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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sexta-feira, julho 06, 2007
Big Love - Primeira Temporada



Ótima série da HBO tratando de um tema diferente, a poligamia numa família mórmon. A poligamia foi oficialmente banida dos mórmons há mais de 100 anos, mas a série tenta retratar apenas um grupo ligado à uma comunidade mais radical da religião e ao mesmo tempo que tenta desmistificar a idéia pecaminosa ou idealizada da poligamia (um homem com várias mulheres, fantasia masculina constante) não olha para o outro lado totalmente, mostrando também o sistema patriarcal dominante onde a liberdade, principalmente das jovens mulheres, não é respeitada. A família principal é quase uma dissidente do grupo radical liderado por Roman Grant (Harry Dean Stanton, maravilhoso), o "profeta". Bill Henrickson (Bill Paxton) é um renegado que até se casou com uma não poligamista, Barb (Jeanne Tripplehorn) e com o tempo a convenceu da idéia casando também com Nicolette (Chloë Sevigny) e Margene (Ginnifer Goodwin). Apenas Nicolette fazia parte da comunidade, que aliás é uma das várias filhas de Roman. O começo do seriado serve mais para nós, leigos, irmos percebendo como é o funcionamento dessa família, quais as regras, o que é ou não é, quem é cada esposa e como eles diferem do pessoal da comunidade. E vamos percebendo que não é muito diferente de qualquer outra família, enfrentando os mesmos problemas com leves mudanças. Acaba que os Henricksons lembram muito os Sopranos, pois também são uma família à margem da sociedade, com segredos, uma vida que tenta ser normal no ambiente menos comum possível, mas que preserva acima de tudo a idéia da família como proteção, como ligação eterna. E nessas famílias, em nada exemplares ao ideal americano, é que vemos os melhores retratos familiares da cultura americana. A briga entre Bill e Roman nos negócios domina toda a temporada, com outras subtramas surgindo. Uma das várias qualidades da série é a criação de excelentes personagens combinada com escolhas acertadas de elenco. Basicamente quase todo o elenco convence e nos faz querer saber mais de cada um, o que é muito bom para os roteiristas se quiserem focar em um ou outro personagem em algum episódio. O cenário das três casas funciona muito bem para que a câmera vá livremente de casa a casa, usando muito mais a movimentação da câmera do que vários cortes. Curioso ver Jeanne Tripplehorn como a mais velha, a chefona, quando alguns anos atrás estava nos amassos com Michael Douglas em Instinto Selvagem, se bem que ela já mostrava algo de mais reservada e careta, de mãezona mesmo. Chloë Sevigny que aparece mudada como a mais fechada do grupo, agindo e se vestindo como uma perfeita crente e sendo a mais "masculina", resolvendo todos os problemas mecânicos e físicos da casa. Ginnifer Goodwin é uma revelação e é fascinante, seu jeito ingênuo e dócil conquista e sua interpretação consegue com que ela não soe dodoizinho demais mesmo que fique na linha tênue. É dela uma das cenas mais emocionantes da temporada, o seu batismo. As três quase que são encarnações diferentes de uma mulher, mas esses papéis se complicam cada vez mais conforme as histórias vão se desenrolando. A mãezona desperta o lado sexual de Bill, o consumismo de Nicolette bate de frente com sua eficiência no lar e a doce Margene se mostra questionadora. Outra revelação é Amanda Seyfried que faz Sarah, a filha mais velha de Bill com Barb; adoro quando ela aparece, geralmente junto com sua amiga Heather (Tina Marjorino, que parece a Jena Malone). A Rhonda feita por Daveigh Chase tem potencial para ser mais explorada, sendo ela uma jovenzinha escolhida para ser a próxima nova esposa de Roman. Gostei de ver nos créditos a presença das irmãs Jill e Karen Sprecher, que já realizaram alguns filmes como 13 Visões e Clockwatchers. Elas aparecem como produtoras e escreveram um ou mais episódios. Falando em produção, o homem por detrás da série é, por incrível que pareça, Tom Hanks. Parece até que ele foi por um curto período de vida, logo após nascer, um mórmon. Desperta curiosidade saber se as pessoas por detrás são mórmons ou têm interesse no assunto e o quanto sabem da religião. Há um bom gancho ao término da temporada. A segunda já começou lá fora. A
abertura é muito bonita ao som de God Only Knows dos Beach Boys, tanto que parece que foi feita especialmente para ela. A HBO disponibilizou alguns extras legais para quem acompanha a série como uma visita aos sets, o elenco falando sobre a série, trechos do passado que ajudam a preencher a história como a Nicolette logo após o nascimento do filho, ou quando a Margene teve o primeiro contato com a família, e a decisão de mudar de casa (antes eles viviam todos numa mesma casa), fora áudios de entrevistas com Bill, Jeanne, Chloë e Ginnifer. Uma excelente série para ver e acompanhar.

posted by RENATO DOHO 12:50 AM
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