), buscando o lado feminino dessa questão. posted by RENATO DOHO 6:51 PM . . . Comments: