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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

terça-feira, junho 19, 2007
Um Longo Caminho (Qian Li Zou Dan Qi)



Mais um grande filme de Zhang Yimou! Que forma maravilhosa de contar o relacionamento entre duas pessoas, pai e filho, que são bem parecidos no espírito solitário e de pouco conseguirem expressar suas emoções, através das formas mais indiretas possíveis. O que poderia simplesmente ser uma situação resolvida, com algum custo, através de uma conversa, de um contato mais direto, caso fossem outros espíritos e outra cultura no filme as coisas nunca são fáceis assim, há um longo caminho a percorrer. Pai vai visitar o filho doente no hospital após longos anos que os dois não se falam e após a recusa do filho em vê-lo o pai através de uma fita de vídeo descobre algo que pode fazer com que se reconecte ao filho. E Yimou faz isso através da modernidade diante de uma das regiões menos favorecidas das diversas províncias chinesas. Num primeiro momento a viagem à China é uma loucura, algo despropositado que aos poucos vamos entendendo o quanto isso é o caminho mais natural para se chegue ao real sentimento do pai em busca do filho (ambos japoneses). A barreira da linguagem já é um grande empecilho e todos se comunicam melhor por instrumentos como celulares, telefones, vídeos, fotos, apito, máscara, cartas, bandeiras, dicionário... A mediação é a única forma que certos personagens conseguem se abrir emocionalmente, tanto que o pai inveja a forma direta que o ator demonstra estar triste e com saudades do filho. Mas isso nunca é um dificultador das relações humanas, há uma grande compreensão da jornada daquele pai e uma receptividade além das expectativas desse pai pelas pessoas mais simples possíveis. Quando o cinismo atual apontaria os defeitos dessas comunicações indiretas Yimou apresenta um facilitador, não uma necessidade, mas algo possível para alcançar o outro e se fazer entender. Por isso são memoráveis as cenas de mediação como o vídeo do pai para o pessoal do ministério das relações internacionais ou o slide de fotos para os prisioneiros. Nisso podemos pensar não só nas pessoas de diferentes culturas se comunicando, da melhor forma que encontram, como também no próprio cinema, esse canal por onde Yimou (e todos que participaram do filme) nos alcança. O melodrama não pede desculpas, ele aparece e emociona pela sinceridade. As paisagens são de grande beleza e muito adequadas para os estados de espírito dos personagens em determinadas situações como as grandes rochas, os telhados da vila, as estradas sinuosas, etcs. E disse que o pai é feito pelo grande Ken Takakura? Que escolha excelente! Que tributo à esse ator! Os seus silêncios e sua fala que parece emperrada são brilhantes. Consegue transmitir tudo sem dizer nada! É mais um grande feito de Yimou dar esse grande personagem e esse belíssimo filme ao Takakura. No dvd há um making of de 18 minutos, que infelizmente só é legendado em inglês, onde ficamos sabendo que, fora Takakura e a atriz que faz sua nora, todo o resto é um elenco de amadores, de pessoas que nunca atuaram; que o filme também tem seu paralelo com a história contada pois levou um longo caminho para sua feitura; que o clima do set foi muito alegre e emocional; que a assistente de direção é bonita e também teve seus momentos de emoção; que Takakura trabalhou com apenas 4 cineastas estrangeiros e Yimou o fez lembrar bastante de Ridley Scott (o que não deixou de ser uma nota legal para mim); que o garoto que faz Yang Yang realmente é um achado; e que deve ter sido muito foda ter trabalhado neste filme, voltando à bonita assistente, foi "inesquecível".


posted by RENATO DOHO 12:25 AM
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