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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, maio 08, 2007
Bobby (Idem)



Difícil avaliar uma obra vindo de um ator muito querido e que, com esse filme, renasceu das cinzas. Um projeto tão pessoal e tão difícil de ser realizado. Para mim é ótimo, cheguei a chorar só pelo fato de ver o filme completo e aparecer "written & directed by Emilio Estevez" mas sei que isso nada tem a ver com a obra em si (em partes). Estevez pega o dia do assassinato de RFK para acompanhar as vidas de várias pessoas que estão no hotel onde se realizará o comício e não faz com que isso vire um retrato de época explícito, muitas das histórias não são datadas, isto é, podem ter ocorrido tanto naquele ano quanto ontem, como o casal feito por Martin Sheen e Helen Hunt ou o de Demi Moore e Emilio Estevez. Talvez seja uma diferença que cause estranhamento no público ao ponto de perguntar o que importa certas histórias com o dia em que acontecem. Mas acho isso um acerto, pois é isso mesmo que poderia ocorrer se soubéssemos das histórias particulares de várias pessoas que estiveram num evento maior (um desastre, um assassinato, um escândalo, etcs), nem tudo gira em torno de um grande acontecimento ou de uma época em particular, certos conflitos e problemas são atemporais. Há sim casos mais datados como a jovem (Lindsay Lohan) que vai se casar com um colega (Elijah Wood) apenas para que ele não vá para a frente de combate (o Vietnã) mas nunca registrados num tom que tentar abarcar toda uma geração em dois personagens. Também não há ênfase no fato, já sabido, que RFK será baleado na ocasião. Se há um grande quadro é apenas do fato de que a morte de RFK representa para Estevez um ponto importante da história americana para os dias de hoje, algo que ele quer retomar do pensamento de um país que ele acha ter morrido junto com Bobby. Estevez apresenta até um lado mítico de Bobby Kennedy que se estava esquecido é retomado com muita eficácia, sem ser nostálgico há uma saudade de RFK, uma ferida por sua partida e ainda não foi cicatrizada totalmente. Algumas histórias vão sendo construídas bem aos poucos que realmente não sabemos exatamente onde isso vai dar (Estevez evita ao máximo que haja grandes acasos para que uma história cruze com outra de forma importante, muitas vezes são meros encontros, mas cada personagem segue uma trajetória individual). Como o tempo do filme é apenas de um dia e há uma grande quantidade de personagens o que se perde um pouco é que cada história seja aprofundada, ainda mais que ele vai construindo tudo calmamente. Isso é um acerto e um erro ao mesmo tempo, um acerto porque se aproxima mais da vida real, não é num dia (um mero dia para alguns) que vá acontecer coisas extremamente significativas ou que se chegue num estado de abertura emocional tremendo que outros filmes forçam para que aconteçam em curto espaço de tempo; um erro pois também o cinema dá essa liberdade narrativa para que se condense passagens e assim o arco dramático fique mais forte. Uns que em pouco tempo conseguem alcançar um fêcho são o do porteiro aposentado (Anthony Hopkins), o cozinheiro (Laurence Fishburne) e um empregado da cozinha (Freddy Rodríguez, talvez o melhor personagem). O resto, de alguma forma, tinham coisas para serem resolvidas ou mais explicadas/exploradas como o triângulo William H. Macy, Sharon Stone e Heather Graham, o encarregado despedido Christian Slater, os assessores políticos Joshua Jackson e Nick Cannon, os jovens Shia LaBeouf e Brian Geraghty com a garçonete Mary Elizabeth Winstead, o traficante de Ashton Kutcher, a telefonista Joy Bryant, o amigo do porteiro Harry Belafonte, a jornalista estrangeira Svetlana Metkina e o outro assistente de cozinha Jacob Vargas. Quase todos têm boas atuações. Quando nos aproximamos do final e todos se unem, de certa forma, Estevez consegue arrebatar seqüências maravilhosas até o final. Usando apenas imagens de RFK de arquivo quando aparece o rosto e um dublê de corpo nas outras cenas impressiona o fato de que realmente parece que RFK e todos aqueles outros atores estão ali. Há então um longo discurso de Bobby sobre as imagens do que ocorre e é tão poderoso que parece proferido dias atrás. Não há como negar que pelo menos em sua meia hora final Estevez conseguiu um dos seus melhores momentos até agora, é emocionante e honesto. Gostaria de saber se nas cenas dos atores ouvindo RFK Estevez botou algum áudio do que RFK dizia na noite em questão para dar mais verdade as caras e concordâncias que os atores fazem. Há apenas 2 créditos ao final que falam do que aconteceu, mais como dados de informação do que uma orientação forçada ao que o filme tenta passar (o que é tão comum). O trabalho de câmera é sóbrio com bastante uso de steadycams e a trilha musical conta com clássicos de Smokey Robinson, Stevie Wonder, The Supremes, Aretha Franklin, The Moody Blues, Marvin Gaye, Simon & Garfunkel e até Demi Moore dá uma canjinha como cantora; a única canção recente é a Never Gonna Break My Faith cantada por Aretha Franklin e Mary J. Blige que toca nos créditos finais com fotos de RFK ilustrando. Nota-se o trabalho de paixão que moveu não só Estevez como todo esse grande elenco. E que Estevez continue sua carreira sem mais essas grandes ausências devido às dificuldades da indústria, com o filme ele tem a prova que muita gente o apoia e Bobby não foi só um projeto com suporte de amigos (e há vários no elenco), mas também a aposta em novos talentos e o trabalho com veteranos. Espero que o filme passa em nossos cinemas pelo menos.


posted by RENATO DOHO 12:25 AM
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