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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, agosto 26, 2006
Breve História De Quase Tudo



Extraordinário livro de Bill Bryson, jornalista mais conhecido pelos seus livros de viagem, que movido pela mais apaixonante das curiosidades quis entender o nosso mundo. Como bem diz a capa do livro vai do big bang ao homo sapiens e são tantos os assuntos nas quase 500 páginas que nem dá pra descrever tudo aqui. Bryson se valeu de três anos de pesquisas em livros, revistas e especialistas para tanto. O melhor é que não se trata de um resumão, mas sim de uma abordagem de jornalismo investigativo tendo toda a parte teórica como base para se lançar à viagens aos locais e na procura das pessoas certas para esmiuçar melhor as questões. A leitura parece de uma grande reportagem ao invés de algo teórico e maçante. Um exemplo de como todo bom jornalista (munido de muita curiosidade) poderia escrever sobre os mais diversos temas dessa forma como Bryson fez.

Do cosmos passa para a Terra, toda a evolução passando por física, química, geologia, biologia, etcs e indo parar em nós, os homens. No meio disso quase tudo é relatado, detalhado, explanado seja em biografias dos cientistas importantes de cada área, as batalhas que esse meio científico acadêmico teve e tem até hoje, os diversos estudos e teorias e até passagens curiosas de incidentes, acidentes, fatos sociais, aspectos econômicos e assim vai. Um aspecto muito positivo de Bryson é que ele usa de efeitos comparativos para melhor exemplificar certas idéias e noções de tamanho e espaço. Como dimensionar a Terra ao tamanho de uma ervilha e sendo assim Plutão estaria a 2,5 quilômetros de distância, e do tamanho de uma bactéria - bem diferente dos tradicionais mapas do sistema solar... Qual seria a real distância do solo ao centro da Terra (e depois sabermos que não conseguimos chegar em escavações nem na casca superficial da Terra caso fôssemos uma laranja). Ou previsões de possíveis acontecimentos com relação à terremotos, tsunamis, epidemias, eras glaciais...

Caso houvesse alguém criativo poderia transformar o livro num belíssimo filme ou minissérie que juntasse da melhor maneira possível quase tudo que se aborda nele. Os locais citados, os especialistas consultados, a história através de fotos e reconstituições, os efeitos para abordar tanto o macro quanto o micro e coisas mais abstratas, numa incrível jornada do conhecimento. Kubrick, cadê você?

Dentre as várias coisas que ficam há a real sensação que nós não sabemos de absolutamente nada ainda, o que não deixa de ser engraçado diante de tantos estudos. O oceano, tão próximo, é quase uma incógnita, imagine o resto. Isso sem falar no próprio corpo do ser humano (o cerébro sendo ainda um grande mistério). O redimensionamento do passado da Terra dá uma melhor noção de como o ser humano é quase uma vírgula em sua história, marcado por muitas mudanças e várias grandes extinções (nossa presença está retendo que outra espécie de ser a próxima espécie dominante como os dinossauros foram para nós?).

Quando pensamos nos cientistas dá para se pensar em que condições conseguiram realizar seus feitos, a permanente curiosidade, a possibilidade (social, financeira) de dedicação absoluta ao objeto de interesse, as rejeições constantes pelos orgãos e acadêmias oficiais (como numa piada exposta no livro as etapas que uma nova idéia percorre: primeiro é negada por todos, depois um pouco aceita, mas considerada sem muito valor e finalmente é reconhecida, mas à pessoa errada é dada a fama da descoberta) e em vários casos o reconhecimento tardio, não em vida, dos estudos e descobertas alcançadas.

Ao final Bryson dá um tom ambíguo da grandeza e baixeza do ser humano em sua curta trajetória até aqui. Capaz de se estudar e alcançar tamanhos feitos e ao mesmo tempo ser um dos maiores carrascos de todos os tempos (estamos na média de 600 à 1000 extinções de animais e plantas por semana!). A grande variedade do planeta em todo esse tempo nunca esteve tão em baixa como agora, com nossa presença.

Gostaria que o livro até fôsse disponibilizado para estudantes do segundo grau, a simples leitura deste seria melhor do que várias aulas sobre as várias matérias e poderia até despertar maior interesse nos alunos para muitos dos temas abordados, assim o que antes via como chato em biologia, química, geografia poderia ser fascinante caso abordado do ângulo mais sedutor. Indico à todos, leigos como eu, que tenham um mínimo de interesse no mundo, no ser humano e no universo.


posted by RENATO DOHO 5:58 PM
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