2 Filhos De FranciscoQue belo filme, um dos melhores do ano! É tão difícil diante de tanta exposição falar algo que a maioria já não saiba. Até eu, bem longe de ser fã musical da dupla, conhecia a história da família e via o potencial. O trailer (um dos mais bem feitos do cinema nacional dos últimos tempos) se revisto após o filme confirma o fato de que todos já vão para a sala sabendo a trajetória do filme (o trailer é quase um resumão) e mesmo assim não estraga nada a apreciação do filme (revertendo a idéia de que trailer que conta tudo é algo negativo) pois há muito mais. A coisa mais perceptível é uma sinceridade (ou entrega) da direção e do roteiro (fora todo o elenco e equipe técnica) para com o projeto. Não se percebe um artificialismo ou uma inadequação (e vendo entrevistas parece que o jeito de ser do Breno, o diretor, ajudou muito nisso) perceptíveis em outros filmes nacionais que abordaram temáticas parecidas. Uma coisa bem curiosa que notei depois foi lembrar que o filme retira toda parte de religião ou fé do filme, nunca vemos uma presença forte através de ações ou falas do nome de Deus; em muitos momentos isso é evitado (na morte do filho a mãe grita por ajuda do marido e não de Deus, quando da notícia da paralisia de outro também não há um enfoque de religião - mesmo que fosse de indignação, nos momentos apertados na grande cidade Zezé também prefere a reflexão do que a reza). Morte, casamento, hospital, quantas situações propícias para aparecer uma igreja, uma cruz, um padre. Parece ter sido proposital essa recusa, pois os personagens reais constantemente citam Deus, fé e religião. É como se o filme quisesse ser pragmático, onde somente o ser humano ajuda o outro ser humano sem interferências externas (no caso, divinas). É o pai comprar fichas e distribuir, é o Zezé ficar compondo, é a mãe trabalhando... ações sem alguma espécie de diálogo com algo superior. Ângelo Antônio é o maior destaque com uma interpretação explêndida, mas aí teremos que falar da maravilhosa Dira Paes, dos garotos, da Paloma Duarte... O roteiro é muito bem estruturado, seguimos uma história e não fatos (ou episódios). Escapa de várias armadilhas "de destino" para marcar uma passagem (um mau caráter no caminho dos meninos, um roubo na cidade grande, um aproveitador financeiro, um galanteador) que seriam típicas em outros filmes. E consegue colocar pequenos trechos do momento do país no tempo de forma inteligente (o exército, a letra da canção, a situação política). Várias coisas simples enriquecem o filme, fazendo uma construção de caráter por pequenas coisas. Chorei em alguns momentos e tive que me segurar no final. Eis um grande exemplar de cinema popular de qualidade, equilíbrio tão difícil tanto aqui como lá fora. posted by RENATO DOHO 8:33 PM . . . Comments: