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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quinta-feira, março 01, 2007
Déjà Vu (Idem)



Sensacional filme de Tony Scott! Começando pela seqüência inicial totalmente visual em que se estabelece com precisão o local, os personagens (importantes pois serão reprisados) e o acontecimento que gerará toda a trama (além disso uma explosão magnificamente filmada). É impressionante o domínio de Tony das tomadas e ângulos auxiliados pela montagem, seja em pans e gerais ou mesmo em tomadas fixas ele cria transições em constante movimento (só notar como ele vai direcionando nosso olhar para a ponte e como temos a noção de todo o espaço daquela locação em poucos segundos). Isso vai ser ampliado ainda mais um pouco adiante com o aparato secreto do governo. Temos todos os vários temas de sua carreira ali que em última (ou maior) instância trata simplesmente de uma coisa: cinema. A super vigilância que é capaz de termos uma câmera livre no passado sem que ela seja visível, podendo ver todos os cantos, é quase que o puro cinema. Por que é necessário o personagem de Denzel Washington ali? Porque ele é um observador perito, do que adianta eles poderem ver tudo se não há alguém que aponte o que ver, onde ver? Denzel é o cineasta. E ainda mais fascinante é que ele se apaixona pela atriz do filme e ela está morta! Somente o momento que presenciamos Denzel se apaixonando pela imagem de Paula Patton (que grata revelação, apaixonante, mais um acerto de casting do Tony) vale todo o filme. Aquilo é quase A Rosa Púrpura Do Cairo pós-moderno. Se isso já tem uma complexidade excitante fica ainda mais quando Denzel usa o capacete virtual. É até difícil ficar apontando o tanto de coisas que podem ser extraídas e analisadas dessa seqüência. Quantos olhares há ali? E de onde começa? De nós na sala de cinema? Dos operadores que acompanham pela tela? De Denzel no real e no passado? De Tony vendo os operadores, Denzel, o passado e o presente? Fora isso é a perseguição de carro mais inexistente que já vi nas telas.

Uma pausa. Tony parece dar um aceno tanto para Hitchcock (Um Corpo Que Cai) quanto para seu irmão Ridley (Blade Runner), entre outros, pois o amor pela mulher morta (ou que nem é viva como em Blade Runner) e as várias percepções (errôneas muitas vezes) da investigação (o que se vê realmente?) são peculiares dos dois filmes.

Jim Caviezel (outra ótima escolha) encarna o anjo da destruição, não há dúvidas de seu propósito maior em sua missão, ele sabe qual o seu destino. É o interrogatório dele com Denzel que faz com que seja necessária a volta ao passado.

Todo o final, que reprisa o começo, parece se encaminhar para uma impossibilidade da mudança, um eterno retorno. Só que isso acontece de outra forma, redimensionando aqueles personagens - o patriotismo de Jim, o destino de Denzel, a salvação de Paula - usando as mesmas frases e até invertendo os papéis, agora é Paula que sabe bem mais que o "outro" Denzel.

Tocante romance, thriller futurista, entretenimento inteligente, obra complexa de um cineasta, há várias opções para escolha.

Acho que a leitura do texto de Christoph Huber e Mark Peranson,
World Out Of Order: Tony Scott’s Vertigo estrutura melhor a apreciação desse belíssimo filme (colocando mais referências à Hawks, Godard, o uso das mãos, as relações obsessivas de sua filmografia, etcs) e analisa toda a obra de Tony, tentando aos poucos, tirar o pesado preconceito que sua obra carrega há tempos.

"Well it's been building up inside of me
For oh I don't know how long
I don't know why
But I keep thinking
Something's bound to go wrong

But she looks in my eyes
And makes me realize
And she says don't worry baby
Don't worry baby
Don't worry baby
Everything will turn out alright"

posted by RENATO DOHO 12:12 AM
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