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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, março 23, 2007
The Office - Segunda Temporada



Um dos melhores seriados cômicos em exibição atualmente, The Office é quase um marco na tv. Aos poucos vou alcançando a série pois só recentemente comecei a vê-la. Ela se encontra na terceira temporada. Essa segunda é completa, com 22 episódios, enquanto que a primeira era mid-season com 6 episódios. Pra quem não sabe a série trata da rotina da Dunder-Mifflin, uma companhia de papel, em uma cidade da Pensilvânia e é uma adaptação de uma série inglesa de grande sucesso. Steve Carell faz o chefe, Michael, que tem algo de tolo, sem graça e sem noção. Tenta ser amado e admirado por todos, mas na verdade todos o acham um pé no saco e só o toleram por ser o chefe. Todos do escritório lutam constantemente para afastar o tédio de seus trabalhos, o que resulta nas várias tramas do seriado (festinhas, olimpíadas internas, basquete entre pessoal do escritório e pessoal do depósito, etcs). O humor e a forma como seriado se apresenta são diferentes e talvez leve algum tempo para o espectador se acostumar. Tudo é registrado como um falso documentário daquele escritório, então as câmeras são parte importante da ação, seja com os personagens dando depoimento, olhares cúmplices em vários momentos ou mesmo notando suas presenças o que causa reações de embaraço ou exibicionismo. Fora Michael há mais 4 personagens centrais no seriado: Dwight, o empregado puxa saco geek (mais do que nerd, do tipo que tenta ser super eficiente, é expert em paintball, pratica artes marciais, é xerife voluntário, fanático por Lost e Battlestar Galactica, tem planos de ir para a Nova Zelândia fazer a trilha de O Senhor Dos Anéis, etcs), Pam, a recepcionista toda graciosa (Jenna Fischer é apaixonante), Jim, o jovem boa praça que tem uma grande atração por Pam mas não se declara e Ryan, o temporário do escritório. Os outros funcionários têm sua importância, mas muitos deles parecem realmente funcionários reais de escritório, passam desapercebidos num primeiro instante. Vários atores escrevem os episódios (inclusive Ryan). Há muitas referências pop/culturais americanas que podem se perder para o público estrangeiro (a não ser quando mais óbvios como quando algo de Star Wars ou Lost é citado) além de muitos jogos de linguagem nas piadas. Não dá pra explicar bem, mas a série conquista com seu peculiar humor e seu abundante tédio e vai aos poucos trazendo muito mais complexidade do que aparenta. Michael é o melhor exemplo, é um personagem rico que parece banal, às vezes tão patético que não dá para acreditar que seja chefe e em outras de repente mostra suas qualidades (seja no lado profissional ou no pessoal). Dwight, o super geek, consegue namorar a séria Angela da contabilidade (para espanto de Pam e Jim, os únicos que sabem) e manter segredo do caso, mostrando um lado sentimental insuspeito. Até um gay se revela entre eles, mas apenas nós ficamos sabendo disso (e claro, o pessoal que grava do documentário, que nunca sabemos quem é). Momentos hilários antológicos dessa temporada são vários que nem dá para listá-los aqui, mas não dá pra esquecer o discurso de Dwight baseado em Mussolini ou o vídeo de apresentação de Michael em NY ou os prêmios Dundies. A temporada acaba num ótimo gancho que pode vir a mudar tudo na próxima.

Madonna: The Confessions Tour

O que poderia ser o registro de um belo espetáculo acabou sendo um fraco vídeo tudo por causa da direção de Jonas Akerlund. Ele estraga quase tudo fazendo do espetáculo um imenso videoclipe, pipocando tudo e não deixando que um único movimento se mostre por inteiro ou completo. Deve ser a primeira direção ao vivo dele, só pode. Não há movimentação das câmeras e ele mais parece um diretor de tv que fica apertando os botões das câmeras para mudar os ângulos. Isso sem falar que abusa das câmeras lentas e sobreposições. O espetáculo (não acho que seja um show musical) traz muitas coreografias de dançarinos, patinadores e praticantes do le parkour (mais um hype do momento que a Madonna incorpora), mas todo o esforço deles fica confuso quando não podemos acompanhar seus passos e movimentos, nenhuma ação é mostrada do começo ao fim, tudo tem que ser cortado e rápido. Outra falha é ignorar o público, a não ser quando não dá pra fugir dele, mesmo assim há uma impessoalidade da câmera vendo tudo de longe, raras as vezes que sentimos o entusiasmo nas expressões das pessoas que estavam lá (e quando mostra vemos como o público gay masculino é dominante). Se o espetáculo fosse sem público acho que as câmeras do Akerlund não sentiriam falta. Falta ao Akerlund uma experiência mais documental para registrar um show e não transformar o ao vivo num clipe, aliás os piores ao vivos são aqueles que não dão a impressão de serem ao vivo, por fazerem inserts no meio das canções, usar câmeras lentas ou repetições, pegar trechos de várias apresentações para se passar por uma única apresentação (e durante uma mesma música pois entre músicas é até tolerável quando uma canção ficou melhor captada numa noite do que em outra). Bom, se o registro não é bom a apresentação em si é? Sim, até que Madonna se mostra em ótima forma física e se arrisca a cantar ao vivo mesmo que mostre todas as suas deficiências como cantora (e com voz mais grossa que antigamente). O curioso é vê-la diferente, mais engajada, querendo passar mensagens sociais e políticas. Em Live To Tell a intro é de depoimentos em áudio de trajetórias sofridas enquanto dançarinos representam a história e quando Madonna aparece está numa cruz e com uma coroa de espinhos na cabeça enquanto imagens e dados aparecem (crianças com aids ou orfãs por causa da aids) e ao final citações bíblicas no telão. Uma tentativa de ser um show do U2 (mas bem longe de ser tão bem realizada e relevante quanto os irlandeses conseguem fazer). Até nos bastidores vemos esse novo lado dela quando todos se reúnem, antes de entrar no palco, e ela deseja que se ao menos 10 pessoas saírem do show mudadas para melhor ou dispostas a melhorarem o mundo então a missão foi cumprida. O melhor momento é quando vira um show musical mesmo onde ela num banquinho com violão canta Paradise (Not For Me) junto com Yitzhak Sinwani (parece ser o guru espiritual dela). Há poucas canções antigas no set list (Like A Virgin, La Isla Bonita, Live To Tell e Erotica). No dvd há um making of que consegue (mesmo que em vídeo) mostrar melhor as coreografias e se movimentar muito bem para acompanhar os dançarinos. Irônico que Madonna sempre tente se cercar de bam bams do show business e acabe deixando que Akerlund estrague um registro oficial de um show.


posted by RENATO DOHO 7:01 AM
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