sexta-feira, setembro 15, 2006
Dupla Identidade (Spooks / MI5)
Ótima série da BBC que é exibida tanto pela Tv Cultura quanto pelo People & Arts.
Fala das operações do MI5, o serviço secreto britânico. Quatro temporadas realizadas, a quinta começa esse mês lá fora. São 10 episódios cada temporada e há mudanças de elenco em boa quantidade, o que vem de encontro ao que o seriado trata: a vida dos agentes e o perigo de suas missões. Até agora um agente largou a agência, outra teve que fugir clandestinamente e três morreram em serviço. Do elenco original apenas o chefe continua, Harry Pearce (Peter Firth). Foi uma pena o personagem principal, Tom Quinn (Matthew Macfadyen), ter saído no começo da terceira temporada, mas o ator se mostrou mais no cinema fazendo Orgulho e Preconceito. Depois de sua saída, queira ou não, as coisas mudaram, pra pior e pra melhor.
Duas das melhores qualidades do seriado são o nível das interpretações (sendo elenco inglês não é de espantar) e as tramas que abordam de forma muito mais contudente assuntos emergenciais da atualidade. Não há histórias mirabolantes, mas sim eventos com tons realísticos únicos envolvendo terrorismo islâmico, política externa americana, política interna inglesa, problemas sociais britânicos (imigração, drogas, racismo), tráfico de armas e pessoas, exército, Síria, etcs. Assim sendo, certas coisas simplesmente não ocorrem como em outras séries: o QG não é simplesmente destruído, traidores não aparecem assim do nada e pipocando conforme o roteiro queira, grandes explosões, perseguições de carro por Londres, ressurreições inesperadas, etcs. A série se firma na realidade onde Tony Blair é o primeiro ministro, Bush o presidente dos EUA, e acontecimentos da vida real aparecem e afetam as tramas. Uma visita de Bush à Inglaterra é assunto de um episódio, ataque ao primeiro ministro outro, o caso envolvendo Lady Di também, ataques ao metrô londrino outro e assim vai, isso diferencia de longe esse seriado de qualquer outro (principalmente americanos que evitam bastante botar temas dos noticiários de forma tão direta assim, sempre acham subterfúgios dramáticos para contornar situações). WTC e Katrina com certeza estariam em episódios desse seriado caso esses acontecimentos tivessem ocorrido na Inglaterra e não como enfeites, mas questionando algo desses eventos. O seriado não serve de propaganda do serviço secreto britânico, há questionamento das ações do MI5 e tenta-se entender os grupos radicais e seus participantes (dando em ótimos embates), assim como nota-se um olhar bem cético das ações americanas.
Toda a estrutura narrativa é diferente também, às vezes caímos diretamente numa ação, em outras vamos passo a passo, as conclusões em muitos casos são frustrantes ou trágicas, todos os personagens têm graves falhas e algumas pontas ficam soltas (como aconteceria no MI5 real, sem finalizações de casos ou pessoas). Além de sempre ter esse clima de thriller de espionagem bem realizado o seriado guarda momentos de emoção e humor em determinadas situações. A visão da vida pessoal dos agentes não é nada boa, geralmente os laços afetivos pessoais são sacrificados, piorando os constantes dilemas éticos e morais de suas ações em campo.
Uma característica curiosa é que os créditos quase não aparecem, seja na abertura ou no final (diretor e roteirista passam bem rápido) ou mesmo no título dos episódios (foram renomeados apenas quando foram lançados nos EUA) o que dá um tom anônimo no seriado. Não sei quais os diretores mais constantes, quem mais escreveu (ou mesmo quem escreveu), quem é o criador do seriado, qual o nome dos atores principais e os coadjuvantes e participações especiais. De certa forma isso é bem positivo (e sendo coerente com um certo anonimato que uma vida de espião exige). Não há essa ênfase nos nomes e nem em elenco "bonitinho", com isso não ligamos para temporadas, brigas internas, reconhecimento autoral, títulos dando uma idéia do que o episódio trata, atores famosos mostrando a cara, spoilers, promos, chamadas, pessoas do elenco em capas e mais capas de revistas e ensaios de moda, fofocas, etcs, toda essas baboseiras que cada vez mais as séries americanas se afundam.
Uma curiosidade foi a participação de Hugh Laurie em um dos episódios da primeira temporada.
Vi três finais de temporada e todas foram muito boas, utilizando bons ganchos para a próxima. Na Cultura teremos o final da segunda temporada na próxima quinta. O People & Arts passa o seriado todo dia o que faz com que quase todas as temporadas tenham sido reprisadas várias vezes (1 temporada = 2 semanas), disse quase pois não sei exatamente o motivo o canal não tem os direitos da segunda, então sempre pulam da primeira para a terceira. A dublagem de ambos os canais é a mesma e não atrapalha, na verdade, eu já me acostumei, mesmo que saiba que seria outra coisa ouvindo os sotaques dos atores. Outra mudança é que a série passa na BBC com quase uma hora, uns 55 minutos, e nas versões fora de lá são montadas para os comerciais, ficando com os tradicionais 43 minutos, mais ou menos. Quem não sabe disso não sente a diferença, mas em dvd dá pra ter toda a duração (mas só importando pois dificilmente o seriado será lançado por aqui). Talvez no dvd também não haja a censura que em poucos casos apareceram onde detalhes de corpos mutilados ou baleados foram borrados (não sei se passa assim também na BBC).
Com essa constância de exibições no P&A vi a série em ordem levemente bagunçada pois perdia alguns episódios que não conseguia gravar (ou faltavam fitas). Da segunda (que tive que ver somente na Cultura) não vi 2; da terceira 1 e da quarta na terça que vem completo a temporada toda. Quem quiser ver desde o início poderá fazer isso quinta que vem no P&A. Espero que o canal passe a nova temporada em breve e que a série se mantenha em suas fortes bases, pois se desviar disso cai no comum como tantas outras.
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