RD - B Side
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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quarta-feira, março 21, 2007
Momento Jornada Nas Estrelas

Lendo o ótimo Jornada Nas Estrelas - Memórias Dos Filmes do William Shatner, ainda sobre as conturbadas filmagens do primeiro filme, um trecho me fez cair na gargalhada. Se apenas lendo foi assim, imagino como foi no set.

Transcrevi o trecho para melhor explicação:

“... a situação ficou preta mesmo na manhã seguinte, quando filmávamos uma cena na qual a tripulação da Enterprise observa V’Ger lançando uma série de objetos cilíndricos desconhecidos em nossa direção. Copos de café na mão, todos nos reunimos sonolentos na ponte de comando para a primeira tomada do dia, lendo nossos roteiros num esforço enorme para ensaiar a próxima cena. Contudo, não tivemos condições.

Vejam bem, com nossos cérebros embotados por tediosos meses de produção, simplesmente não tínhamos mais força interior ou a maturidade necessária para evitar cair na gargalhada, como meros estudantes bagunceiros, ante a primeira fala de Uhura: “Capitão, o alienígena evacuou um grande objeto, que vem em nossa direção”. Na mesma hora, um bando de atores de meia-idade começou a rir histericamente, completando a cena com observações adolescentes do tipo “Cuidado! Cagalhão voador!!!”.

Enquanto nos contorcíamos com dor na barriga de tanto rir, a fala foi rapidamente alterada para “Capitão, o alienígena liberou um grande objeto”. Bob sabiamente resolveu nos mandar para almoçar mais cedo.

Uma hora depois, esforçando-nos ao máximo para ficar sérios, todos voltamos à filmagem. Em meio a risadinhas espaçadas e retardadas, mais uma vez assumimos nossos lugares na ponte, trocando olhares e dissimulando risinhos devido à cena que estava por vir. Bob Wise retoma sua posição atrás da câmera e convoca: “Muito bem, pessoal, vamos tentar nos concentrar no filme, está bem?”.

Empurrados para a frente das câmeras muito mais rápido do que esperávamos, todos começamos a mordiscar a parte interna da boca, ocupando nossas mentes com problemas matemáticos, pensando nas contas para pagar, cada um fazendo tudo para evitar ser o primeiro a perder o controle no set. “Ação!” grita o assistente, e tenho certeza de que estamos numa bela enrascada.

Segundos depois, Nichelle sequer termina de dizer “Capitão, o alienígena liberou um grande objeto”, pois todos nós, como alunos a quem o professor não consegue controlar, caímos literalmente na gargalhada. Até mesmo Leonard, em geral impertubável, não resistiu. Enquanto a gente rola de rir, Robert Wise, normalmente dono de uma expressão pétrea, também cede à piada, embora se recuse a desligar as câmeras. Nosso cinegrafista, divertindo-se com o rumo da história, também não consegue segurar mais e explode em risadas. “Conti... ha-ha-ha... he-he-he... continuem” esforça-se Wise.

Nessa hora, George Takei prossegue com sua fala, que diz (eu juro): “Oh meu Deus, ele liberou mais um... agora dois... e três!”.

Bom, como já devem imaginar, estamos agora esparramados em nossos postos, chorando de tanto rir, entregues a uma histeria incontrolável. O pessoal da equipe acaba contagiado. A continuísta está se debatendo no chão, depois de cair da cadeira, e, acima de nós, a turma da iluminação faz o andaime balançar de tanto bater com os pés na plataforma.

De Kelley é o próximo: “Vamos torcer para que essas coisas não atinjam a nave!”.

Essa talvez tenha sido a primeira vez em minha vida, que me lembre, que ri tão histericamente, a ponto de não conseguir sequer respirar.

E agora é a vez de Leonard. Parado, de pé, em seu posto, ainda tentando manter algum resquício de decoro, um mínimo de dignidade, ele mantém seus olhos levemente cerrados, suas mãos visivelmente tremendo e sua cabeça sacudindo de um lado para o outro, silenciosamente recusando-se a falar. “Vamos lá, Leonard, libera você, também” improvisei, enquanto continuava a rir. “Eu preferia.. hummmmmm... permanecer... emmmmmm silêncio”, diz nosso vulcano, já entregando os pontos.

“Leonard, a fala, por favor?” incentiva Robert Wise, sabendo muito bem o que vem pela frente. “Oh Deus” murmura Leonard, revelando seu lado humano mais uma vez. Suspirando, fala sua frase de forma impecável: “Devo avisá-lo de que os objetos liberados são, pelo menos, cem vezes mais poderosos do que tudo que algum de nós já tenha encontrado”.

Tivemos um intervalo de vinte minutos. Durante esse tempo, jogamos água gelada em nossas caras encharcadas de lágrimas e ficamos pensando em coisas como a fome no mundo, doenças e morte, na esperança, de nos recompor. Meia hora mais tarde voltamos ao set, mas, pelo resto do dia, continuamos destruindo as tomadas, cada um de nós com sua parcela de culpa, ao rir fora de contexto à simples lembrança de nossa perda de controle.”


posted by RENATO DOHO 5:25 PM
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